Fraternidade e Universitários

Fraternidade e Universitários

Palestra de Dom Eduardo Pinheiro durante o IV Fórum das Instituições de Educação Superior Católicas, na PUC Minas, em 21 de março de 2013.

“FRATERNIDADE E JUVENTUDE UNIVERSITÁRIA”

– Conferência de Abertura –

 UMA RICA HISTÓRIA DE EVANGELIZAÇÃO

 

A Igreja do Brasil possui uma rica história de articulação da evangelização da juventude. Desde o primeiro Plano de Pastoral de Conjunto da CNBB (1966) nota-se sua atenção pela juventude e sua preocupação em responder-lhe pastoralmente. Do final da década de 70 ao início da de 80 articulam-se as Pastorais da Juventude e em 1983 nasce o Setor Juventude da CNBB. Agora, nestes últimos anos, contemplamos uma série de acontecimentos desta bonita caminhada. Em 2007, por exemplo, o episcopado, após dois anos de trabalhos e Assembleias, aprovou o precioso Documento 85 – “Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais” – buscando adequar sua missão aos novos tempos e reconhecendo as inúmeras forças eclesiais favoráveis à evangelização da juventude, como: as Pastorais da Juventude, os Movimentos Eclesiais, as Novas Comunidades, as Congregações Religiosas além de outras pastorais específicas e serviços afins. Em 2009 organiza-se a Equipe Jovem de Comunicação e, em 2011, a Coordenação da Pastoral Juvenil composta por 10 jovens provenientes de várias expressões juvenis da Igreja. 2011 também foi marcado pela decisão do episcopado para se criar a Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude: a 12ª. Comissão da CNBB. O pedido oficial para que pudéssemos contar com uma versão da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em terras brasileiras e a decisão por outra Campanha da Fraternidade (CF) (a primeira foi em 1992) com o tema Juventude foram sinais muito claros de que o Episcopado brasileiro, trazendo os anseios da nossa Igreja espalhada pelo país, continua efetivando seu carinho pelas novas gerações.

 

Deste modo, neste “Ano da Juventude” nos alegramos e nos beneficiamos, principalmente, com a força evangelizadora da JMJ e da CF em todo o Brasil. Se por um lado a dinâmica da Jornada atinge direta e rapidamente o coração dos jovens, a CF 2013 vem para provocar nos adultos séria reflexão e provocativa conversão pastoral de nossas estruturas eclesiais, fruto de uma profunda mudança de mentalidade frente à novidade que nos trazem os jovens. A pessoa, a Comunidade e a Sociedade são os três eixos para os quais a Igreja fixa seu olhar e canaliza sua evangelização. Os objetivos da CF caminham nesta linha e convocam a todos na sua aplicação nos diversos ambientes juvenis. O âmbito universitário tem sido reconhecido pela Igreja como um destes campos prioritários de evangelização: “Tarefa de grande importância é a formação de pensadores e pessoas que estejam em níveis de decisão, evangelizando, com especial atenção e empenho os “novos areópagos”. Um dos primeiros areópagos é o mundo universitário”. (DGAE 2011-2015, n. 117)

 

“EIS-ME AQUI, ENVIA-ME”

 

Este lema escolhido para a CF 2013, extraído do Livro de Isaías (6, 8), é a resposta deste jovem profeta que, vivendo o conflito entre o êxtase do encontro com Deus por um lado e a constatação de sua pequenez pelo outro, manifesta sua adesão Àquele que, no fundo, lhe passa segurança e lhe dá ânimo. Não compreende, no primeiro momento, o alcance deste pedido de seu Deus que o envia a um contexto social desafiador nem pode imaginar as consequências desta sua resposta positiva, mas encontra a coragem de que precisa para assumir tal missão.

 

O “eis-me aqui, envia-me” é a resposta de quem se sente cativado, valorizado, comprometido. O amor experimentado por Isaías é forte, envolvente e transformador; não há como fugir nem por que fugir!

