Pastoral Juvenil hoje para os jovens de hoje – PARTE 1

Pastoral Juvenil hoje para os jovens de hoje – PARTE 1

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Introdução

No Sínodo da juventude realizado em outubro de 2018, na sua abertura o Papa Francisco fala da importância do discernimento. O discernimento é fundamental para uma Pastoral Juvenil que responda aos anseios das juventudes hodierna. A abertura ao discernimento somos levados a abrir-nos à novidade, a ter a coragem de sair, a resistir à tentação de reduzir o novo ao já conhecido. O discernimento enraíza-se num ato de fé em Deus, que é o Senhor da história e a conduz com a misteriosa e vivificante presença do seu Espírito. 

O discernimento é, portanto, antes de tudo a escuta de Deus e da sua palavra, dos jovens e de seus apelos, da experiência da Igreja. A Pastoral Juvenil hoje para os jovens de hoje vive num profundo discernimento para não perder nada daquilo que as juventudes falam. 

O discernimento na Pastoral Juvenil torna-se, assim, instrumento pastoral, capaz de individuar os caminhos a percorrer, propondo para os jovens de hoje caminhos e itinerários possíveis de serem vividos e oferecendo orientações e sugestões adequadas para a missão. Dessa forma a Pastoral Juvenil hoje para os jovens de hoje quer trilhar o caminho proposto pelo Sínodo: Reconhecer, Interpretar e Escolher. 

Também o Evangelli gaudium, n. 51 aponta esse caminho como itinerário de renovação. Esses três caminhos (passos) que vamos percorrer nos ajudará aproximar mais da vida dos jovens de hoje.

Reconhecer: O primeiro passo é olhar e escutar. Trata-se de compreender não só com a nossa inteligência, mas sobretudo com o coração capaz de compaixão evangélica, escuta empática e olhar misericordioso (cf. Lc 7,13;10,33;15,20; Mt 9,36). Esse primeiro passo exige que se dê atenção à realidade dos jovens de hoje, na diversidade de condições e contextos em que vivem. Exige humildade e proximidade, a fim de que podemos sintonizar e perceber quais são as sua alegrias e as suas esperanças, as suas angústias e os seus sofrimentos. Suas vozes, colhidas em nossas dioceses ressoam em nossos corações. O mesmo olhar e a mesma escuta, cheios de solicitudes e de atenção, voltam-se para o que é vivido em nossas paróquias e comunidades. 

Interpretar: O segundo passo é aprofundar à luz da palavra de Deus, o que foi reconhecido através do recurso e critério de interpretação e avaliação. Interpretar os anseios dos jovens manifestado nas escutas. Mergulhar nas causas que levam os jovens a perderem o sentido de viver. 

Escolher: Somente deixando-se iluminar pela vocação aceita é possível compreender quais passos que o Espírito nos chama a dar e em que direção nos mover para responder o seu chamado. Nesse passo, ‘discernimento’ significa colocar em ordem os meios, a partir da escolha dos mais adequados. Com essa intensão é preciso examinar atitudes, processos e estruturas, e cultivar a liberdade interior necessária para escolher os que nos permitem seguir o Espírito e abandonar os que se revelam menos capazes de alcançar a finalidade. Esse passo nos moverá a ter atitudes de intervenção para mudar nossas praxes pastorais, para não correr o risco de cristalizar-se. 

Nessa mudança de época, o Espírito Santo está levando a Igreja ao rejuvenescimento. O caminho sinodal dos últimos três anos despertou entusiasmo, restaurou a confiança e abriu novas maneiras de educar e evangelizar os jovens. Assim, poderemos ser uma Pastoral Juvenil autêntica que responde os anseios dos jovens de hoje.

PASSO I: RECONHECER

  • O mundo juvenil e atualidade

O Sínodo nos aponta que a maioria dos países do mundo, os jovens são um elemento numericamente significativo para a sociedade. Em algumas áreas do planeta com taxa elevada de natalidade, eles representam uma parcela significativa e crescente da população, mas nem sempre têm à disposição estruturas educativas adequadas e oportunidades efetivas de crescimento e desenvolvimento. Em outros países, assistimos a um declínio demográfico que torna menos significativo a importância dos jovens na sociedade. 

Muitos jovens no mundo, em especial no Brasil, vivem em situação de pobreza e miséria devido a desigualdade sociais e políticas iníquas de opressão. São muitas crianças, adolescentes e jovens a emigrar de suas terras, numerosos refugiados e desalojados. Outros, como jovens indígenas, vivem em situação difíceis, às vezes até dentro de suas culturas, e correm o risco de serem oprimidos e excluídos. Em outros contextos, encontramos, em vez disso, jovens econômica e socialmente ricos que vivem, no entanto, uma crescente insatisfação pessoal, causada por muitos fatores, entre os quais emergem a desintegração das famílias e a falta de adultos significativos.  Em geral, os jovens no mundo vivem excluídos dos circuitos de tomada de decisões do mundo adulto, que não os envolvem e decide sobre eles sem eles. Muitas vezes os próprios jovens dizem que, os adultos não conhecem o mundo deles. Eles convidam os adultos para uma maior abertura. 

