“Onde estão os jovens?”

“Onde estão os jovens?”

por Dom Gilson Andrade

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Foto: Ansa.

Chamou-me a atenção a notícia recente de uma dessas atitudes surpreendentes do Papa Francisco quando, por ocasião do jubileu dos adolescentes, apareceu na Praça de São Pedro, no dia 23 de abril, para ouvir confissões dos jovens que ali se encontravam. Esta atitude fez-me pensar nos gestos ousados que precisamos estrear todos os dias se, de fato, quisermos encontrar os jovens.

Talvez sejamos capazes de fazer tantas análises sociológicas e filosóficas, tentando justificar a escassez da presença da juventude em nossas Igrejas, mas será que cremos na força dos gestos ousados que nos aproximam da realidade deles em meio a todos os desafios?

Não quero com isso dizer que não haja valor em tantas pesquisas, mas simplesmente preciso recordar que os gestos concretos podem realizar obras estupendas. Quando lembramos os gestos, por exemplo, da Beata Dulce dos Pobres, vemos que ela encontrava nos desafios, oportunidades para ações concretas. Na maioria das vezes eram gestos aparentemente sem transcendência, mas que com o passar do tempo assumiram uma proporção que ela jamais teria podido imaginar relativamente ao testemunho de Cristo perante as pessoas do nosso tempo, mergulhados na “globalização da indiferença”.

O Papa João Paulo II foi um grande exemplo de gestos inspirados e sustentados pela fé e capazes de alcançar uma transcendência incrível. Lembremos a sua coragem e determinação ao aproximar-se dos jovens durante os anos da chamada “cortina de ferro”, no leste Europeu, quando um sistema desumano impunha uma única forma de pensar, contrária aos princípios básicos da fé cristã e de uma sadia antropologia. Naqueles anos dolorosos ele teve a ousadia de reunir jovens para conversar com eles, ouvir suas perguntas e iluminá-los com a luz do Evangelho. E quando Papa, ampliou seu raio de alcance, reunindo jovens de todo o mundo nas Jornadas Mundiais da Juventude. Foi assim que nos anos de seu pontificado conseguiu atrair multidões de jovens para Cristo e, no final da sua vida, foi acompanhado por aqueles mesmos que com ele aprenderam a reconhecer Cristo.

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Foto: Arquivo.

Estou convencido de que os jovens esperam atitudes simples que traduzam proximidade, escuta, interesse. Afinal, eles trazem dentro de si perguntas que não se respondem com um clicar de um aparelho que os liga ao mundo inteiro nas redes sociais, mas que na maioria das vezes não os conecta com eles mesmos. Perguntas que nem sempre conseguem formular porque não há quem os despertem.

Nossos jovens estão por toda a parte, nós os encontramos pelas ruas, pelas praias, nas escolas e universidades, no mundo do trabalho e, claro, no seio das famílias. São numerosos e se deixam encontrar pelos gestos de pessoas que se interessam por eles. É preciso aprender a sair ao seu encontro, sem medo, sem preconceitos, sem complicações.

Não há que esperar que venham, é preciso ir. O gesto do Papa na praça confessando é protótipo da atitude que se precisa assumir na evangelização da juventude. Chegar aos seus ambientes, no lugar onde se encontram, fazendo-se ao mesmo tempo semelhante, mas sem se confundir com as noites que os envolvem para levar a luz de Cristo que primeiro alcançou o evangelizador e que, por isso mesmo, pode iluminar os que se deixam encontrar no caminho da vida. Assim, os gestos são eficazes porque não são apenas nossos, mas traduzem a presença de uma companhia que hoje também salva a humanidade sempre necessitada.

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Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia

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