 

Deste modo, não foi a “razão” que encorajou aquele jovem a responder positivamente, mas a experiência forte de um Deus próximo que lhe garantiu sentido de vida, com uma força superior, transcendente, cuja racionalidade ainda era incompreensível na sua totalidade. Muitas das grandes decisões na vida acontecem mais pela motivação pessoal e segurança que se sente do que pelas elucubrações teóricas. Assim aconteceu com Maria, com vários apóstolos, com inúmeros jovens da história da Salvação e da Igreja. Assim poderá acontecer com aquele universitário que transita em nossos ambientes católicos.

 

Nossa vocação de educadores nos compromete nesta essencial e delicada missão de auxiliar os jovens para que sejam capazes de escutar os grandes ideais e de dar respostas firmes, maduras, comprometedoras à existência. O recém-publicado subsídio da CNBB, “O Seguimento de Jesus Cristo e a Ação Evangelizadora no Âmbito Universitário”, nos recorda: “A universidade é o lugar da pergunta, da reflexão e da busca de sentido. É espaço privilegiado para a descoberta e a vivência da vocação profissional.” (Estudos da CNBB 102, n. 4)

 

A primeira parte da resposta do profeta – “eis-me aqui” – revela-nos a firmeza de alguém com grande autoestima e coração generoso, diante de um chamado, uma convocação. “Pode contar comigo”, diríamos hoje. Nossa proposta pedagógica e ambientes educacionais têm esta responsabilidade de dar sentido e gosto à existência humana.

 

A segunda parte da resposta de Isaías – “envia-me” – mostra-nos a sensibilidade de alguém que acredita que pode contribuir com a vida dos outros ao perceber-se acompanhado por Aquele que o envia. O jovem que sai de nossas universidades deve se sentir seguro, capacitado para enfrentar os desafios e deixar sua colaboração específica na história da humanidade. Só consegue dizer “envia-me” quem, consciente do sentido e da importância de sua vida (“eis-me aqui”), assimila um processo educativo orientador de projeto pessoal de vida e se organiza para sair em missão.

 

É PRECISO “CONHECER” E AMAR PARA EVANGELIZAR E EDUCAR !

 

Como ajudar (educar, evangelizar, oportunizar caminhos seguros) os jovens a este posicionamento firme na vida, como fez Isaías? Não resta dúvida de que, antes de tudo, é necessário conhecê-los? É bem verdade que conhecer os jovens hoje é algo complexo e misterioso. A sua realidade intrínseca, antropológica, psicológica se une à diversidade de situações e grupos aos quais pertencem. Falamos, inclusive, de “juventudes”, no plural, designando a diferenciação reconhecida quanto à realidade sócio-ecônomico-cultural, às condições de estudos, às oportunidades de trabalho, ao envolvimento com as novas tecnologias, etc. Isso tudo, porém, não pode nos eximir do trabalho deste primordial e primeiro grande desafio que a educação se nos impõe: o conhecimento da realidade. O Documento 85 da CNBB (10) nos diz: “Conhecer os jovens é condição prévia para evangelizá-los. Não se pode amar nem evangelizar (“nem educar”!) a quem não se conhece” (Doc 85, 10). Sem medo de parafrasear, podemos dizer: “Conhecer os jovens é condição prévia para educá-los. Não se pode amar nem educar a quem não se conhece”.

 

Ao não nos interessarmos em “conhecê-los”, corremos graves riscos de interpretação da realidade e proposta pedagógico-evangelizadora. Alguns conceitos subjacentes podem comprometer a eficácia de nossa ação educativa. Expressões, como as seguintes, não são tão ausentes como gostaríamos: “juventude é tudo a mesma coisa” (desconsideração da existência das diversas “juventudes”); “juventude é apenas uma etapa passageira em vista da vida adulta” (instrumentalização em vista do “ideal” adulto); “a juventude é o futuro da Igreja e da Sociedade” (descrédito do valor do jovem no presente); “a juventude é a solução para todos os problemas atuais” (idealização); “a juventude é cheia de problemas, confusões, contradições, inseguranças” (reducionismo e preconceito).

