Artigo: Diga não ao Cristo de Hollywood!

Artigo: Diga não ao Cristo de Hollywood!

No dia 30 de setembro, a Igreja celebra a memória de São Jerônimo, doutor da Igreja, responsável pela árdua tarefa de traduzir a Bíblia de seus originais – hebraico, aramaico e grego – para o latim.

Era o século IV da era cristã e o cristianismo estava se espalhando pelo império romano. Sua tradução ganhou o título “Vulgata” ou seja, “divulgada”, “difundida” e esse nome diz muito sobre sua própria missão: traduzir a Bíblia para a língua oficial romana era uma forma de “globalizar” a Palavra de Deus e de dialogar com as culturas da época. São Jerônimo dedicou toda a sua vida às Sagradas Escrituras e esse amor hoje nos inspira a repensar nossa relação com a Bíblia para conhecer a verdadeira face de Jesus.

Estamos na sociedade da informação. As tecnologias foram criando veias digitais por onde correm na velocidade de uma maratona conhecimentos fragmentados, encaixotados e dispersos. Nem sempre é fácil interpretar com sabedoria o volume de dados que chegam a nós. Nesse contexto, também se multiplicam as informações sobre Jesus.

Há visões apaixonadas, devocionais, sociológicas, históricas, ateias… pode-se encontrar de tudo! Acontece que, mesmo com boa intenção, é comum que Cristo apareça muito mais com o rosto de quem está falando do que com a face que encontramos nos Evangelhos.

Muitos de nós crescemos com a imagem do Jesus Cristo de Hollywood, que está nos filmes de Páscoa e Natal, além das novas séries dos streamings. Cabelos ao vento, longos e sedosos como em comercial de shampoo; traços do rosto, altura e jeito de falar europeus; vive praticamente para fazer milagres e proclamar o Sermão da montanha.

Com isso, deixamos de conhecer um Jesus que procura seus amigos em Betânia e nem sequer faz um milagrezinho ali; que não tem medo de ir a regiões estrangeiras ou falar com gente impura, mesmo com o risco de ser morto; que vive sua relação com o Pai em muitos momentos de oração, particular e comunitária; que é chamado de beberrão e comilão, ou de enviado de Beelzebu; que lida com os sistemas políticos e religiosos judaicos, oferecendo uma nova alternativa de vida, o Reino de Deus, dado a todos, sem distinção…

São Jerônimo dizia que “quem desconhece a Escritura não conhece nem o poder nem a sabedoria de Deus. Desconhecer a Escritura é não conhecer a Cristo” (Isaiam prophetam prologus). De fato, em um mundo no qual o doutoramento acontece pelo número de seguidores em redes sociais, é fácil que se espalhe uma interpretação de Jesus que, em realidade, ignora quem ele é. Por isso, somos convidados a mergulhar nas Escrituras para conhecer o verdadeiro Jesus Cristo e seu plano de salvação e não sermos “joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina” (Ef 4,14), enganados por visões extremistas que constantemente usam Cristo para defender um projeto particular. Diga não ao Cristo de Hollywood e comece hoje a encontrar-se com o Cristo da Bíblia!

Por: Fabrizio Zandonadi Catenassi
Doutor em Teologia, professor na PUCPR. Membro da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblia.

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