Tratando das pobrezas juvenis, na Evangelii Gaudium, O Papa Francisco declara: “Desejo afirmar, com mágoa, que a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária “(n. 200). Olhemos para esse cenário mundial, em especial os jovens pobres de nosso Brasil, sentindo-nos profundamente interpelados pelas palavras do Evangelho: “Viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor”(mc 6,34).

  • Cultura Juvenil – conhecimento

O ambiente digital caracteriza o mundo contemporâneo e já constitui para muitos jovens um habitat natural, que modifica a maneira de chegar ao conhecimento, instaurar relacionamentos e perceber a realidade. Para nós adultos (assessores e acompanhantes) que trabalhamos com juventudes, é uma nova terra missionária. Web e redes sociais são uma realidade com dupla face: lugar de encontro e comunicação, mais também de solidão e manipulação. Eles pedem um pacto educativo e evangelizador como disse o Papa Francisco. 

A sensibilidade às questões ecológicas e à sustentabilidade ambiental é forte e generalizada. Nesse contexto, como em outras questões sociais (justiça, solidariedade, cidadania ativa), os jovens geralmente se mostram capazes de se comprometer. Ao lado de jovens que estão decepcionados ou desinteressados, há outros que estão muito disponíveis ao serviço do voluntariado. 

Outra característica emergente da cultura juvenil diz respeito à área do corpo, da afetividade e da sexualidade. As transformações da cultura afetiva colocam novas questões nos níveis antropológico, ético e educativo, que não podemos subestimar. Os jovens são particularmente sensíveis ao papel das mulheres na Igreja e na sociedade. 

  • Os jovens e a fé 

A relação dos jovens com a religião é profundamente influenciada pelo contexto cultural, social e religioso. Em alguns países, a fé cristã é uma experiência vital compartilhada, que os jovens assumem com facilidade desde da infância. Em outros contextos, a indiferença religiosa e a secularização levam à perda de significado e relevância da fé. O efeito negativo dos escândalos também aumenta a distância entre os jovens e a Igreja, dificultando um anúncio credível. Nessas regiões, muitos educadores evangelizadores experimentam uma desorientação considerável e não se sentem preparados para enfrentar desafios inéditos para a transmissão da fé. Não devem ser esquecidas as regiões aonde os jovens cristãos são uma pequena minoria, às vezes discriminadas ou perseguidas. De qualquer forma, o contato com os jovens mostra que, em geral, são vivos, embora nem sempre evidentes, a busca do sentido da vida e o interesse pela espiritualidade, e a isso nem sempre sabemos responder. Os jovens em busca de Deus  nem sempre encontra espaço e pessoas para acompanhá-los. 

  • As expectativas dos jovens

Os jovens manifestam de várias formas o desejo de terem adultos significativos, que não os explorem ou excluam de fato da vida e da sociedade em suas diversas articulações (política, religiosa, educacional, etc). Eles pedem a nós assessores e acompanhantes para estarmos mais com eles; a encontrá-los onde estão (pátio digital, etc). 

Os jovens querem que os bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas sejam mais guias espirituais e menos gestores de estruturas e ajudem com sabedoria a responder às questões mais profundas que carregam em seu corações: “Também os jovens de hoje nos dizem de muitas maneiras: “Queremos ver Jesus”(Jo 12,21), manifestando assim aquela sã inquietação que caracteriza o coração de cada ser humano: “A inquietação da investigação espiritual, a inquietação do encontro com Deus, a inquietação do amor””(documento final do Sínodo, n. 50). 

Eles querem que sejamos próximos e acolhedores, abertos e sem preconceitos, prontos a estabelecer relações autênticas de amizade e capazes de irradiar alegria e otimismo. Nesse sentido, torna-se particularmente importante a dimensão da coerência e do testemunho pessoal e comunitário de vida.

  • O acompanhamento dos jovens

No mundo atual onde há uma possibilidade maior de escolha o Papa Francisco fala da importância de intensificar o acompanhamento: “…o acompanhamento constitui um serviço cuja necessidade é amplamente sentida. Estar presente, apoiar e acompanhar o itinerário de escolhas autênticas é, para a Igreja, uma forma de exercer a sua função materna de gerar os filhos de Deus para a liberdade ( Documento final do Sínodo dos jovens, n. 91). O processo de acompanhamento  acontece com a pessoa física ou grupos. Para isso, a Igreja indica algumas pessoas, como: Pais de família, Sacerdotes, Religiosos/as, professores, assessores, porém se faz necessário que todos tragam dentro de si a vocação de acompanhar e sejam pessoas íntegras para não ferir os jovens com contra testemunhas. 

O Documento 85 –Evangelização da juventude na sua quinta linha de ação (Doc 85, pg. 48s), fala da importância das estruturas de acompanhamentos nos processos de acompanhamento dos adolescentes e jovens das dioceses do Brasil. O processo de acompanhamento ajuda os jovens a se desenvolver integralmente. O acompanhamento favorece que o Projeto de Vida dos jovens seja pautado pela dimensão humana e espiritual. 

Por Pe. Antônio Ramos do Prado, sdb – Assessor Externo da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

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