Jovens e o trabalho: vocação, sonhos e crescimento

Jovens e o trabalho: vocação, sonhos e crescimento

De segunda a sábado, o jovem Gustavo Dioto chega às 7h40 ao trabalho. Ele ajuda a abrir as portas de uma loja de agropecuária, que há 43 anos é um negócio da família. Limpa o balcão, vê se precisa cadastrar algum produto que chegou, verifica o estoque e se coloca à disposição dos clientes, que logo começam a chegar. Artigos para pesca, para pássaros, pet, ferramentas, itens de camping…

Há quatro anos, quando tinha dezesseis de idade, recebeu o convite do avô para ajudar e, assim, entrar no mercado de trabalho. Era uma ideia interessante, visto que muitos dos seus amigos não tinham a mesma oportunidade, ainda mais sem experiência nenhuma. Para o jovem, trabalhar em família é ter não apenas um patrão, mas ser ele um parente seu. Acaba que a relação se torna ainda mais próxima, agora ele sabe mais sobre sua vida, “porque pode compartilhar mais diariamente no ambiente do trabalho do que iria conversar se fosse apenas uma visita de domingo”.

Gustavo com a família: trabalhar na loja do avô foi oportunidade de ingressar no mercado de trabalho

“Este trabalho é o meu primeiro emprego. E sempre é uma novidade! A cada dia, novas pessoas e novas formas de se comunicar com elas. Acho que a experiência mais enriquecedora foi de perder muito a timidez. Sempre fui muito fechado e, querendo ou não, meu emprego me obriga a estar em contato e falar muito. É interessante trabalhar e ter contato com as pessoas e compreender também que muitas vezes você não está no seu melhor dia, com problemas, mas entende que é preciso respeitar o outro. Com um sorriso no rosto e um bom atendimento, você pode mudar o dia da pessoa e também o seu e tirar um sorriso”, conta.

Estudando o terceiro semestre de Engenharia de Produção, o jovem sonha com voos maiores. Está procurando estágio na área que optou por fazer carreira. O trabalho com o avô Pedro, que hoje tem 73 anos, também o ajuda porque com seu próprio dinheiro pode pagar as despesas dos estudos, como a mensalidade e o transporte. “Ter seu próprio dinheiro traz também uma nova noção de responsabilidade, de ato e consequência. Quando o jovem vê que recebe o dinheiro e que tem um boleto para pagar, por exemplo, ele percebe que se ele gasta vai ter uma consequência, que precisa responsabilidade. A gente fica mais maduro”, reflete o jovem, projetando novos sonhos e conquistas.

Para o assessor da juventude da Diocese de Amparo (SP), Pe. Carlos Panassolo, neste dia do trabalhador, celebrado neste 1º de maio, temos muito o que pedir a Deus e também para aprender. “Recordo a figura de Marcos, grande jovem que seguiu os passos da primeira comunidade cristã e que junto dela aprendeu a grandeza da partilha e da corresponsabilidade. Muitos de nós temos o sonho de ter o trabalho como sinal de independência, de liberdade, mas é preciso lembrar que ele é sinal de zelo. Muitos jovens ao alcançar o trabalho vão dizer ‘O dinheiro é meu!’. Não, porque eu também sou responsável pela minha casa e minha comunidade. Por isso o próprio princípio do dízimo, de oferecer uma parte do que conquistei. O salário é muito mais do que direito, é sinal de gratidão a Deus, que ofereço também em casa por toda a vida compartilhada”, reflete.

O TRABALHO É VOCAÇÃO, CHAMADO DE DEUS

Papa Francisco, na Exortação Pós Sinodal Christus Vivit, pede aos jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda dos outros, porque isso não faz bem. “o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal”. (Christus Vivit, p. 269).

E fala também da importância do trabalho, que é um verdadeiro chamado de Deus, vocação. “Quando alguém descobre que Deus o chama para uma coisa concreta, que está feito para isso – enfermagem, carpintaria, comunicação, engenharia, ensino, arte ou qualquer outro trabalho –, então será capaz de fazer desabrochar as suas melhores capacidades de sacrifício, generosidade e dedicação. O facto de uma pessoa saber que não faz as coisas por fazer, mas com um significado, como resposta a uma chamada – que ressoa nas profundezas do seu ser – para contribuir com algo a bem dos outros, isto faz com que estas atividades deem ao próprio coração uma particular experiência de plenitude. Assim o diz o livro bíblico do Eclesiastes: «Reconheci que não há felicidade maior para o homem do que alegrar-se com as suas obras» (3, 22).” (Christus Vivit, p. 273)

O TRABALHO E O FUTURO

Gabrielle com os alunos do curso de Administração da Etec de Mogi Mirim em Santo Antônio da Posse (SP)

A jovem Gabrielle da Cunha passou a experiência de ficar dois anos desempregada. Angustiada, não podia fazer planos a longo prazo, sentia-se excluída do acesso a várias coisas por não ter uma oportunidade e salário. Acredito que a grande perda de uma sociedade que não pensa em condições de trabalho, educação, saúde, lazer à sua juventude, é uma sociedade que mata sonhos de milhares de jovens e fica sem perspectiva de transformações futuras. Em termos econômicos, uma sociedade que ao não promover empregos, gerar renda e qualidade de vida, fica estagnada e não há desenvolvimento e nem crescimento pois ficam pouquíssimas pessoas acumulando muitas riquezas a partir da exploração do trabalho precarizado de milhares que vivem na miséria e pobreza”, diz a jovem.

Hoje, Gabrielle trabalha como professora na educação básica e no ensino técnico. Ela testemunha que os estudantes já não acreditam que o curso técnico os inserirá no mercado de trabalho, desde a educação básica percebe-se que os  jovens, principalmente os da periferia, têm perdido a capacidade de sonhar e de acreditar que a educação é um meio de se chegar ao seus sonhos.

“O trabalho faz parte da essência humana, ele utiliza sua inteligência para a transformação das coisas. O trabalho está ligado à dignidade humana. Cristo veio para que todos tenham vida, vida plena, uma vida digna e o Papa Francisco, profeta do nosso tempo, é uma das poucas vozes a denunciar e repudiar toda negação aos direitos dos jovens de sonhar, de trabalhar e transformar o mundo. Sigamos os passos de Cristo juntos com Francisco na luta por uma sociedade que leve os jovens a sério e garantam seus direitos”, analisa Gabrielle.

 

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