Jovens da Amazônia afirmam ser possível novos caminhos de conversão ecológica

Jovens da Amazônia afirmam ser possível novos caminhos de conversão ecológica

Jovens da Amazônia brasileira estiveram reunidos em Manaus (AM) entre os dias 07 e 09 de setembro em um processo de escuta para o Sínodo da Amazônia de 2019. Em atividade realizada pela Rede Eclesial Pan-Amazônica/Repam-Brasil, os 30 representantes, de uma diversidade de grupos juvenis, refletiram sobre o Sínodo e responderam ao questionário do Documento Preparatório.

Pastorais, movimentos eclesiais e sociais, congregações religiosas, comunidades indígenas e quilombolas estiveram representadas no encontro de escuta. Felipe Fialho, de Manaus (AM), secretário regional da Pastoral da Juventude no Norte 1, afirmou que a pluralidade de experiências reunidas enriqueceu a atividade. “A gente vê que, mesmo cada um tendo uma identidade, uma espiritualidade e um jeito de ser diferente, quando nosso olhar se volta para a Amazônia é um sonho comum”, pontuou Fialho.

De acordo com a jovem Krisla Ripardo, de Rio Branco (AC), é preciso, nesse processo sinodal, ter um olhar amoroso, cuidadoso e esperançoso para com a realidade da Amazônia, o que permite não apenas enxergar aspectos negativos, mas ter uma atitude de contemplação. “Nós olhamos a realidade, vemos o que ali tem sido desenvolvido pelas pastorais, grupos e movimentos e potencializamos esses trabalhos”, afirmou a jovem.

Os seis regionais da CNBB que estão no território da Amazônia Legal estiveram representados no encontro. Rodrigo Fadul, da equipe de Formação e Métodos de Acompanhamento Pastoral da Repam, um dos organizadores da atividade, destacou o espírito de liderança dos participantes da atividade, que responderam ao questionário de forma consciente, crítica e visando contribuir, de forma efetiva, com o Sínodo. “Nós respondemos aqui 12 questões do questionário, com todo um processo construído coletivamente. Os jovens escolheram as questões, refletiram sobre elas, refletiram as respostas, construímos juntos aqui a síntese, o processo foi participativo e para mim o resultado é positivo”, avaliou Fadul.

Jovens e a ‘Laudato Si’- O encontro começou com um resgate da história da atuação da Igreja na Amazônia. Passando pelos diversos marcos, como o Encontro de Santarém, do ano de 1972, e as Campanhas da Fraternidade que trataram dos povos indígenas e da Amazônia, a juventude foi convidada e fazer memória dos momentos e recordar os impactos das atividades na realidade local de cada um.

“É importante entender que o Sínodo não surge como um evento deslocado da história”, destacou Ir. Ronilton Neves, religioso marista e membro da equipe Repam-Juventudes. De acordo com Ir. Ronilton, a assembleia sinodal vem responder à demanda eclesial do nosso tempo e, segundo ele “exige de nós comprometimento e responsabilidade histórica”, enfatizou.

Num segundo momento, a juventude reunida reconstruiu o mapa da Amazônia legal destacando os rios, as cidades dos presentes na atividade, os povos indígenas de cada localidade, as belezas da criação, as ameaças e os projetos positivos já em curso em cada território.

Estudar e discutir a Encíclica Laudato Si’ fez parte das atividades da escuta. Para preparar o grupo e situá-lo no contexto da Ecologia Integral, Ir. Joao Gutemberg, da equipe de Métodos Pastorais e Formação da Repam, contribuiu com a reflexão dos jovens. “Nos apropriar do vocabulário da Laudato Si’ nos ajuda a entender melhor as questões socioambientais e nos empodera nas discussões que precisamos ter aqui e nos espaços em que atuamos”, chamou à atenção ao grupo Ir. Joao.

No segundo dia de trabalhos, o grupo reunido em Manaus teve acesso ao Documento Preparatório do Sínodo. Individualmente e em pequenos grupos, os jovens estudaram, refletiram e discutiram as temáticas presentes nele. A jovem Ariany de Oliveira, da Juventude Redentorista e membro da coordenação da Pastoral Juvenil da CNBB, participou da atividade e falou ao grupo do Sínodo da Juventude, buscando integrar os dos sínodos convocados pelo Papa Francisco. “É importante trazer esse olhar do protagonismo juvenil em todas as dimensões da Igreja e da sociedade”, afirmou Ariany.

Diego Arapium, jovem indígena paraense, apresentou as discussões realizadas em Roma, por ocasião do Fórum em celebração aos 3 anos da Laudato Si’e falou da importância do Sínodo paras as populações tradicionais. “É um momento histórico para gente, de saber que a Igreja quer continuar seu trabalho, mas de uma forma diferente, respeitando principalmente a nossa cultura e a nossa espiritualidade que trazemos há milhares de anos”, destacou Diego. Para Arapium, os maiores desafios enfrentados pelo seu povo e a população indígena estão relacionados à questão ambiental, principalmente a terra. “Hoje nossas terras estão todas paralisadas, elas não estão demarcadas e nós estamos sofrendo ameaças direto”, afirmou Diego, que acredita numa ação da Igreja mais próxima da luta dos povos indígenas.

Em seguida, os jovens destacaram algumas das questões do Documento preparatório e responderam ao questionário. Uma síntese das respostas foi feita, na manhã do terceiro dia, e uma carta aberta à Igreja e à sociedade. No texto, que reflete as respostas ao questionário, os jovens indígenas, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas, habitantes da zona rural e urbana, moradores das periferias e das fronteiras, afirmam que são “afetados diretamente pelas ameaças que dia a dia excluem, matam, degradam e cerceiam a vida dos povos”.

Carta da juventude da Amazônia brasileira

Ao final do encontro, os jovens redigiram uma carta ao papa Franscico na qual pedem à Igreja que acredite na beleza da novidade que a juventude traz. No documento, os participantes manifestam apoio ao papa Francisco, cujo pontificado para eles “lança sopros de alegria e novidade no seio da Igreja no processo de escuta do Sínodo da Juventude e Sínodo para a Amazônia”.

Os jovens também denunciam “os grandes projetos como a construção de hidroelétricas, a exploração do minério, as indústrias, garimpos, contaminam nossos rios, invadem nossos territórios e nos condenam a uma vida sem qualidade e plenitude atestando a ausência de políticas públicas e de adequada regulação do Estado”. Conheça a íntegra da carta clicando aqui.

Por CNBB, com informações de Paulo Mendes, Assessor de Comunicação Repam Brasil

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