Celebração da Ceia do Senhor

Celebração da Ceia do Senhor

imageEx 12,1-8.11-14; Sl 115(116B); 1Cor 11,23-21; Jo 13,1-15

1. Meus irmãos,

com a celebração de hoje inicia-se o chamado Tríduo Pascal, composto de três celebrações, a saber: a missa da Ceia do Senhor, a Celebração da Paixão e a missa da Vigília Pascal, no Sábado Santo. Estas três celebrações formam uma unidade, o Tríduo Sacro ou Tríduo Pascal, e constituem o centro da vida de fé das Comunidades cristãs e do Ano litúrgico. Com o Tríduo Pascal se celebra a redenção da humanidade e a glorificação de Deus realizada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo: Ele, com a Sua morte livre e voluntária destruiu a nossa morte e, com a Sua ressurreição, renovou a nossa vida. Com o Tríduo Pascal, as comunidades cristãs atualizam assim o mistério da Páscoa de Cristo, que é nossa também.

2. A palavra “páscoa” é muito cara ao Povo de Deus. A palavra “páscoa” significa “passagem”. O Povo de Israel , no Antigo Testamento, viveu o êxodo do Egito e, assim, fez a passagem da escravidão para a terra prometida pela ação de Deus. O Povo do Antigo Testamento experimentou a mão forte de Deus que o libertou da escravidão e da idolatria do faraó do Egito, e o conduziu para a terra prometida, onde já não mais teria de adorar o faraó, mas o Deus vivo que os libertou. A Páscoa do Antigo Testamento foi a preparação para a Páscoa mais profunda que Jesus, o Filho de Deus, realizou. Com a Sua morte e ressurreição, Jesus passou desta vida para o Pai, passou da morte para a vida e, assim, restaurou a humanidade por dentro, conquistando-nos o perdão dos pecados, e nos abrindo as portas para a vida eterna. Esta é a Páscoa dos cristãos: Jesus fez a Sua passagem deste mundo para o Pai, fez de Sua vida uma oblação para o perdão dos nossos pecados e, ressuscitado, nos abriu as portas para a vida eterna.

3. Jesus entrou em Jerusalém pela época da Páscoa dos judeus. A primeira leitura fala da instituição da celebração da primeira Páscoa, a Páscoa dos judeus, a qual era celebrada anualmente [como ouvimos]: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que haveis de celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua” (v. 14) Foi durante a Ceia pascal da primeira Aliança, ceando com os Apóstolos, que Jesus selou a Nova Aliança com a humanidade, antecipando o Seu sacrifício, que ocorreria, no dia seguinte, no altar da cruz.

4. Durante a Ceia de Páscoa, como ouvimos na 2.ª leitura, Jesus tomou o pão da mesa e disse: “Este é o meu corpo que é dado por vós” (v. 24). Ao fim da Ceia, ele tomou cálice com vinho e disse: “Este é o cálice da Nova Aliança, em meu sangue” (v. 25). Notem, meus irmãos, que Seu corpo e sangue, um dia antes de morrer para a nossa salvação, estavam na mesa da última Ceia. Assim, na última Ceia, Jesus antecipou o sacrifício da cruz, e fez com que os Seus Apóstolos se tornassem os prolongadores de sua missão redentora.

5. Neste gesto – a Última Ceia de Jesus com Seus Apóstolos, a Igreja identifica a instituição de dois Sacramentos, a Eucaristia e o Sacerdócio, especialmente, quando Jesus disse: “Fazei isto em memória de mim” (vv. 24.25). É por este motivo que todos os Bispos diocesanos do mundo, durante a Semana Santa, de preferência na 5.ª feira santa, reúnem os seus padres para a “Missa do Crisma”, popularmente chamada “Missa dos SS. Óleos”, recordando a Última Ceia de Jesus, para, junto com os seus padres, renovarem os promessas sacerdotais. Nesta Missa são também abençoados os óleos do Batismo, da Crisma e dos Enfermos, com os quais serão conferidos os Sacramentos durante o Ano litúrgico.

6. Na Última Ceia, Jesus disse:“Fazei isto em memória de mim”. Assim, Jesus instituiu os Sacramentos da Eucaristia e do Sacerdócio, intimamente relacionados entre si, pois os Sacerdotes da Nova Aliança, os Bispos e os Padres, são aqueles que presidem a Eucaristia em favor de todo o Povo de Deus, para que o sacrifício de Cristo seja atualizado onde cada missa for celebrada, até a Páscoa definitiva, no fim dos tempos.

