Ano de São José: um pai que acolhe

Ano de São José: um pai que acolhe

Dando continuidade a nossa reflexão sobre o exemplo paternal de São José, neste mês iremos conhecer “Um pai que acolhe” da nossa série “Com um coração de Pai”, aprofundando a carta apostólica “Patris Corde – Com Coração de Pai” do Papa Francisco por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja. (Clique aqui para acessar a carta na íntegra)

O Papa Francisco afirma que depois de Maria, nenhum santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José. Como protagonista na história, São José nos ensina como podemos sermos mais fieis e confiantes em Deus. Com isso, chegamos a quarta característica da paternidade de José e Pai no Acolhimento – José acolheu Maria sem colocar condições prévias, pois a nobreza do seu coração o faz subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei.
Segundo o Papa, em nossa vida também acontecem coisas que não entendemos e nossa primeira reação é desilusão e revolta, mas José deixa de lado os seus raciocínios e por mais misteriosa que podia ser aquela situação ele assume a sua responsabilidade. Francisco também nos lembra que “todos podem encontrar em São José o homem que passa desapercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo para os momentos difíceis. São José faz lembrar que todos aqueles que estão aparentemente escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação”.

“José não é um homem resignado passivamente. O seu protagonismo é corajoso e forte. O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões”.

Frei Diego, OFM, partilha sua experiência e nos mostra o quanto essa presença sutil no dia a dia das pessoas transforma vidas, acompanhe.

Fotos: Arquivo Pessoal

“Para a sociedade o meu nome é lixo”
Rio de Janeiro, 13 de junho, dia de Santo Antônio, sol forte. 

Enquanto organizávamos as coisas para servir o almoço, no Largo da Carioca, aos irmãos em situação de rua, ouço alguém gritando meu nome ao longe. Um homem se aproxima dizendo forte: “Frei Diego, eu vim até aqui pra te dar isso.” O rosto me é conhecido. De imediato, pergunto o seu nome. Ele me diz: “frei, você quer saber o meu nome para a sociedade ou o meu nome para você?” Lhe respondo que estou lembrando dele, só me falta o nome. Ele dispara: “Frei Diego, para a sociedade o meu nome é lixo, mas para você, o meu nome é Marcos da Silva.” 

Suas palavras fortes machucam e comovem. Naquele instante lembro-me dele, da Tenda Franciscana de SP. Pergunto o que ele estava fazendo aqui no Rio. Orgulhoso, ele confessa: “Frei, quando soube que você tinha vindo para o Rio, decidi vir te procurar para te dar esse presente.” Da mochila velha e rasgada, ele tira e me dá uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Sem palavras e emocionado, percebo que aquele era um encontro forte, com toque divino. “Frei, lembra das vezes que nós conversamos lá em SP? Das vezes que você disse que gostava de fazer caminhada, assim como eu, e que até combinamos de um dia caminhar juntos até Aparecida? Pois é, quando eu soube que você tinha vindo para o Rio, eu decidi vir te agradecer por tudo o que você fez por mim, pelas conversas e pelas vezes que você parava para conversar comigo na fila do almoço. Gastei 8 dias de viagem, entre muita caminhada e algumas poucas caronas. Mas hoje tô realizado porque eu te reencontrei.” 

Frei Diego e o Marcos

Ele começa a chorar e me dá um abraço apertado. Meio sem saber o que pensar ou dizer, sinto um nó na garganta e uma vontade imensa de chorar. 

Digo a ele da minha alegria de tê-lo reencontrado e vê-lo bem. Ele me pergunta: “Gostou, frei? Eu tava feio depois desses dias todos de caminhada. Mas ontem à noite eu cortei o cabelo e fiz a barba para poder te reencontrar.” 

Depois disso, lhe informo que o almoço já seria servido. Ele recusa. Apenas pede 10 reais para chegar até Nova Iguaçu-RJ, de onde começará a sua caminhada de volta a SP. No meio da correria do almoço, despeço-me dele meio que sem saber como retribuir tamanha demonstração de carinho e afeto. A sensação de que sou tão pequeno diante da grandiosidade daquele homem toma conta de mim.

Depois desse encontro, fiquei pensando o quanto um pouco de atenção pode tocar profundamente a vida das pessoas. Dei-me conta, mais do que nunca, de que a Tenda Franciscana não distribui apenas quentinhas. Entendi que a fome de atenção, carinho e empatia talvez incomode mais do que a falta de comida. 

Por isso, compartilho essa experiência tão forte e intensa com todos (as) que com o Sefras e a Província Franciscana tem saciado a fome de tanta gente. Aos Frades, irmãs, voluntários (as), trabalhadores, benfeitores e doadores, e principalmente aos irmãos e irmãs que estão nas ruas, só posso dizer que juntos, nessa grande rede de Solidariedade, estamos descobrindo um novo jeito de ser e estar no mundo. O reconhecimento do Marcos não foi só para mim, mas para todos nós. No fundo, somos apenas instrumentos de um amor muito maior do que nós, o amor de Deus. 

Na verdade, todos estamos com muita fome: alguns de pão, outros de amor e outros de atenção. Queira Deus que possamos continuar partilhando dessa mesma mesa da solidariedade de onde todos saem saciados.

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil (cf. 1 Cor 1, 27), é «pai dos órfãos e defensor das viúvas» (Sal 68, 6) e manda amar o forasteiro.[20] Posso imaginar ter sido do procedimento de José que Jesus tirou inspiração para a parábola do filho pródigo e do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32).

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Ano de São José: O coração de um pai trabalhador
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Por Valesca Montenegro  – da redação Jovens Conectados

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