Jovens se interessam pela bioética

Jovens se interessam pela bioética

O encontro chamou a atenção pela grande participação de jovens interessados pelo tema, como o médico cirurgião vascular Fábio Augusto, engajado no Setor Juventude da Arquidiocese de Campo Grande (MS), recentemente convidado para representar a Comissão Episcopal Pastoral para Juventude junto à Comissão de bioética da CNBB.

“Como médico, sempre temos que humanizar o nosso tipo de atendimento. É preciso considerar o ser humano como um todo, bio-psico-social e espiritual, não focando-o apenas como um objeto de estudo em que médico trata um determinada doença sem avaliar o contexto geral do indivíduo na comunidade”, destacou.

Fábio explicou que, sobretudo dentro do contexto de preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, no Rio de Janeiro, é preciso refletir sobre essas questões relacionadas à defesa da vida e a bioética em geral.

“Estamos em uma realidade pós-modernista na qual a preocupação do jovem é o consumo imediato e o prazer momentâneo. O que buscamos apresentar para o jovem é que é preciso valorizar o ser humano como um ser individual e, ao mesmo tempo, valorizar o outro”, afirmou.

Um dos conferencistas do simpósio foi o padre Luiz Antonio Bento, pós-doutor em bioética, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família e coordenador da Comissão de Bioética da CNBB. Ele tratou dos critérios éticos ligados às pesquisas com seres humanos, tomando como exemplo os experimentos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.

De acordo com o padre, esses experimentos “foram conduzidos sem o consentimento de seus participantes, causaram dor sofrimento e mortes desnecessárias; ausência de benefícios para os indivíduos; falta de justificativa científica adequada”.

De acordo com o padre Bento, a eugenia –  melhoramento genético de indivíduos – e seus ideais não morreram com o fim da 2ª Guerra. “De fato, ainda hoje o ser humano vem sendo, seguidamente, objeto de pesquisas em muitos aspectos da sua realidade sem que, em muitos casos, sejam avaliadas as implicações éticas”, afirmou o padre, recordando a recente liberação do uso de células-tronco embrionárias no Brasil.

Já o padre Leo Pessini, professor e doutor do Centro Universitário São Camilo, membro da Câmara Técnica sobre Terminalidade da Vida e Cuidados Paliativos do Conselho Federal de Medicina, falou sobre “o consentimento livre e esclarecido nas pesquisas em seres humanos”.

“No coração da pesquisa em seres humanos, falar em ética é falar justamente da questão do consentimento livre e esclarecido”, destacou padre Leo, acrescentando que para que esse consentimento aconteça é preciso que haja “capacidade legal do sujeito, informação correta, compreensão da informação, autonomia ou voluntariedade do paciente e a concordância propriamente dita mediante um documento formal”.

Ao falar da reprodução assistida e a legislação sobre o tema, a médica Ieda Therezinha do Nascimento Verreschi, mestra em farmacologia e também membro da Comissão de Bioética da CNBB, ressaltou a possibilidade ou até a necessidade de que o profissional exerça “objeção de consciência”.

Para ela, o médico diante de uma situação, que mesmo respaldada pela lei, tem a liberdade de optar por não prosseguir o procedimento ou orientar o paciente a seguir por outro caminho, sobretudo no que diz respeito a experimentos que suponham o descarte de embriões ou a tentativa de fecundações e muitos óvulos na mesma pessoa, causando excessivo sofrimento à mulher.

Ieda deixou claro que não se deve pregar uma “desobediência civil” da parte do profissional. “Mas temos que pregar uma liberdade de consciência”, completou.

Jovens conscientes

A enfermeira Pollyana Oliveira Lira é mestranda em Bioética. Para ela, que atua em uma unidade de terapia intensiva (UTI), é muito importante aprofundar discussões como essa. “Dentro da UTI eu vejo o quanto a técnica fala mais alto do que o próprio ser humano. Nesses momentos paramos pra refletir que a tecnologia está a serviço do ser humano e não o posto”.

O médico residente Nuno Henrique dos Santos ressaltou que no meio acadêmico das ciências há uma tendência muito grande de se instrumentalizar o ser humano. “Há cientistas que não se preocupam em usar vidas humanas, como é o caso das pesquisas com células-tronco embrionárias, para se alcançar a cura de uma determinada doença. A vida humana é um fim, não um mero meio, instrumento”.

Para Padre Bento, esse simpósio proporcionou um debate importante para toda a sociedade, uma vez que este tema não diz respeito apenas a uma disciplina. “A temática da bioética perpassa todas as disciplinas. Pois a bioética é aquela que vai determinar parâmetros para a ação humana. Até onde o homem pode agir sem agredir o ser humano”, explicou.

O que é bioética?

A palavra bioética tem se tornado cada vez mais comum na vida da sociedade, em especial nos ambientes eclesiais. Um tema que anteriormente era mais conhecido no mundo acadêmico, agora faz parte de encontros, formações, debates e até retiros, atraindo, por isso, o interesse de muitos jovens.

Tomando uma definição formal, bioética (do grego: bios, vida + ethos, relativo à ética) é o estudo transdisciplinar entre biologia, medicina, filosofia (ética) e direito (biodireito) que investiga as condições necessárias para uma administração responsável da vida humana, animal e responsabilidade ambiental.

Considera, portanto, questões onde não existe consenso moral como a fertilização in vitro, o aborto, a clonagem, a eutanásia, os transgênicos e as pesquisas com células-tronco, bem como a responsabilidade moral de cientistas em suas pesquisas e suas aplicações, como discussões próprias para do campo da Bioética.

“As pessoas ainda não têm claro o que faz um profissional da área da bioética e o quanto é necessária a discussão desse tema, até para sabermos como podemos ser multiplicadores desse conhecimento na sociedade”, afirmou a jovem Jurema Otaviano, tecnóloga em radiologia e mestranda em bioética.

“Eu definiria a bioética como um grito, um brado forte pela dignidade humana e por mais qualidade e vida, desde o nível individual, pessoal ou até ao nível social, coletivos em todos os âmbitos da vida”, afirmou o padre Léo Pessini.

Saiba mais sobre a Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família, da CNBB

Por Fernando Geronazzo

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