Um padre, muitos jovens e uma mochila

Um padre, muitos jovens e uma mochila

Fotos: POM – Pontifícias Obras Missionárias

Acompanhe o testemunho do Pe. Roberto Cesar, do Paraná, sobre a experiência vivenciada no III Missão Sem Fronteiras, em Viamão (RS)

Nos dias 25 a 28 de fevereiro de 2017, na Paróquia Nossa Senhora das Graças, havia se passado apenas seis meses desde a implantação da Juventude Missionária, assessorada pela Equipe do Regional Sul II (Estado do Paraná), em cuja ocasião acolhi na Casa Paroquial três jovens assessores, que tinham algo de especial no seu ser Igreja. Naquelas festividades carnavalescas do ano de 2017, já não eram três jovens, mas dezenas de jovens do Paraná e uma jovem missionária de Santa Catarina que estavam mais uma vez na casa do Padre, para a realização da II Missão Interestadual da Juventude Missionária, organizada por este Regional.

Foi algo totalmente novo na vida de um sacerdote, contemplar naqueles rostos jovens, a decisão de sacrificar a alegria das festas de Carnaval, em vista do anúncio da Alegria do Evangelho, e assim contemplar neles o rosto da Igreja em Saída. Passaram-se mais seis meses e mais uma vez nossa paróquia acolhia as lideranças da Juventude Missionária, para a sua formação anual. Foi assim que estes jovens missionários, como agradáveis intrusos, adentraram na vida deste sacerdote que vos escreve, e que deram a razão para eu participar da III Missão sem Fronteiras, nos dias 11 a 21 de Janeiro de 2018, na cidade de Viamão (RS), com sentimento de gratidão e de comunhão na missão. E posso dizer que assim foi o meu Diário de Viagem na III Missão sem Fronteiras…

“… eu ganhei a minha primeira mochila!”

Estar com os jovens missionários do meu estado como companheiros de viagem não me inquietava, pois já os estimava como bons amigos. Ir para outra cidade, ser acolhido fraternalmente por irmãos sacerdotes e também ter uma família que fez de seu lar o meu lar também já era algo que eu conhecia e que não me causava estranheza. Entretanto, eu sentia uma inquietude, como seria um sacerdote (na fase adulta) missionário entre dezenas de jovens das diversas regiões do Brasil e do além-fronteiras, jovens em missão vindos do Paraguai?

Pe. Roberto Cesar

Bastaram alguns dias para que esta inquietude cessasse, devido à convivência antes do início oficial da Missão, sob a sombra das árvores, nas rodas de conversa, de música, de brincadeiras e do tal do chimarrão, momentos muito enriquecedores e integrativos na Chácara dos Padres da Rede de Comunidades Santa Cecília. Eu já vivi outras experiências missionárias muito profundas como seminarista e mesmo como padre. Porém, nesta missão, eu ganhei a minha primeira mochila! Algo simples, mas com um sentido muito forte, pois no pouco tempo de acompanhamento dos trabalhos da Juventude Missionária, pude sentir a grandeza e o sentido da mochila na vida de um jovem missionário… símbolo de despojamento e de valorização daquilo que é essencial para a vida e para a missão… e o ganhar a mochila foi como poder comungar do mesmo sentimento e sentir-se acolhido na vida destes jovens.

“E o tempo de encher a mochila”

Tudo aquilo que vivi nos dez dias da experiência missionária em Viamão, partilho como frutos essenciais que colhi e pude trazer na mochila de volta para minha casa. Na minha mochila, eu trouxe famílias que abriram suas casas, para fazer do tempo da missão, uma vida num lar de amor e fraternidade, concedendo um lugar para o repouso na noite e também momentos agradáveis de partilha do pão e do chimarrão, de histórias, de sonhos e de vida. Trouxe em minha mochila, os frutos de um retiro, simplificados no colocar-se no caminho, no olhar que me possibilita o encontro com o próximo e com Deus, na partilha da própria vida e no envio a um povo, com uma história tão rica e peculiar, que vive em Viamão. Trouxe a experiência das visitas missionárias nas áreas rural e urbana, no Assentamento Filhos de Sepé e na Paróquia Santa Isabel: com suas cruzes, como a marca que a insegurança e a violência deixam na vida das famílias, fazendo com que elas se isolem tanto dos inimigos como também dos “amigos”, como nos diz a Igreja na Campanha da Fraternidade deste ano; contudo também com grandes alegrias, como a acolhida simples e fraterna, a fé de quem rezou e partilhou sua vida conosco.

Algumas experiências encheram mais a mochila, como a acolhida e a partilha de fé e amor fraterno com pessoas de outras experiências religiosas como a umbanda, a superação de um artista plástico que não deixou a enfermidade impedi-lo de manifestar a sua arte, mesmo estando longe das grandes exposições e o exemplo de um casal, que buscam manter vivos os sonhos na vida de crianças carentes da periferia de Porto Alegre e que tem uma bela inspiração num pequeno riacho, que faz parte do quintal de sua casa.

“E trouxe um pouco da Fonte da Vida Juvenil”

E falando em riacho, trouxe comigo a água da fonte da vida que jorra do coração missionário da Juventude, cujo rosto eclesial encheu ainda mais a minha mochila. Sendo padre, a experiência na Chácara Quinta da Estância, me permitiu ver que o jovem quer um pastor que caminhe com ele e que comungue do seu ideal, e que para um sacerdote acompanha-lo é sempre necessária a coragem de se lançar às águas mais profundas, com um sim constante, mesmo que seja num bote improvisado sobre duas boias e alguns bambus, sendo o mais importante o remar juntos. Sendo companheiros de outros jovens acolhidos em famílias diversas, trouxe em minha mochila a certeza de que os jovens são capazes de transfigurar a realidade na qual estão inseridos e podem dar um rosto jovial a toda a Igreja, uma vez que foi impossível não notar a alegria e o brilho no olhar daquelas famílias que os acolheram e que se fizeram missionárias com os jovens missionários e também homens e mulheres, que se admiravam ao encontrar jovens que tinham tempo para ouvi-los e para lhes transmitir uma palavra amiga.

u também trouxe a certeza de bons profissionais, que saberão colocar a sua vida e o seu conhecimento a serviço dos irmãos pelas oficinas realizadas. Enfim, eu trouxe comigo o ardor missionário, a fé que inquieta, o testemunho de uma esperança concreta, uma porção de amigos e a possibilidade de sonhar com um mundo melhor, assim como foi possível um jardim tornar-se belo novamente, pela ação solidária destes jovens, no último dia de visitas às famílias.

“E eu continuo a levar a mochila”

A mochila se tornou plena de tantas alegrias, sentimentos, cruzes. E a III Missão Sem Fronteiras continua no meu sacerdócio. Muito mais que dez dias cronológicos, os frutos desta experiência missionária se eternizam no tempo (Kairós) de Deus. Por isso, cabe a mim e a cada jovem missionário, fazer com que seus frutos continuem a se multiplicar. O lema “Procura ser um exemplo para quem crê” (1Tm 4,12) foi um mandamento entregue a cada missionário e missionária nesta missão sem fronteiras. E ao encerrar este diário, continua ecoando em mim, este lema, no qual rezei e rezo a cada dia: Padre, procura ser um exemplo ao jovem que crê! Que Deus abençoe a todos e muito obrigado por esta bela experiência de vida. JOVENS MISSIONÁRIOS, SEMPRE SOLIDÁRIOS!

 

Por Pe. Roberto Cesar, Diocese de Campo Mourão (PR)

Publicado pelas Pontifícias Obras Missionárias – POM

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Email