A Cruz no Brasil sob um olhar italiano: a peregrinação na Diocese de Zé Doca (MA)

A Cruz no Brasil sob um olhar italiano: a peregrinação na Diocese de Zé Doca (MA)

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Sexta-feira, às 8 horas: encontro marcado na BR-316, na ponte do Rio Pindaré, limite com a Diocese de Viana. Começa aqui a peregrinação da Cruz da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na Diocese de Zé Doca, noroeste do Estado do Maranhão, na região Nordeste.

Tudo aqui é imenso: o Maranhão tem uma área maior do que a Itália, mas com menos de 6,5 milhões de habitantes. A Igreja é uma presença viva numa área com muitos problemas: o Maranhão é, entre as 27 unidades da Federação, aquele que tem menor renda média per capita.

CruzZeDoca4O programa prevê que a peregrinação da Cruz, na Diocese, se estenda por três dias. O bispo Dom Carlo Ellena, natural de Turim, mas há quase 40 anos nestas terras, escolheu, junto com os seus padres, levar a Cruz a todas as 16 paróquias da Diocese: uma área geográfica maior do que as regiões italianas de Piemonte, Val de Aosta e Ligúria juntas, onde moram, porém, menos de 350.000 pessoas. Os católicos são 300.000, mais ou menos, embora haja o proselitismo capilar e premente das denominações evangélicas.

Jovens, adolescentes e meninos, chegados de qualquer forma e com qualquer meio, acolhem a Cruz, transportada sobre um caminhão, junto com o Ícone da Virgem Maria, em uma explosão de cantos e fogos  de artifício. Interrompe-se o trânsito da importante estrada BR-316, São Luís-Belém. Carretas, ônibus e carros aguardam com muita paciência: todos unem-se com entusiasmo. É apenas o início de uma festa do povo, que durará ininterrupta durante três dias e três noites.

Toda vez que a Cruz chegar em uma paróquia, encontrará uma grande quantidade de jovens para a acolher no ingresso da cidade, sem problema se for madrugada, debaixo do sol escaldante, no desabar de um chuva ou no coração da noite.

Ao longo da estrada, os povoados enfeitam a própria capela com flores e faixas: o povo se apinha para assistir, embora por poucos minutos, ao passar da carreata formada por motos, carros, caminhões e ônibus que acompanham a Cruz. Perante tanta espera não é possível não parar, para partilhar ao menos um canto e uma oração.

A primeira etapa da peregrinação é uma aldeia de índios, bem na beira da BR-316: eles nos acolhem orgulhosos nos trajes tradicionais deles, entoando cantos e acompanhando-os com danças. O bispo os cumprimenta com afetuosidade, explica o sentido da peregrinação e reza com eles.

Chegamos, assim, à primeira paróquia, onde a Cruz ficará durante duas horas. Cada paróquia tem liberdade de organizar o tempo que lhe é reservado: algumas comunidades celebram a santa missa, outras rezam o Ofício da Juventude ou o Terço. Na maioria das vezes a Cruz é levada em procissão pelas ruas da cidade. Nunca falta a palavra do bispo. Impressiona sempre a participação do povo pelo número e pela qualidade: os jovem levam em procissão a Cruz e o Ícone, tirando os cantos, mas todos, meninos, adultos e idosos, tomam parte do evento, que se torna ocasião de oração e de fé para a comunidade toda. Quem consegue, aproxima-se da Cruz para beijá-la. Cada um gostaria ter uma foto como recordação.

CruzZeDoca3Chegando em todas as paróquias, a peregrinação nos facilita o conhecimento de uma diocese do Nordeste. Zé Doca tem duas realidades: a primeira é constituída por cidades (a maior é de 50.000 habitantes) e povoados que se formaram ao construir a BR-316: aqui, 50 anos atrás, só havia floresta. A população é formada pela maior parte de imigrados de outros Estados do Nordeste que chegaram com a esperança de encontrar um pouco de terra para trabalhar.

A segunda realidade é constituída pelas cidades que se encontram no litoral: estes são grupos mais estáveis, principalmente dedicados à agricultura e à pesca. Não há indústrias, somente há um pouco de comércio e trabalhos artesanais. Televisão e internet chegam em todos os cantos. Cada jovem tem no bolso o telefone celular. Também nos vilarejos afastados, aonde chega a energia elétrica, entre as casas de taipa ou de palha, aparece uma antena parabólica.

A cidade de Zé Doca nos espera no momento central da peregrinação: a ordenação diaconal de três seminaristas. À liturgia na catedral segue um coquetel oferecido a todos. A festa prossegue com um espetáculo de cantos, que continua até às 2 horas da madrugada. Depois, novamente em caminhada, pois nos está esperando a comunidade de Araguanã. Aqui a Cruz ficará até às 7 horas.

Às 06:00 horas o bispo celebra a santa inaugurando a nova igreja: por enquanto há apenas os muros, o telhado e as janelas. O que falta virá com o passar do tempo.

O sábado é um verdadeiro empenho de boa vontade e de força de animo: em 24 horas passamos em 7 paróquias. Faltarão ainda 6 para o domingo. Quando a Cruz chega em Maracaçumé, já é uma hora de madrugada. Tudo acontece e se desenrola na praça da cidade: na espera da missa, que acontecerá às 6 horas da manhã, os jovens cantam e rezam perante a Cruz.

CruzZeDoca2Carutapera, no litoral, é a etapa conclusiva desta experiência única. A Cruz entra na igreja paroquial às 2 horas da madrugada do domingo: depois da oração e da saudação do bispo, a festa dos jovens continua na praça.

Quando, às 5 horas da manhã, entoa-se o último canto, sobre o inevitável  cansaço prevalece a consciência de ter participado de um evento de graças: a Cruz de Cristo é verdadeiramente o grão de trigo que cai na terra e morrendo dá vida. A Diocese de Zé Doca tem certeza de que esta semeadura generosa trará frutos abundantes. Ela viveu uma experiência extraordinária, mas não fechada em si mesma: a participação coral, o entusiasmo e a oração nos confirmam na certeza de que o bem é mais forte do que o mal e de que existem razões fundamentadas para acreditar nos jovens e na capacidade deles de construir um mundo melhor.

Segunda-feira, às 6 horas: a Cruz é colocada novamente no caminhão. A carreata se move rápida. Precisamos chegar à Diocese de Pinheiro, próxima etapa da sua peregrinação brasileira em vista da Jornada do Rio de Janeiro. Às 9 horas estamos em Turilândia para a entrega ao bispo de Pinheiro. Ainda um momento de oração entre cantos e manifestações de alegria de quem está para viver o que para nós já é entregue à memória.

Bento XVI espera a todos no Rio de Janeiro!

Por Padre Mauro Rivella

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