[Artigo] Como os Jovens estão vivendo a Fé no contexto urbano?

[Artigo] Como os Jovens estão vivendo a Fé no contexto urbano?

por Dom Nelson Francelino Ferreira,
bispo de Valença (RJ) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

Assistimos hoje a um contínuo afastamento da fé, tanto que as gerações atuais não só estão cada vez menos dispostas a uma vida de comprometida com a fé e os valores do Evangelho, como também crescem num ambiente não propício ao cultivo de uma religião. Na crise contemporânea, a vertente religiosa já não encontra espaço nas famílias, lugar onde deveria ter raízes: entre separações, divórcios, má comunicação e uma difícil relação pais e filhos, o cultivo da fé num núcleo familiar sofre acentuados retrocessos , embora a fé poderia ajudar a resolver a maioria das diferenças vividas no espaço familiar.

De fato, a fé pode representar um importante ponto de referência, um guia, em um mundo cada vez mais difícil, onde há muitos momentos de incerteza e barreiras a serem superadas. Os jovens tendem a considerar a religião não mais como uma escolha, mas como uma imposição, cheia de obrigações e constrangimentos.

Batismo, Comunhão, Confirmação e Casamento: não são poucos os que veem os sacramentos tradicionais como obsoletos, enquanto outros não têm ideia do que sejam e muitas vezes acabam por abordá-los por opção alheia ou para fins diversos do credo.

A Confirmação, por exemplo, representa a confirmação do Batismo e, portanto, deve ser uma escolha fundamentada e pessoal, mas muitas famílias a impõem aos filhos que ainda não têm a maturidade certa para decidir por conta própria; em outros casos, é realizado apenas em antecipação ao casamento, porque na ausência dele o padre pode não efetuar deles.

Os jovens dizem que quando vão à igreja e ouvem certos sermões e certos valores propostos da melhor maneira possível, correm o risco de até perder a fé.

Um dos principais muros que separa a Igreja dos jovens de hoje é a comunicação, objetivo que deveria ser alcançado durante a missa, mas que está a anos-luz da sua realidade atual. Não é mais possível ter uma sensibilidade, mesmo de linguagem litúrgica, capaz de atingir os jovens e suas questões.

Quando um jovem de dezesseis anos vai à missa manifesta tédio e indiferença, prefere não ouvir ou, se ouve, o faz superficialmente. Também as homilias, nas quais se comentam e explicam passagens dos textos sagrados, são triviais ou às vezes demasiado complexas. Além disso, os adolescentes não se contentam com as palavras dos padres, procuram certezas, explicações credíveis e respostas concretas. Por isso, hoje cada um busca e vive a própria experiência religiosa de maneira diferente como se vivia antigamente.

Os jovens na atualidade formam uma geração que não é contra Deus nem contra a Igreja, mas vive sem Deus tranquilamente, relativizando-O; perdeu o encanto pela fé e pela vida espiritual. Em geral, a sua formação religiosa circunscreve-se à infância e adolescência e coincide com o período da escolaridade obrigatória. Eles abandonam a prática religiosa e, muitas vezes, até a fé, logo após receberem o sacramento da confirmação. Para muitos jovens, de fato, o próprio momento da confirmação da escolha livre e consciente de ser cristão coincidiu com a despedida da Igreja. Prova disso é que mais da metade dos jovens de 18 a 34 anos pensa que a crise ou o desaparecimento da Igreja não representa um perigo para a sociedade.

Por isso, temos que empenhar-nos na implementação do caminho catecumenal, inserindo nossas atividades dentre de um caminho de iniciação cristã de nossa juventude, com uma linguagem querigmática.

 

 

Dom Nelson Francelino Ferreira, bispo de Valença (RJ) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

 

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