 

E como “conhecê-los”? No mínimo contamos com três elementos que confluem para o exercício do “conhecimento” do jovem e consequente eficiência do trabalho educativo junto a ele: a razão, a fé e a convivência. A razão, obtida pelos estudos, pesquisas, reflexões e debates nos aproxima bastante de uma realidade que, a um primeiro momento, nos assusta e nos confunde, mas que nos mostra, também, toda beleza e potencialidade que o jovem carrega consigo. A fé, fruto de uma sólida espiritualidade do educador, nos coloca em contato significativo com o Criador que nos ilumina na compreensão das suas criaturas, para entendê-las naquilo que realmente é essencial e urgente. A convivência gerada pelo amor que temos pelo jovem nos aproxima de seu mundo, com suas potencialidades e interesses, alegrias e tristezas, valores e limitações.

 

Mas, então, quem é aquele jovem universitário que frequenta nossos corredores, salas, escritórios, laboratórios, bibliotecas, cantinas, pátios? O que procura? O que nos pede? Do que tem necessidade além de conhecimentos e diplomas? Em qual realidade se encontra? Quais pressões sofre?

 

Bem, sem pretender delinear o perfil de nossos universitários, mesmo porque depende muito de cada realidade na qual eles vivem, podemos dizer que eles são, antes de tudo, jovens dos tempos atuais, às vezes longe dos protótipos que imaginamos em nossa mente, desejamos em nosso coração ou desenhamos em nossos projetos.

 

Mesmo conscientes das limitações pessoais e empecilhos estruturais, eles sonham em se formar numa faculdade e, com a futura segurança econômica e realização profissional, ter uma vida de qualidade.

Carregam consigo, também, as consequências de uma sociedade repleta de contradições, desigualdades, exclusões. Muitos deles são violentados em seus direitos e projetos por uma realidade ainda injusta, discriminatória, regada de provocações consumistas, relativistas e hedonistas.

 

E qual é o nosso olhar, considerações e postura diante daqueles calouros vindos de outras cidades? Eles chegam bem sensíveis e fragilizados em nossas universidades. Para muitos é a primeira vez que fazem a experiência de viverem longe de casa e da família, de estarem independentes daqueles ambientes e pessoas que lhe proporcionavam segurança e imediata alegria. Inclusive a religiosidade sofre o considerável impacto, uma vez que a distância dos espaços religiosos anteriores, o acúmulo de preocupações para a sobrevivência em terra estranha e a racionalidade dos estudos acadêmicos dificultam a serena vivência da própria fé.

 

Por outro lado, somos convidados a reconhecer que vários universitários, cheios de grandes ideais, carregam consigo muitos valores evangélicos universais que, uma vez considerados, produzem bons frutos. Reconhecemos, por exemplo, os seguintes valores presentes nos sonhos juvenis: “a democracia, o diálogo, a busca da felicidade, a transparência, os direitos individuais, a liberdade, a justiça, a igualdade de direitos, o respeito pelas diferenças.” (Doc 85, 219)

Quanto à religião, apenas uma minoria diz não possuir nenhuma e, mesmo assim, muitos destes acreditam em Deus com uma maneira própria de se relacionar com o sagrado. Além disso, segundo dados do texto-base da CF 2013, apesar da tendência atual ao individualismo, 28% dos jovens participam de grupos (80% de grupos religiosos, 23% associações esportivas, culturais, ecológicas, artísticas, 18% de caráter trabalhista e estudantil, 3% de organizações partidárias).

 

O IMPACTO DA MUDANÇA DE ÉPOCA

 

Para conhecer o universitário de hoje é preciso, na verdade, considerar ainda dois temas  chaves que a CF 2013 destaca: a mudança de época e a cultura midiática.

