Padre Paolino, uma vida de entrega aos acreanos

Padre Paolino, uma vida de entrega aos acreanos

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Quando encontrou no final de agosto com os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Sena Madureira, cidade a 140 quilômetros de Rio Branco que escolheu para sua ação pastoral já há 44 anos, ele disse estar preocupado com as drogas por deixar os jovens sem perspectivas. Mas não perde as esperanças. “A força da Igreja, da família e da sociedade são os jovens”.

Ao chegar em Sena Madureira, a cidade tinha 1800 habitantes, a maioria seringueiros que passavam meses na floresta para conseguir o látex. E lá foi ele atrás de seus paroquianos. Trabalhava com eles, evangelizava lá e ajudou a construir quase 100 escolas. 

“Fazia longas viagens, com muita doença. O meio de evangelizar os seringueiros era com escolas nas margens dos rios e dentro das florestas”, disse o padre italiano. Os pais dos alunos davam um dia de trabalho para ajudar a construir as escolas.

Mas os donos dos seringais não ajudavam, pois não queriam seus trabalhadores sabendo ler, escrever e calcular. Eles temiam que os seringueiros compreendessem que eram explorados.

pe_paolino_simbolos_jmjÍndios
“Fiz escolas para os seringueiros e os índios disseram que não gostava deles”. Isso porque não tinha ajudado a construir escolas para as tribos. O padre justificou que, como a maioria das etnias era nômade, era difícil construir um local para estudar. Os índios decidiriam ficar mais fixos em aldeias para que também pudessem ganhar escolas. Ele ajudou as etnias Kulina, Kaxinawá, Manxinéri e Shanenawa. Junto com os índios escreveu o primeiro dicionário Kulina-Português, além de codificar as lendas daqueles povos.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) impediu que ele continuasse o trabalho com as etnias indígenas. Segundo a entidade, a ajuda aos índios a plantar e a criar gado alterava a relação deles com a natureza. De acordo com o padre Paolino, ele atendia a pedido dos índios.

Ele contou que comerciantes chegavam nas aldeias em busca das vacas e trocavam os animais por uma mistura de álcool de cozinha, com água, açúcar e suco em pó. Assim, podiam tornar a população indígena dependente e mais manipulável.

Durante a ditadura militar, padre Paulino foi perseguido pelos seringalistas porque denunciava os maus tratos e a exploração sofridos pelos seringueiros. Eles exploraram um boato que ele estaria formando uma guerrilha para combater os militares.

Médico da Floresta
Atualmente, o padre é mais conhecido por atender gratuitamente milhares de pessoas de Sena Madureira com receitas caseiras para diferentes tipos de doenças. Conhecido como médico da floresta, padre Paolino aprendeu com os seringueiros a tratar, com plantas locais, de males como malária ou pressão alta. Hoje ele é doutor honoris causa pela Universidade Federal do Acre (UFAC) para poder atuar livremente.

Com uma vida toda dedicada ao povo acreano, padre Paolino ainda teve chance de ver a peregrinação da Cruz e do Ícone de Maria em sua paróquia e deixar aos jovens de Sena Madureira o exemplo e testemunho de doação pelos irmãos. “Continuo fazendo meu trabalho de formiguinha”, disse, com humildade.

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