Sagrada Escritura: diálogo permanente entre Deus e o homem

Sagrada Escritura: diálogo permanente entre Deus e o homem

Em entrevista, padre responsável pela equipe de revisão da bíblia da CNBB responde questões sobre o livro mais conhecido e estudado na história da literatura

A primeira tradução da Bíblia, do grego para o latim, foi feita por São Jerônimo, a pedido do Papa Dâmaso, no século IV, e recebeu o nome de “Vulgata latina”. São Jerônimo morreu no dia 30 de setembro de 420 e, para homenageá-lo, a Igreja escolheu a sua festa para comemorar o Dia da Bíblia. Celebrando esta data tão especial, a equipe dos Jovens Conectados conversou com o coordenador da equipe de revisão da Bíblia da CNBB, padre Luís Henrique Eloy e Silva. Neste bate-papo, ele explica o que significa “revisar” o texto sagrado, comenta a linguagem figurativa presente nos textos e ainda motiva os jovens a fazerem uma experiência de conversão através da leitura da Palavra de Deus. Padre Luís Henrique é doutor em Ciência Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, membro da Pontifícia Comissão Bíblica, professor de exegese do Novo Testamento na PUC Minas e na FAJE e vigário paroquial da paróquia Nossa Senhora Rainha, em Belo Horizonte. Confira:

É difícil entender a Bíblia? Como compreender melhor a Palavra de Deus?

Pe. Luís Henrique: Naturalmente, a Sagrada Escritura, por ter sido um livro escrito há tantos séculos e por revelar o mistério do amor de Deus para com a humanidade, é um livro que exige muito preparo para a sua compreensão. Por isso os especialistas na interpretação da Sagrada Escritura precisam dedicar muitos anos aos estudos relacionados às línguas, à arqueologia, à geografia, à história e aos métodos de interpretação da Palavra de Deus. No entanto, não podemos nos esquecer de algo que o Papa Bento XVI recordou muito bem. Para ele, ainda que seja difícil entender muitas páginas da Sagrada Escritura, é sempre oportuno e necessário que a Bíblia seja lida na comunidade eclesial porque é na Igreja que ela alcança sua compreensão. Quando eu leio a Bíblia sozinho, desvinculado da vida de fé eclesial, posso correr sérios riscos de interpretar erroneamente o significado do texto.

A Bíblia deFonte: NSRainhave ser lida na exata ordem em que os livros estão dispostos? Ou existe uma metodologia mais adequada para quem deseja iniciar a leitura do texto sagrado?

Pe. Luís Henrique: Há muitas formas de se ler a Bíblia. Nada impede que alguém queira realizar a leitura na ordem em que os livros estão dispostos ou simplesmente seguir a disposição litúrgica dos textos ou, ainda, começar pelos evangelhos. O mais importante, no entanto, é o ato de leitura por meio do qual é possível ter acesso ao tesouro que a Sagrada Escritura nos concede. No que diz respeito à metodologia, ela é sempre relevante, pois por método entende-se o percurso, o caminho a ser feito em busca do sentido do texto bíblico. Também, aqui, é necessário entender o que se busca com a leitura: uma compreensão espiritual? Uma orientação para a oração? Um estudo sobre determinada passagem? Uma compreensão sobre uma realidade cultural daquela época à qual a Bíblia acena? Naturalmente, a forma de se abordar a Palavra em uma celebração litúrgica não é a mesma de uma sala de aula de um curso bíblico ou, ainda, da Leitura Orante da Bíblia.  Daí a riqueza da Sagrada Escritura.

Existe uma faixa de idade recomendada para iniciar o aprofundamento dos textos?

Pe. Luís Henrique: Se a pergunta é aprofundamento, então é presumível que sim, pois só se aprofunda quando já se tem um percurso realizado. Neste sentido, depende do percurso realizado e do que se deseja alcançar com a aproximação ao texto sagrado. Por este motivo, existem cursos bíblicos de diversos níveis e para diferentes públicos.

Por que um jovem deveria ler a bíblia?

Pe. Luís Henrique: Primeiro porque a Bíblia é um livro adequado para as mais diversas idades e em cada idade é possível encontrar ali o Caminho, a Verdade e a Vida. Depois, porque, ao ler a Bíblia, o jovem se encontrará com muitos outros jovens que tiveram suas vidas transformadas e o ideal de realização alcançado ao se colocarem em contato com o projeto salvífico de Deus. Esse foi o caso, por exemplo, de alguns jovens como Samuel que se tornou juiz em Israel, de Davi que foi rei em Israel e de Maria que se tornou a mãe do Salvador.

A Bíblia foi escrita em linguagem figurativa?

Pe. Luís Henrique: Não se pode dizer que toda a linguagem bíblica seja figurativa, mas há, naturalmente, na Bíblia, presença de figuras de linguagem, pois faz parte do ser humano usar de figuras, metáforas e símbolos para se expressar. As várias parábolas sobre o Reino são um claro exemplo desse gênero literário.

Por que muitas vezes a gente se distancia tanto dos ensinamentos de Deus em nossas ações diárias?

Pe. Luís Henrique: Este é justamente um mistério da conversão cristã. Nós, mesmo tendo sido batizados em Cristo e sendo membros do seu corpo, revestidos de sua graça pelo batismo, dom inestimável que recebemos da Mãe Igreja, estamos em constante processo de conversão. E corremos o risco de usar mal de nossa liberdade. É por este motivo, que somos continuamente convidados a uma participação ativa da comunidade cristã. Ali, pela vivência dos Sacramentos, das várias dimensões da vida eclesial, somos fortificados pela Graça de Deus e motivados pelo testemunho dos irmãos que vivem do Evangelho e para o Evangelho.

Você é coordenador da equipe de revisão da Bíblia da CNBB. O que significa a revisão da Bíblia?

Pe. Luís Henrique: Trata-se de um termo técnico que indica o seguinte: houve uma tradução da Bíblia, há algum tempo, e agora essa tradução passa por uma revisão. É sempre necessário que todas as traduções passem por revisões e isso ocorre com todas as línguas. Qual o objetivo da revisão? Verificar a fidelidade ao texto, as formas de expressar as imagens ali presentes, os vários campos semânticos e, ainda, a proclamabilidade do texto, isto é, observar se a forma como o texto foi traduzido está adequada para a proclamação da Palavra na vida litúrgica e eclesial. É desejo dos bispos que a Bíblia da CNBB se torne referência para os textos oficiais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, para a catequese e formação dos presbíteros e dos cristãos em geral e texto litúrgico oficial para uso nas diversas celebrações da Igreja.

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