 

Os jovens estão no “olho do furacão” da, assim conhecida, mudança de época que, atingindo a todos “sem piedade”, encontra ressonância principal, forte e imediata na vida deles. São impactados, pressionados, atraídos e absorvidos por esta realidade e, sem o saber, acolhem suas propostas inovadoras e agradáveis que, muitas vezes, se revelam posteriormente confusas, contraditórias, e até destruidoras da felicidade que tanto procuram. Entre os desafios e as preocupações atuais podemos destacar: a alteração de paradigmas, o relativismo ético, a competitividade, a crise de sentido, a qualidade das relações interpessoais que passam a ser muitas vezes descompromissadas e não gratuitas, o individualismo e a fragilidade dos laços comunitários, a hipervalorização do momento presente, a dificuldade em assumir compromissos definitivos, o enfraquecimento das grandes instituições educativas (família, ensino, Estado, igrejas), o desinteresse pela macro-política e exercício da cidadania, as desigualdades no acesso à comunicação. Por outro lado, sem sombra de dúvidas, reconhecemos elementos positivos deste novo tempo: a valorização da pessoa (a subjetividade), a diversidade cultural, o avanço tecnológico e científico, a autenticidade, etc. Uma pesquisa realizada em 2008 por um Jornal de repercussão nacional constatou, entre tantas coisas, que os principais sonhos dos jovens dizem respeito ao ingresso na faculdade, formação acadêmica, sucesso profissional. Seus medos estão relacionados à morte pessoal e dos familiares (17%) e à violência (13%). Questionados sobre os principais valores na vida, responderam ser a família, saúde, trabalho e estudo. Curiosamente neste quesito dos valores a pesquisa revelou que o item “família” recebeu 99% de indicação enquanto o “casamento”, 72%.

 

A REVOLUÇÃO DA CULTURA MIDIÁTICA

 

Neste contexto entra de cheio a cultura midiática que atinge a todos e encontra, nos jovens, acolhida irrestrita. O papa Bento XVI chegou a afirmar em 2011: “Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a revolução industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. […] Sobretudo os jovens vivem esta mudança de comunicação, com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria de quantos se abrem com entusiasmo e curiosidade às novas experiências da vida.” (DMCS 2011)

 

O mundo deu uma guinada; parece ter virado tudo de “perna para o ar”. A agilidade e a jovialidade das novas gerações as capacitam para a identificação e a resposta aos novos tempos. “A relação natural entre os jovens e as novas mídias alimenta cada vez mais o gosto e o interesse por ser sujeito. Eles se sentem motivados pelos desafios que esse novo universo comunicacional impõe. Conhecem e dominam as linguagens das novas mídias mais que os próprios pais e educadores, e isso os torna socialmente fortes e valorizados” (CF, 43). Há uma nova maneira de se relacionar e de se comprometer com a família, a educação, a sociedade, a Igreja, o ambiente, a religião.

Este é o mundo dos jovens no qual se sentem à vontade e provocados em seu processo de amadurecimento e produção. A internet e as redes sociais que dela nascem, não são mais um simples “meio de comunicação” entre tantos outros que apareceram na história da humanidade, mas um verdadeiro ambiente, “uma ambiência midiática”, onde a convivência on-line não se configura mais como algo irreal e distante, mas como espaço de trocas, de diálogo, de exposição, de críticas, de construção e destruição. “Comunicar não é, portanto, apenas uma questão instrumental, mecânica, unidirecional, é inter-relacional, é ‘vida’” (CF, 37) para as novas gerações. Na mensagem elaborada para o próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais (12 de maio) o papa Bento XVI escreveu: “O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade quotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens.”

 

Diante deste grande desafio, a Igreja, perita em humanidade, reconhece o valor deste novo tempo e incentiva a todos a gerenciá-lo da melhor maneira: “Quero convidar os cristãos a unirem-se confiadamente e com criatividade consciente e responsável na rede de relações que a era digital tornou possível; e não simplesmente para satisfazer o desejo de estar presente, mas porque esta rede tornou-se parte integrante da vida humana. […] Convido, sobretudo os jovens, a fazerem bom uso da sua presença no areópago cultural”. (Bento XVI, DMCS 2011)

 

CONVICÇÕES QUE NOS SUSTENTAM NA MISSÃO EDUCATIVA

 

A CF deste ano nos mostra uma realidade juvenil que clama por maior acolhida por parte tanto da Igreja quanto da Sociedade. Acreditamos que para eficiência de uma educação evangelizadora que realmente defenda, resgate e promova a vida dos jovens universitários há, no mínimo, quatro necessidades:

  • de um claro conteúdo a ser defendido (JC),
  • de um constante diálogo a ser travado (fé-vida),
  • de um fundamental princípio a ser respeitado (lugar teológico e protagonismo juvenil),
  • de uma exigente posturaa ser assumida (conviver).
    • O CONTEÚDO? É Jesus Cristo!