7. Jesus é o Sacerdote único e eterno da Nova Aliança. Os Bispos e os Padres participam do Sacerdócio único de Cristo, atualizando a Sua presença salvadora até o fim dos tempos, pois Ele disse que só voltaria a comer esta páscoa quando ela se cumprir no Reino de Deus (cf. Lc 22, 17). É por isso que S. Paulo, assim concluiu o relato da Eucaristia [que ouvimos]: “Toda as vezes (…) que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor até que ele venha” (v. 26). Nesta perspectiva, S. Tomás de Aquino escreveu sobre a Eucaristia:“A Eucaristia é o memorial perene da Paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança é o maior de todos os milagres que Cristo realizou. É ainda singular conforto que Ele deixou para os que se entristecem com sua ausência”. A Eucaristia é, portanto, a presença de Cristo, na Sua Igreja, na alegre esperança de Sua volta.

8. Durante a Ceia, Jesus lavou os pés dos Apóstolos. Ao terminar, Jesus disse: “Compreendeis o que acabo de fazer? Vós me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos laveis os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (vv. 12-15). O gesto de lava-pés antecipa o Seu sacrifício da cruz, a maior prova de amor de Deus pela humanidade, o ato supremo de serviço para a nossa redenção. O lava-pés prepara a cruz de Cristo, confirma todo o bem que Ele fez na sua vida pública, antecipa o sacrifício da cruz, e nos ajuda a perceber que se deve carregar a cruz todos os dias (cf. Lc 9, 23). O gesto do lava-pés está unido à Eucaristia. Quem entra em comunhão com Cristo há de viver em comunhão com os irmãos, e esta comunhão há de ter consequências em nossa convivência e em nossa sociedade. O Papa João Paulo II disse a este respeito: “Anunciar a morte do Senhor, até que Ele venha (1Cor 11,26) inclui, para os que participam na Eucaristia, o compromisso de transformarem a vida, de tal forma que esta se torne, de certo modo, toda ‘eucarística’” (Carta Enc. Ecclesia de Eucharistia, n. 20). Assim, Jesus disse que deu o exemplo, e pede que façamos a mesma coisa. Na mesma Ceia em que lava os pés, Jesus institui a Eucaristia, memorial de sua paixão e de nossa redenção. Receber o Corpo e o Sangue de Jesus é entrar em comunhão com Ele, para que possamos amar como Ele ama. Assim, Jesus não apenas dá o exemplo, mas nos dá a força da redenção, nos perdoa os pecados, nos tira as culpas, nos restaura a partir de dentro, para que possamos amar plenamente, com coragem e com eficácia.

9. Na comunhão, Jesus nós dá a força para amar. Notem como a caridade e a Eucaristia estão intimamente unidas: quem comunga no altar deve viver a comunhão na vida. É por isso que na Última Ceia Jesus disse:“amai-vos uns aos outros. Assim como eu vos, amai-vos uns aos outros. Se vós tiverdes amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vós sois meus discípulos” (Jo 13, 35).

10. Assim, meus irmãos, com esta celebração da Ceia do Senhor iniciamos o Tríduo Pascal. A Celebração da Ceia do Senhor é como que a despedida de Jesus, na qual Ele faz o Seu último pedido: que nos amemos por amor de Deus. E nesta Ceia, Ele instituiu a Eucaristia, para nos dar força para amar. E ao instituir a Eucaristia, instituiu também o Sacerdócio Apostólico dos Bispos e Padres, para que presidam a Eucaristia e, com o seu ministério, tornem o mundo mais eucarístico, mais fraterno, mais generoso. Ao iniciarmos hoje o Tríduo Pascal com esta Celebração festiva, temos à frente a Páscoa de Jesus, atualizada em cada Missa que participamos. E em cada Missa, e hoje especialmente, manifestamos a nossa disposição de viver a comunhão do altar nas nossas vidas, de lavar os pés uns dos outros, de amar como Jesus ama, para que a salvação por Ele realizada, e antecipada na última Ceia, que hoje recordamos, seja cada vez melhor acolhida e vivida. E, assim, que a Salvação que o Cristo nos oferece se estenda a toda a terra, na alegre esperança de Sua volta. Amém!

 

V. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Por padre Ari Ribeiro – Doutor em Teologia, pároco da paróquia São Galvão, coordenador da catequese da Diocese de Santo Amaro (SP), membro da Equipe Regional do Ensino Religioso – Regional Sul 1 da CNBB.

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