E Jovem… Se confessa!? Orientações para uma boa confissão

E Jovem… Se confessa!? Orientações para uma boa confissão

“Eu aqui me dirijo aos meus irmãos confessores: por favor, irmãos, perdoem tudo, perdoem sempre, sem colocar muito o dedo nas consciências. Deixem que as pessoas digam suas coisas e vocês recebam isto como Jesus, com a carícia do seu olhar, com o silêncio da sua compreensão. Por favor, o sacramento da Confissão não é para torturar, mas é para dar paz. Perdoem tudo, como Deus perdoará tudo a vocês. Tudo, tudo, tudo.” (Papa Francisco na celebração penitencial na paróquia romana de Santa Maria das Graças “al Trionfalo” – 17 de março de 2023)

Estamos na Quaresma, tempo dedicado à preparação para o maior acontecimento cristão, a Páscoa. Confessar-se, especialmente para a celebração da Páscoa, é entregar-se à conversão com Espírito novo para uma vida nova.

Confessionário a céu aberto reuniu milhares de jovens no Vaticano Foto: Angelo Carconi / AP

O que é Confissão?

Para se falar de confissão devemos pressupor o pecado. Confessar é admitir e revelar a culpa, o pecado; muitas vezes aquilo que estava íntimo e oculto. Confessa-se por estar arrependido e por desejar pedir perdão e consertar o erro cometido. Às vezes alguém pode confessar uma coisa boa. Confessar ou admitir que foi você quem fez uma boa ação escondida, por exemplo. No caso do Sacramento da confissão, o que se deseja é, reconhecendo o pecado que cometemos, pedir perdão a Deus por meio do seu ministro na terra, o sacerdote. Portanto, reconhecer o pecado é fundamental na confissão.

Diz a Palavra do Senhor na Primeira Carta de São João: “Se dissermos que estamos em comunhão com ele, mas andamos nas trevas, estamos mentindo e não nos guiamos pela verdade. Mas, se andamos na luz, como ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Jesus nos purifica de todo pecado. Se reconhecemos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar e nos purificar de toda culpa” (1Jo 1,6-7.9).

O amor misericordioso

Antes de continuar a leitura é muito importante que você dê atenção especial a esse ponto. Sem uma experiência de fé, uma experiência no Amor de Deus, é impossível reconhecermo-nos pecadores e nos arrependermos. É como colocar o carro diante dos bois. Somente encontrando pela fé a pessoa de Jesus na nossa vida, somente no encontro do amor misericordioso podemos ter a maravilhosa experiência do perdão.

A confissão é esse encontro com a misericórdia de um Deus apaixonado por nós. Antes que você queira ir confessar os seus pecados, Deus mesmo está ansioso para lhe perdoar. É a graça que vai ao encontro do pecador, o Pai corre ao encontro do filho pródigo quando ele ainda está longe. Lembre-se disso: a misericórdia de Deus é invencível!

Rezemos com o que nos fala o Senhor através da carta de São Paulo aos Romanos:
“Depois disso, que nos resta dizer? Se Deus está conosco, quem estará contra nós? Quem não poupou o seu próprio Filho e o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele? Quem acusará os eleitos de Deus? É Deus quem justifica. Quem condenará? Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direta de Deus e que intercede por nós? Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada?… Mas em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou. Pois eu estou convencido que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os podres, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,31-39).

Mas, afinal, o que é o pecado?

É uma ofensa feita a Deus, uma desobediência aos seus mandamentos, à sua Palavra. Jesus resumiu em uma só frase toda a Lei e todos os mandamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. (Cf. Mt 22, 38-40) Eu vou detalhar aqui, com base no Catecismo, as inúmeras formas em que, na nossa vida, no nosso dia a dia, podemos desobedecer a essa Lei fundamental de Deus. As inúmeras formas de não amar é o que chamamos pecado.

É tão simples mas tão sério ao mesmo tempo! O pecado, qualquer pecado, é uma forma de desamor, de egoísmo, de falta de amor para com Deus, para com o próximo e para com nós mesmos. O Sacramento da confissão (também chamado de Penitência ou Reconciliação) é a forma mais eficaz deixada por Jesus para que nos reconciliássemos com Deus. Podemos ver isso de modo mais claro no Evangelho de João, capítulo 20:

“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’. Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio’. E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: ‘recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,19-23).

Não está certo dizer “eu me confesso somente com Deus”

Na verdade, quando nos confessamos a um sacerdote, não estamos pedindo perdão ao padre, mas a Jesus que nos perdoa e nos reconcilia com Deus por meio do ministro da Igreja. Somos um só corpo, todos unidos pela fé e pelo Batismo uns com os outros em Jesus Cristo. A Igreja é, por assim dizer, o Corpo Místico de Cristo. Por isso, o pecado, mesmo o mais escondido e intimo, fere a Igreja.

Por exemplo: quando eu dou uma martelada no dedo, não é só o dedo que sofre, quando eu corto uma veia do braço, a cabeça não diz assim: “Se cortou, miserável? Bem feito, pois pode se lascar aí que eu não tenho nada a ver com isso!”. Quando nos confessamos, reconciliamo-nos também com a Igreja. É muito importante entendermos isso. A graça de Deus, que nos salva, vem a nós por meio da Igreja.

Quando Confessar?