 

Não estaremos educando se não mostramos um Caminho seguro para que os jovens encontrem a única Verdade que ilumina, dá sentido, garante a felicidade e qualifica a Vida. Em outras palavras, nós cristãos, jamais estaremos favorecendo a formação integral aos nossos jovens se não os conduzimos ao conhecimento, à convivência, ao compromisso com o único Caminho, Verdade e Vida que é Jesus Cristo. Diz-nos o Documento de Aparecida (29): “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”. Assim, a centralidade de toda a ação educativo-pastoral não pode ser outra a não ser o Evangelho de Jesus Cristo; valor universal à vida digna de todos!

Uma forte colocação de nosso Papa Francisco, na homilia junto aos Cardeais no dia 14 passado, nos faz questionar sobre nossas obras: “Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência.”

 

  • O DIÁLOGO? É entre fé e razão, fé e ciência, fé e cultura!

 

O Doc 85 (n. 218) nos recorda e nos exorta assim: “Na medida em que avança o processo de escolaridade, em especial na fase universitária, os jovens se fascinam pela racionalidade das ciências e tecnologias, pela eficiência e organização da sociedade produtiva e do mercado, pelo compromisso com a transformação social, de tal forma que sua fé pode entrar, em alguns casos, em conflito com a razão, mas pode, também, amadurecer com a contribuição da razão. A ação pastoral deve favorecer a base intelectual da sua fé para que saibam se mover de maneira crítica dentro do mundo intelectual, acompanhados de vida cristã autêntica para que possam atuar responsavelmente no mundo do qual fazem parte. É oportuno, portanto, que na universidade possa se desenvolver um ambiente favorável para articular a fé e razão”.

E a CF nos convoca a estarmos mais presentes nos meios universitários: “A Igreja não pode isentar-se de adentrar, decididamente, os ambientes acadêmicos públicos e privados de nosso país. Ela possui uma edificante história de participação no desenvolvimento racional, científico e tecnológico da humanidade. O Evangelho a envia e a capacita na missão de contribuir com a vida de todos os povos, em todas as áreas e em todos os tempos” (CF, 236).

 

  • O PRINCÍPIO a ser respeitado? Que o jovem seja considerado como lugar teológico!

 

Lugar importante da revelação e comunicação de Deus, ele carrega em si um tesouro que precisa ser reconhecido, explorado, valorizado e socializado. “Considerar o jovem como lugar teológico é acolher a voz de Deus que fala por ele. A novidade que a cultura juvenil nos apresenta neste momento, portanto, é sua teologia, isto é, o discurso que Deus nos faz através da juventude. De fato, Deus nos fala pelo jovem. O jovem, nesta perspectiva, é uma realidade teológica, que precisamos aprender a ler e a desvelar.” (Doc 85, 81)

Acreditamos na novidade que ele carrega, na sua capacidade de participação e transformação, em seu protagonismo para um mundo melhor. Assim, não somente os jovens precisam de nossos ambientes educativos e universitários para a sua vida; nós precisamos dos jovens: a universidade, a sociedade, a Igreja, os adultos! O tempo que se chama “hoje” é dos jovens e se desejarmos dar uma resposta significativa à história precisamos aprender deles e com eles. A sabedoria das novas gerações é única e insubstituível. E para isto faz-se necessária uma significativa “conversão”; sem ela não é possível avançar.

 

  • Que POSTURA assumir? Sem dúvida alguma, a convivência com os jovens!

