Falei da urgência de darmos valor ao jovem marginalizado pela violência, diz Walmyr Jr. sobre discurso ao papa

Falei da urgência de darmos valor ao jovem marginalizado pela violência, diz Walmyr Jr. sobre discurso ao papa


O jovem Walmyr Júnior (28) foi o escolhido para representar a sociedade civil no encontro com o papa Francisco no Teatro Nacional (vídeo) em 27 de julho. Historiador, membro da Pastoral da Juventude e morador do Complexo da Maré na Zona Norte do Rio, ele conta, quase um mês depois, como foi a experiência e partilha desafios e utopias da juventude. Confira:

– Como foi para você como jovem representar toda a sociedade civil brasileira no discurso diante do papa?
Foi uma experiência impar né, por que diante de tantos jovens que poderiam ter feito esse testemunho eu fui o escolhido, então me senti da obrigação de dar bem o recado. Além do medo de tal responsabilidade. Estar ali na frente do mundo foi incrível, foi uma mistura de sentimentos que vai ficar marcada para sempre na minha vida.

– Como preparou o discurso? Qual mensagem você quis transmitir?
Quis transmitir uma mensagem de valorização da vida, pois somos chamados a testemunhar a avida em abundância … por isso falei da urgência de darmos valor a esse jovem marginalizado pela violência que não tem amor à sua vida e de fato nem sabe o que é viver. Mas, não era para menos. Essa juventude não pode e possivelmente demorará para experimentar o que de fato é o amor, acredito que depende de mim e de você transmitir o amor e o valor que a vida tem. Quanto ao discurso, foi preparado com muitas mãos rsrs, eu perguntei a alguns jovens pelo facebook se eles gostariam de falar com o papa e o que eles falariam se estivesse com eles. Claro que com muito sigilo fui guardando alguns relatos e comentários e com isso somei a minha experiência como jovens de periferia e com as experiências adquiridas com a militância na Pastoral da Juventude fui construindo o discurso.

– Você também trabalhou na JMJ voluntário desde o início das preparações. Qual sua avaliação desse evento dentro do contexto da Pastoral Juvenil? O que esperar do pós-JMJ?
Olha não gosto de eventos de massas, não podemos esperar muita coisa deles, exceto a euforia e êxtase da juventude que gerou no coração de muitos e claro que borbulham essa mesma animação nas nossas paróquias. Nossa preocupação é encaminhar essa juventude PARA um processo dentro da vida comunitária. Processo de formação acerca de um projeto de vida e de uma formação integral. Isso será uma boa estratégia para dar conta dessa galera que se encanta e desencanta com muita facilidade.

– Você também recebeu o convite para ser colunista de um jornal do Rio. O que pretende abordar nesse espaço para dar voz ao jovem e como avalia essa oportunidade?
Esse momento da história do Brasil é muito importante para nós jovens. Essa coluna no Jornal do Brasil está servindo para que o nosso grito por uma sociedade mais justa e solidária, possa ecoar. A responsabilidade é grande mas aceitei o convite acreditando na utopia que nos leva a anunciar o amor ao Projeto de Jesus a todos os cantos. Confira o último artigo de Júnior.

– Como foi a conversa com o papa, longe dos microfones?
Bem, eu estava chorando muito, fiquei mega emocionado, mas ele agradeceu pelo testemunho e depois apresentei uma foto da minha família, claro pedindo que ele abençoasse a todos !!!

– Como foi o evento da Adveniat durante a JMJ? O que foi discutido? Como foi sua intervenção?
Esse evento foi muito legal, possibilitou discutir sobre a violência no Rio de Janeiro. Estive na mesa com Dom Flávio, bispo de Santarém e o papo foi descontraído mas apontando os caminhos marcados com muita dor que nossa Juventude passa. Foram duas visões com olhares geográficos diferentes mas com muita afinação pautamos os direitos humanos que de fato devem ser direitos para a juventude.

– Quais são os principais problemas/desafios que você vive em seu dia-a-dia como jovem? Quais os principais desafios da juventude brasileira em geral, na sua opinião?
A violência. Mas ela não se resume somente no jovem que está sendo assassinado, mas também no jovem pobre e negro, que sou, que tenho difícil acesso à educação, à moradia de qualidade, à mobilidade, ao transporte, à cultura e por aí vai… são direitos  básicos que infelizmente são encarados como desafios para que eu tenha uma vida tranquila, com dignidade e qualidade.

– Em que medida o Estatuto da Juventude pode garantir mais direitos para jovens brasileiros? A gestão de políticas públicas para a juventude tende a ser mais eficaz? Qual sua opinião?
Temos agora uma lei, um estatuto, e isso é o ponta pé inicial para reivindicar o que é nosso por direitos. Temos o compromisso de acompanhar o poder executivo e fazer uso do poder legislativo e judiciário para fiscalizar o cumprimento dessas leis.  Nós Jovens estamos na rua, e como o Papa Francisco disse temos que protestar por um novo mundo para agradarmos o Papa rsrs Com a aprovação do Estatuto temos uma legitimidade para pautar uma luta acertada, sem devaneios, mas com coerência.

– Como a experiência de ser Igreja e fazer parte da Pastoral da Juventude ajudam em sua relação com a sociedade?
A PJ tem como metodologia de trabalho a preocupação com a formação integral do jovem, ou seja, a formação humana, social, coletiva, ambiental e espiritual. Somos chamados a sermos cidadãos e como cidadãos dar testemunho do Cristo. É tendo referência do projeto de vida de Jesus de Nazaré que vou adentrando na vida em sociedade, pois com eles temos valores e uma prática de amor mútuo aonde quer que estejamos.

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