Mais uma vez iniciamos a Quaresma: Quarta-feira de cinzas… Jejum, penitência, oração! Palavras que anualmente repetimos. O que estas palavras realmente significam para nós? A que práticas nos motivam? Cabe-nos refletir sobre isso, pois, quando falamos da graça de Deus, não existe “outra vez”, mas cada oportunidade é sempre nova para crescer na experiência de seu amor.
Este tempo, convida-nos em primeiro lugar à revisão de vida. O crescimento humano e espiritual só acontece quando nos damos conta do caminho percorrido e do percurso ainda por vir. Sem uma parada para tomar consciência de onde estamos, podemos tomar a direção errada e nos perdemos no caminho. Afinal, só quando percebemos que estamos na rota errada, é que podemos atualizar as rotas do nosso GPS. Assim acontece na vida espiritual. A quaresma é esta parada tão essencial para que nos demos conta de como está o nosso compromisso com o seguimento do Senhor. Aproveite, pare, reflita, olhe para você mesmo à luz da Palavra de Deus e deixe que este tempo abra novas perspectivas para sua vida e vocação cristã.
É tempo de preparação. A meta não é a “quaresma”, mas sim a Ressurreição e todo grande evento precisa ser preparado com cautela, com dedicação e esmero. O mistério pascal é o centro de nossa fé! Celebramos nossa salvação, nossa possibilidade de participar da vida divina, aderindo plenamente ao projeto do Pai. A preparação para a celebração da Páscoa, lembra-nos que estamos nos preparando para a Vida Nova, a felicidade plena em Cristo e que esta preparação implica num processo de “crucificação”, de identificação com Cristo, de vitória sobre as dificuldades que encontramos no dia a dia para a nossa santificação e nossas lutas por justiça, paz, vida… A quaresma nos lembra e intensifica nossa preparação à vida plena, recordando-nos que buscamos a felicidade em Deus e que só Ele nos pode saciar.
Ao celebrarmos como Igreja, povo de Deus a caminho, aprofundamos também nossa experiência comunitária, aspecto essencial da fé cristã. Logo, estes quarenta dias nos trazem a oportunidade de exercitarmos a solidariedade. Ao contemplar o crucificado, somos tomados de compaixão. Também as privações penitenciais que fazemos, colocam-nos em contato com nossas misérias humanas. Tais práticas nos convidam a abrir-nos para o irmão mais necessitado, para o que precisa de conforto, de perdão, de ensinamento, de pão… Por esta razão a Igreja do Brasil nos propõe a Campanha da Fraternidade, que nos leva a refletir sobre a realidade concreta em que vivemos. Este tempo de penitência e conversão é tempo de exercício de compaixão, porque imitadores de Jesus Cristo, o vemos cheio de compaixão, curando, repartindo o pão, amando até o fim.
Seja esta quaresma, única e capaz de nos transformar em jovens mais comprometidos em imitar Jesus na sua paixão, morte e ressurreição, vivendo com paciência os percalços da vida, servindo e lutando pelo bem dos irmãos e irmãs e, sobretudo, cheios da esperança de vida nova, que o Senhor nos prometeu.
Por Irmã Valeria Leal, Apóstola do Sagrado Coração de Jesus.
Assessora interna da Comissão Episcopal
Pastoral para a Juventude.