 

Precisamos acreditar e investir, cada vez mais, na convivência como valioso princípio pedagógico-pastoral. Nós, adultos educadores, temos certa dificuldade em “gastar” tempo com os jovens, com suas conversas e em seus espaços. Qual seria a causa? Desconsideração ou descrédito da eficácia desta postura? Sobrecarga de trabalho? Preocupação demasiada com as estruturas e as normas? Medo ou insegurança diante da cultura e linguagem juvenis? Desorganização pessoal? Como já disse, não se educa nem evangeliza quando não se conhece! É preciso ouvir os sonhos e frustrações dos jovens, compreender as pressões internas e externas que sofrem, sentir suas dores, entender seus interesses, acolher sua cultura…

 

Esta necessidade pedagógica foi tão bem descrita no subsídio Estudos 102 da CNBB, n. 59: “quem acompanha os jovens, ou mesmo os professores universitários, deve ter disponibilidade de tempo para estar junto, cultivar os laços de amizade, fazer coisas juntos, etc.”. E um dos espaços privilegiados para o amadurecimento desta postura é o “pátio” aqui entendido como ocasiões e lugares que, principalmente na informalidade das relações, criam condições favoráveis de aproximação, simpatia, respeito, abertura, corresponsabilidade. Mais do que nunca, falta-nos uma verdadeira e consistente “pedagogia do pátio” e – por que não? – uma “teologia do pátio”, quando, então, reconhecendo o princípio da encarnação de Jesus Cristo no mundo, acreditamos na sua comunicação e ação no cotidiano da vida. Para nós, cristãos, estes espaços e momentos informais não são simplesmente intervalos ou algo que caminha paralelamente às atividades e preocupações. No espírito de fé, alimentado por uma sólida espiritualidade, tudo se torna ocasião para crescimento, amadurecimento, santificação.

 

Assim, não “vamos aos jovens”, simplesmente por interesse em obter dados científicos em vista de utilizá-los em nossos projetos e discursos. Estamos ali para fazer comunidade e, juntos com eles, descobrirmos os melhores caminhos para a vida digna e feliz para todos. A convivência nos capacita na compreensão da realidade, nos aproxima do coração dos jovens, nos converte em verdadeiros apaixonados por eles e pela causa educativa evangelizadora, garante que nosso serviço tenha significado e seja acolhido em seu mundo!

 

PRONTIDÃO, TAMBÉM, DO EDUCADOR: “EIS-ME AQUI, ENVIA-ME” !

 

Costumamos proclamar que “educar” é muito mais do que capacitar para entrar no mercado de trabalho ou para garantir um sustento na vida. Não é novidade afirmar que, quando abraçamos a causa da “educação” estamos nos comprometendo na capacitação da pessoa para a vida, dando-lhe sentido, organização e prazer. Nós, educadores católicos, entendemos que o projeto mais completo e universal para atingir este objetivo é o Evangelho. Os valores evangélicos são antropologicamente libertadores e realizadores, independente da fé que se professa e da religião que se frequenta. Portanto, quando educamos à vida e aos valores que a ela embelezam e sustentam, evangelizamos: a pessoa se realiza e os ambientes se beneficiam! Nossa missão não é somente urgente e bela; ela é sagrada, pois faz parte da vontade de Deus para a evolução da humanidade.

 

Assim como acreditamos que o jovem é lugar teológico para nós, também podemos afirmar que, por vocação e missão, nós, como educadores, somos “lugar teológico” para os jovens! Ao reconhecer esta dignidade de nossa vocação nos preparamos com mais cuidado para o exercício deste ministério bem como estamos mais atentos ao testemunho pessoal que impregnará a vida de nossos jovens.

Enfim, o “Eis-me aqui, envia-me” de Isaías e dos jovens precisa ser assumido, também, por cada um de nós. Conscientes da missão assumida, aceitamos de coração aberto este desafio da educação à vida. Levantar todos os dias, com a alegria e a certeza de que somos verdadeiramente sinais e portadores do amor de Deus aos jovens universitários, transformará nossa existência e produzirá os frutos esperados pelo Criador.

Dom Eduardo Pinheiro da Silva, bispo Auxiliar de Campo Grande e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

Baixe o PDF da palestra

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