Círio de Nazaré registra presença recorde de jovens

Círio de Nazaré registra presença recorde de jovens

JMJ contribuiu para crescimento do número de jovens na corda, aponta Dieese

“Um mar de gente”. Expressão bem conhecida do povo paraense para definir o Círio de Nazaré. Quem esteve nas ruas de Belém, no final de semana, experimentou este significado e pôde contemplar a fé dos fiéis. Muitos deles eram jovens que rezaram, demonstraram sua gratidão à Virgem Maria e pagaram suas promessas.

O médico veterinário Rodrigo Dias da Silva, 28, nasceu no Paraná e foi morar em Belém em 2003. Desde então, participa do Círio de um dos modos mais tradicionais da festa: segurando a corda. O símbolo é uma marca deste grande evento que completa, em 2013, sua 221ª edição.

“Cheguei às 5h e a corda ainda estava no chão. Peguei tudo desde o início”, comenta Rodrigo que acompanhou, neste domingo, 13, a procissão que conduz a berlinda de Nossa Senhora da Catedral da Sé até a Basílica de Nazaré. Sua esposa, Priscila Marques, ficou ao lado do marido durante todo o percurso e o ajudava dando-lhe água, como assim o fazem centenas de fiéis que auxiliam os promesseiros.

Ele é um dos milhares de jovens que seguraram a corda tanto na Trasladação do sábado, como na procissão do Círio, no domingo. De acordo com o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Diesse/PA), Roberto Senna, a Trasladação tem sido o ponto alto de procura dos jovens que querem pagar suas promessas na corda.

O órgão divulgou que, entre as 7 mil pessoas presentes na corda do sábado, 90% eram jovens. Roberto Senna explica ainda que o Departamento trabalha com a faixa etária de 16 a 29 anos e que, no total de 1,4 milhão de fiéis que acompanharam a Trasladação, 70% eram jovens.

“O círio desmente qualquer depoimento de que o jovem se afastou da Igreja. Eventos como a JMJ influenciam e, com certeza, o fator Papa teve um grande peso para o Círio 2013”, destaca o supervisor ao enfatizar que a postura do Papa Francisco aproxima a juventude da Igreja. Ele indica ainda que três são as principais motivações dos jovens para segurarem a corda: pagar promessas relativas a estudo, emprego e saúde de familaires ou deles próprios. E muitos deles estavam, pelas ruas, com camisetas e mochilas da Jornada.

Experiência de fé, solidariedade e unidade

Mais de 2 milhões de fiéis participam do Círio de Nazaré

“Não tem como dizer qual foi o melhor Círio. O melhor sempre é o último”, assim também relatou com emoção o veterinário ao contar que busca sempre participar não simplesmente para pagar promessas, mas em gratidão a Deus e à Virgem Maria pelas graças recebidas todos os dias. Apesar do corpo cansado e mãos e pés machucados, Rodrigo afirma estar com sentimento de dever cumprido.

Ao longo da corda, são também perceptíveis os semblantes cansados e os sons ofegantes devido ao aperto e calor. O paranaense ressalta que ali, no meio da corda, todos se tornam iguais: ricos e pobres de diversas culturas e regiões do país se unem numa mesma atitude de fé e de solidariedade. O romeiro que deseja entrar na corda, com a procissão já em andamento, nunca é expulso. Sempre cabe mais um e quem chega depois é ajudado pelos que já estão. Rodrigo até relata as técnicas para entrar, de como segurar a corda e se manter até o fim do percurso.

Outra atitude de solidariedade é aquela dos fiéis que andam paralelamente e auxiliam os da corda, o que se torna também uma espécie de promessa. Muitos deles levam alimentos e centenas de litros de água para jogar ou oferecer a quem segura a corda. Pelo caminho, a sensação é de se formar um verdadeiro chafariz. O movimento da corda, da água pelos ares, dos pés, dos braços, dos sentimentos e dos corações se conjugam, entram em sintonia e se harmonizam numa mesma experiência de fé e esperança.

Não apenas a uniformidade, mas a unidade também se torna tão forte que até sacerdotes encaram a corda. O diretor do Centro de Cultura e Formação Cristã da Arquidiocese de Belém, padre Idamor da Mota, já tinha participado dos diversos eventos relativos ao Círio e só faltava a experiência da corda. “Até minha mãe se espantou, mas resolvi entrar! Estou com os pés moídos, mas com sentimento de alegria”, destaca.


Uma tradição de mais de 200 anos

Criança vestida de anjo participa do Círio 2013

Muitos são os detalhes, eventos, histórias e simbologias da festa que reuniu, no domingo, de acordo com o Dieese, 2,1 milhões de romeiros.

Segundo o site oficial do evento, o trajeto tem uma extensão de 3,6 quilômetros e já chegou a ser percorrido em nove horas e quinze minutos, como ocorreu em 2004, no mais longo Círio de toda a história.

A famosa “corda” começa a ser puxada ainda no sábado, na chamada “Trasladação”, após a Missa presidida pelo arcebispo, no Colégio Gentil, localizado nas proximidades da Basílica de Nazaré. Em seguida, os romeiros seguem com a corda que vem antes da berlinda com a imagem peregrina em direção à Catedral da Sé. No domingo, o Círio faz o mesmo percurso, mas em sentido contrário. Está é uma das simbologias que envolvem a história da devoção: o caboclo Plácido achou a imagem e a levou para sua casa. Entretanto, a imagem misteriosamente voltava para o lugar de origem, onde, anos depois, foi construída a basílica que guarda a imagem original.

Além dos elementos da corda e da berlinda, a procissão apresenta diversas outras manifestações de devoção: fiéis levam objetos relativos às promessas, como maquetes de casas, tijolos, livros, velas, membros do corpo humano em cêra etc.

Além da procissão do sábado e do domingo, a festa agrega outras atividades como, a romaria fluvial, motoromaria, romaria das crianças, dos jovens, Círio Musical, descida da imagem original do “Glória” para o presbitério da igreja, apresentação do manto daquele ano, evangelização da corda pelos movimentos e comunidades da Arquidiocese, além do colorido que toda a cidade recebe. As casas, prédios e empresas costumam enfeitar suas fachadas com balões, bandeiras, fitas e uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

Por Gracielle Reis, com informações do site oficial


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