Este é um assunto que poderia ser muito longo, mas vou comentar em poucas linhas. O meio normal para se obter o perdão dos pecados graves é somente o Sacramento da Reconciliação
ou confissão. Por isso, você deve confessar sempre que tiver consciência de ter cometido um pecado grave ou, no mínimo, uma vez por ano como prescreve a Santa Igreja.

Os pecados veniais são perdoados pela penitência do dia a dia, pelo oferecimento de si mesmo, pelo jejum, pela esmola, pela oração, adoração, sacrifícios, enfim, pelo amor que se manifesta a Deus que cobre o desamor que o pecado manifestou. Por outro lado, se eu quero caminhar seriamente com Jesus, é muito valiosa a confissão frequente, praticada por uma multidão de santos, conhecidos ou anônimos, do passado e do presente. A confissão frequente ajuda a manter a nossa consciência sempre alerta e limpa, aumenta o nosso senso de responsabilidade e nos dá força na luta contra o pecado. É uma graça imensa de Deus que está à nossa disposição.

Muitas pessoas não confessam ao sacerdote por medo e vergonha. Dizem que é desagradável, que não gostam etc. Eu diria que elas têm razão. Não é agradável reconhecer os nossos pecados e contá-los a outra pessoa, porém a gente não toma remédio porque é gostoso, mas porque é necessário! Além do mais, é a prática da confissão frequente que ajudará, aos poucos, a ir perdendo a rejeição normal que pode haver com relação à confissão.

“Não é um problema; trata-se de uma coisa boa. Se te envergonhas, quer dizer que não aceitas aquilo que fizeste. A vergonha é um bom sinal, mas, como qualquer sinal, convida a ir mais longe. Não fiques prisioneiro da vergonha, porque Deus nunca Se envergonha de ti. Ama-te mesmo no ponto em que te envergonhas de ti mesmo. E ama-te sempre”. (papa Francisco em Bratislava, 14 Set. 21)

Claro que eu não vou me confessar cada vez que tiver a mínima impaciência. Até porque não existem padres suficientes para isso, e você iria torrar a paciência dos poucos padres que existem. O aconselhável é confessar uma vez por mês ou mais frequentemente, dependendo da necessidade e possibilidade.

“Padre Léo, eu estava afastado da igreja havia mais de 10 anos. Fui levado por um amigo (o Raylanno) para a fila de confissão. Nesse tempo em que estive afastado, uma das coisas que eu mais pensava é que nós não precisamos da confissão para pedirmos perdão a Deus, assim como não precisamos ir à igreja para conversar com Deus. Nesse dia que fui fazer as confissões dos meus pecados, o padre era você. Minha mão gelou e logo o sentimento de culpa veio à tona. Tive uma sensação enorme de vergonha em tocar no assunto que eu iria confessar. Lembrei de cada momento que fiz coisas erradas e percebi o quanto eu estava longe de Deus. Percebi que longe da Igreja, do sacra- mento da confissão e da Comunhão, eu ficava mais duro. Naquela confissão, falei superficialmente dos meus pecados tamanha era minha vergonha. Porém, quem estava ali não era o Padre Léo, era o próprio Cristo que me olhava com compaixão e misericórdia. Ao final, sorriu pra mim e disse “Seus pecados estão perdoados”. Eu então perguntei: “Não vou ter penitência?” È dai ele falou “Coragem, filho! Sua força em lembrar dos pecados e falar sobre eles são sua penitência! Os teus pecados estão perdoados. Vai em paz e o Senhor te acompanhe”. Dias depois, fiz meu 1º Seminário de Vida no Espírito Santo e fiz uma nova confissão mais detalhada dos pecados, a partir dai fui sentindo o amor e o cuidado que Deus tem comigo. Tudo começou naquela confissão.” Evilásio Lucena, 26 anos – Doutorando em Engenharia de Teleinformática

Não desanime! Vale a pena!

Vale a pena lutar, caminhar, mesmo caindo e levantando, mas sem desanimar jamais! Deus nos perdoa sempre e vai olhar para o nosso amor, o nosso desejo, não para a nossa fraqueza. O importante é amar, é buscar a santidade. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é ser santo. Só quem já experimentou o verdadeiro amor sabe reconhecer o desamor no seu coração. Não esqueça de, antes de mais nada, pedir ao Espírito Santo que ilumine o seu coração, Mãos à obra!

 

por Padre Leonardo Wagner | Livro: “E Jovem… Se Confessa!” (Edições Shalom)
Padre diocesano ordenado em 2002 na Arquidiocese de Fortaleza, mestre em teologia sacramental pelo Ateneu Santo Anselmo em Roma e atualmente trabalhando na Administração Apostólica São João Maria Vianney “Ad sperimentum”.

Extra: Guia de Confissão

Aproveitamos a oportunidade para divulgar uma iniciativa que foi incentivada pelo Papa Francisco e proposta em cartaz junto dos confessionários da Paróquia de Our Lady Queen of Peace (Dublin, Irlanda), de sacerdotes da Prelazia do Opus Dei, onde explica aos fiéis como é simples confessar-se. A iniciativa fez com que muitos se aproximassem, de novo, do sacramento. O guia inclui algumas perguntas para facilitar o exame de consciência. Vale a pena também aplicar em nossa realidade, que tal? Segue os arquivos:

Autores: Pablo Ramírez e Jesus Gil.
Tradução e adaptação: Marina Alonso

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