[Testemunho] Christus Vivit e os atos concretos na vida: “O amor realmente pode nos levar a muitos lugares”

[Testemunho] Christus Vivit e os atos concretos na vida: “O amor realmente pode nos levar a muitos lugares”

Nos últimos anos o Papa Francisco despertou no coração da Igreja uma especial atenção com as diversas expressões da juventude. Fruto de todo o caminho percorrido e do Sínodo dos Bispos sobre esta temática, ele escreveu uma carta aos jovens e a todo o povo de Deus e deu o nome de ‘Christus Vivit’. De um modo simples, paterno e cheio de sabedoria, o Papa traz uma mensagem de animo, de esperança e de fé. Qualquer pessoa que lê a ‘Christus Vivit’ sente o desejo de não ficar somente na cativante leitura, mas transformar cada pensamento em atos concretos na vida.

Um destes pensamentos do Santo Padre diz assim:

“Deus te ama. Mesmo que já o tenhas ouvido – não importa! –, quero recordar-te: Deus te ama. Nunca duvides disto na tua vida, aconteça o que acontecer. Em toda e qualquer circunstância, és infinitamente amado. Talvez a experiência de paternidade que tiveste não seja a melhor: o teu pai terreno talvez se tenha mostrado distante e ausente ou, pelo contrário, dominador e possessivo; ou simplesmente não foi o pai que precisavas. Não sei! Mas o que posso dizer-te com certeza é que podes lançar-te, com segurança, nos braços do teu Pai divino, do Deus que te deu a vida e continua a dá-la a cada momento. Ele te sustentará com firmeza e, ao mesmo tempo, sentirás que Ele respeita completamente a tua liberdade” (ChV, n. 112 e 113).

É justamente o que o jovem Felipe José Giovanelli de 21 anos está experimentando neste momento da sua vida. Olha só o que ele nos diz:

“Nasci em uma família cristã, mas meu relacionamento com Deus era sempre distante e duvidoso, principalmente depois que perdi meu pai, aos 13 anos de idade, apontando Deus como culpado inúmeras vezes. Na minha juventude procurei encontrar algo especial do qual fosse gostar de dedicar grande parte da minha vida e do meu tempo. Lembro já nos últimos anos da escola os professores falarem incansavelmente sobre faculdade, vestibular e carreira profissional. Por mais que eu tentasse, naquele momento não encontrava a resposta para o sentido que eu queria dar para minha vida.

Certo dia, apareceu em casa uma amiga que estava de férias do voluntariado que realizava na África e compartilhou sobre uma creche na região que recentemente tinha sido aberta e precisava de voluntários. Senti um impulso e um desejo enorme de comprar a passagem e fazer parte daquilo, mas havia toda a questão burocrática do visto e documentação. Mal sabia eu que a realização desse sonho levaria dois anos para acontecer. Enquanto isso, tive a oportunidade de fazer um processo de terapia que curou a intensa dor que a perda do meu pai causava. Entendi que eu mesmo gerava a dor ao imaginar não ter tido oportunidade de viver com ele, mas no fundo eu apenas não me lembrava destes momentos. A terapia me ajudou a resgatar a lembrança de bons momentos com meu pai. A cura deste trauma abriu muitas portas na minha vida e destrancou a principal delas: meu relacionamento com Deus.

Comecei a escrever, praticar a gratidão, silenciar meu coração e meus pensamentos para poder escutar tudo aquilo que Ele me dizia. Lembro certa vez, em uma missa, o Padre dizer que Deus se apresenta de várias maneiras a cada um e percebi que no meu caso era através das pessoas. Passei a enxergar todos aqueles com quem convivia como a plena manifestação e expressão de Deus. A vida ´do outro´ passou a ser muito importante para mim. Sua história, sua dor, seu pedido, qualquer coisa que fosse…

Quando cheguei em Dombe, uma pequena região no centro de Moçambique, lembro do espanto ao ver tanta pobreza diante dos meus olhos. Comecei a me envolver com a realidade local e entender a cultura do povo, não deixando de sofrer e chorar ao ver mulheres trabalhando incansavelmente no campo, debaixo do intenso sol e com seu filho amarrado nas costas, ao ver uma família ter que escolher um horário para a única refeição do dia, ao ver meninas jovens sendo entregues pela própria família a um casamento prematuro com alguém do dobro ou triplo de sua idade…

O voluntariado em Dombe me trouxe muitos sentimentos, mostrou-me que posso ser feliz com o básico, que o valor da nossa vida não está nos bens, ensinou-me a valorizar tudo aquilo que tenho, mas principalmente a usar minha vida para dedicar-me aos outros. Dedicar-me a fazer o bem, mesmo quando eu não quero, mesmo quando me canso, mesmo quando desisto… Minha vida tem valor quando é compartilhada com meu próximo. Desta forma compartilho do básico que Deus me deu para ajudar outras pessoas em um pequeno hospital, para estar com as crianças da creche, para me doar aos jovens que querem sair dos vícios das drogas e entre tantas outras atividades realizadas aqui onde estou.

Há uma senhora que conheci por aqui e me marcou muito. Ela tem cerca de 45 anos, é cega e mãe de cinco filhos. Certo dia, vi ela sentada com os filhos em frente da nossa casa. Sem precisar dizer nada, entendi que precisava de alguma ajuda. Então, fui na cidade para comprar alguns alimentos e montar uma cesta básica. Quando fomos levá-la embora, vi que ela morava 14km de nossa casa e caminhou sem enxergar e com seus filhos para poder pedir uma ajuda. Toda vez que eu chamo ela pelo nome e arrisco algumas palavras no dialeto local, ela abre um lindo sorriso, revelando toda a sua força e coragem para com a vida. O amor realmente pode nos levar a muitos lugares”

Assim como o Felipe, você também pode sair de si para ir ao encontro do próximo. Leia a Christus Vivit e deixe que com esta carta escrita pelo Papa para você inspire momentos importantes da sua vida.

“Jovens, não renuncieis ao melhor da vossa juventude, não fiqueis a observar a vida da sacada. Não confundais a felicidade com um sofá nem passeis toda a vossa vida diante dum visor. E tão-pouco vos reduzais ao triste espetáculo dum veículo abandonado. Não sejais carros estacionados, mas deixai brotar os sonhos e tomai decisões. Ainda que vos enganeis, arriscai. Não sobrevivais com a alma anestesiada, nem olheis o mundo como se fôsseis turistas. Fazei-vos ouvir! Lançai fora os medos que vos paralisam, para não vos tornardes jovens mumificados. Vivei! Entregai-vos ao melhor da vida! Abri as portas da gaiola e saí a voar! Por favor, não vos aposenteis antes do tempo” (ChV, n. 143)

 

 

Por Lucas Ricardo Marçal Ramos, com o testemunho de Felipe José Giovanelli.

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