Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional II

Os jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional II

A ação pastoral é o foco desta segunda parte da refexão sobre o próximo Sínodo dos Bispos, que em outubro de 2018 reunirá o episcopado mundial sob o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

No primeiro artigo sobre o Sínodo dos Bispos, aprofundamos os temas: “Os jovens e o mundo de hoje” e “Fé, discernimento, vocação”. Agora, será tratado o terceiro tema central do sínodo, a “Ação pastoral”. O Papa Francisco propõe passos pedagogicamente fenomenais que ajudam o adulto e o jovem a tomarem consciência da sua vocação de discípulo e missionário.

O primeiro item aponta ferramentas fundamentais para caminhar com os jovens, ressaltando que é preciso abandonar esquemas antigos e se adequar ao tempo e ao ritmo da nova geração sem perder a essência do Evangelho. É preciso considerar a liberdade e a criatividade dos jovens; criatividade essa que, bem acompanhada, ajuda na renovação da própria comunidade. Podemos dizer que um cristão alegre faz uma Igreja alegre e renovada. Para fazer bem esse caminho, o Papa diz que é preciso tomar consciência de três verbos: Sair, Ver e Chamar.  Sair: da rigidez que torna menos credível o anúncio da alegria do Evangelho. Sair também é sinal de liberdade, que impulsiona a deixar as preocupações habi­tuais e possibilita atrair os jovens para Cristo. Ver: só é possível quando convivemos com os jovens, conhecemos sua cultura, nos preocupamos em saber sua história. Os Evangelhos por várias vezes narram o encontro de Jesus com homens e mulheres do seu tempo. No caminhar com os jovens se percebe toda sua grandeza e fragilidade, ao mesmo tempo que uma porta enorme se abre para que o Evangelho se faça carne. Lucas, no capítulo 24 do seu Evangelho, mostra que Jesus não se contentou em ver de longe os dois jovens que caminhavam para a cidade de Emaús. Jesus quis caminhar com eles e escutou a sua história de vida. Jesus resgatou o projeto de vida daqueles dois jovens e os animou a seguir adiante. Chamar: segundo o Papa Francisco, chamar significa “despertar desejo, mover pessoas daquilo que as mantém bloqueadas ou das comodidades para as quais inclina” (Documento da Igreja – 33, p. 39, Edições CNBB). Em Lucas 24, após um logo caminho de diálogo com os dois jovens, os mesmos se sentem chamados por Jesus para retomar seu projeto de vida. São estimulados a anunciar o encontro com Jesus no partir do pão.

Sujeitos da história 

O Papa lembra que todos os jovens são sujeitos, e não objetos. Olhar os jovens nessa perspectiva signifca que devemos fazer missão “com” e não “para” a juventude. Não devemos imitar a sociedade, que na maioria das vezes usa os jovens segundo seus interesses, transforma ­ os em produto de consumo, descaracterizando o sujeito e impondo a marca comercial. O Pontífce lembra que a comunidade deve olhar com atenção os jovens mais pobres, pois são os que mais sofrem. Eles são excluídos de todas as possibilidades de serem sujeitos.

A Igreja é chamada a aprender com os jovens que são, na sua maioria, misericordiosos. A socióloga Helena Abbramo lembra-nos que cada juventude é flha do seu tempo, ou seja, da sociedade em que vive. Se a

sociedade é justa e fraterna, a juventude vai incorporar esses valores e desenvolvê-los. Se a sociedade é consumista e violenta, isso também afetará o comportamento juvenil.

O Papa nos mostra que uma comunidade responsável será capaz de construir pessoas sadias e dar esperança aos jovens. Todos são responsáveis: autoridades, pais, escola, pastores etc. Os jovens são carentes de referenciais e precisam ver e conviver com pessoas que cultivem valores.

Lugares da ação pastoral

Ainda dentro da ação pastoral, o documento preparatório do Sínodo nos leva a olhar para os lugares onde os jovens vivem. Os primeiros lugares são a vida cotidiana e o compromisso social: os jovens vivem um contexto de insegurança por causa de tanta violência, desemprego, falta de perspectivas. Isso faz que os jovens não tenham grandes preocupações com o compromisso social, pois a sociedade deixa transparecer insegurança. Eles estão descrentes das estruturas. Diante desse cenário, fica difícil motivar os jovens a serem pessoas comprometidas com a sociedade. Por outro lado, o Papa tem incentivado os jovens a terem algumas iniciativas, como o voluntariado. Acredita-se que, através dessas pequenas iniciativas, os jovens poderão contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna. Ou melhor, acredita ­ se que o mundo pode mudar através dos jovens. No âmbito específco da pastoral, é possível realizar ações que apoiem os jovens nessas suas iniciativas.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) contribui para que os jovens, unidos em torno de Cristo, se motivem para o bem. Também as ações pastorais nas paróquias e dioceses devem dar espaço ao protagonismo juvenil, para que jovens sejam “senhores da história” e, por meio dos grupos e movimentos, se unam pela causa do Evangelho e lutem pelos direitos humanos, cuidem dos mais pobres e propaguem a fé. Faz ­ se necessário que a Igreja ajude a educar os jovens a fazerem o bom uso (ético) das novas tecnologias e, ao mesmo tempo, valorize esses meios e a capacidade dos jovens no domínio dessa ferramenta para a divulgação e expansão do Reino de Deus.

Instrumentos e percursos da evangelização 

O Papa Francisco fala de instrumentos que neste sínodo não se podem perder de vista. A linguagem pastoral muitas vezes não se abre para a linguagem dos jovens, embora haja experiências profundas. A proposta da lectio divina e os espaços litúrgicos devem considerar a linguagem juvenil para que os jovens se sintam envolvidos no Mistério. A Igreja deve investir na arte sacra e na musicalidade juvenil para que a semente do Verbo possa germinar no coração dos jovens. A Igreja também precisa estar atenta aos percursos da evangelização. Utilizar as ferramentas pedagógicas e educativas que podem apoiar no processo de evangelização dos jovens. Os percursos de aproximação da fé devem considerar que muitos chegam mais tarde ao conhecimento de Cristo, e a iniciação cristã precisa estar aberta a esse contexto.

Por fim, o Papa lembra que o desafo das comunidades é serem acolhedoras, compostas por cristãos alegres, que sejam capazes de contagiar aqueles que os encontram. Que tenham Maria como modelo de cristã que nunca se cansou de viver Cristo em sua vida e que sempre abriu portas para que o Evangelho de seu Filho Jesus fosse conhecido.

Por Padre Antonio Ramos do Prado, SDB 

 

 

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