O que está por trás do coração e mente de uma vida conectada? 3° texto da série Rumo à presença plena

O que está por trás do coração e mente de uma vida conectada? 3° texto da série Rumo à presença plena

III. “Do encontro à comunidade”

por Gracielle Reis

 

Deslizar com o dedo a tela do celular e, muitas vezes, freneticamente num entra e sai de diferentes aplicativos; interagir com pessoas, bloquear outras; ter que dar conta de tantas mensagens nos grupos de WhatsApp; assistir a um filme ou série; buscar atrair seguidores e ser fã de outros; encontrar pessoas que não se via há anos; fazer novas amizades, até para um date; fazer dancinhas no TikTok e levar para o Reels; achar engraçado posts de mães e tias no Facebook; postar fotos “instamagráveis” de fazer inveja pelas viagens realizadas; inscrever-se nos canais dos youtubers; estar por dentro de assuntos bombásticos no Twitter; apresentar uma imagem séria no LinkedIn, afinal isso vai ter um pessoa na hora de conseguir um emprego…

Alguém se identifica?
Pois bem, essas e muitas outras ações são bem comuns na atualidade. Mas o que está por trás disso no coração e mentes de qualquer usuário das redes? O desejo de encontro.

Na terceira parte do documento do Dicastério para a Comunicação “Rumo à presença plena – Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, destaca-se que a “comunicação começa com a conexão e passa para os relacionamentos, a comunidade e a comunhão”. Ou seja, por mais que se diga “eu não me importo com a opinião alheia”, estamos nas redes porque queremos estabelecer algum tipo de relação. Uns mais e outros menos, porém faz parte da essência humana a sociabilidade.

Ninguém está numa rede social para deixar oculto um conteúdo, não é mesmo? Porém, que tipo de relação e comunicação temos estabelecido? “Não existe comunicação sem a verdade de um encontro. Comunicar-se consiste em estabelecer relacionamentos; em ‘estar com’. Ser comunidade significa partilhar com os outros as verdades fundamentais a respeito do que se possui e do que se é”, explica o documento do Dicastério para a Comunicação, ao destacar ainda que a formação de uma comunidade tem como base partilhar a verdade e o sentimento de pertença, reciprocidade e solidariedade.

A parte 3 do texto indica também alguns pontos interessantes sobre tal integração, dentro da realidade onlife, como assim a caracteriza:

  • Onlife porque ali estão pessoas com suas vidas inteiras e não uma parte. Por trás das telas, estão pessoas e não números, com suas alegrias e tristezas, conquistas e perdas, histórias e sonhos;
  • É preciso superar a dicotomia de uma vida online ou offline e assumir a lógica do “ambos”. Nada substitui o encontro face a face, contudo, se a rede for usada como prolongamento ou expectativa de tal encontro, ela será complementar à presença em “carne e osso”;
  • Assim como o bom samaritano estava a caminho de Jericó e, sem esperar, teve a oportunidade de fazer o bem, estar nas redes sociais pode ser uma bela ocasião de proclamar o bem, sendo coerente com a fé cristã e sem ataques e polêmicas;
  • Podemos fazer uma escolha: ser apenas um mero e conectado viajante nas rodovias digitais ou ser um samaritano que permite a evolução das conexões até verdadeiros encontros. Ele se preocupou em cuidar do homem ferido, sarando “não apenas as feridas físicas, mas igualmente as divisões e a animosidade existentes entre seus grupos sociais”.

Aprendo a ser um bom e excelente samaritano nas redes

Já compreendemos que podemos ter uma vida conectada e aberta ao encontro. Todavia, como colocar em prática a “cultura do encontro”? Toda a reflexão pastoral menciona 72 vezes a palavra “comunidade” – cujo sentido é muito mais forte do que “grupo” ou “associação” de pessoas – e sugere caminhos muito concretos:

  • Dar aquela caprichada ao compartilhar valores, experiências, esperanças, tristezas, alegrias, humor e até piadas. Muitas interações podem começar com uma amizade e evoluir para o “espírito comum de apoio e camaradagem”. Requer um compromisso individual, liberdade e desejo de cura e reconciliação;
  • Não permitir espaço ao “tribalismo digital”, ou seja, uma polarização em que me uno apenas com quem pensa igual a mim e os outros externos são inimigos ideológicos. Ou seja, catalogam indivíduos e, até mesmo aqueles que se “apresentam como ‘católicos’, usam sua presença nas redes sociais para fomentar a divisão, não se comportam como uma comunidade cristã deveria fazer”. Ao contrário, tudo isso poderia ser ocasião de conversão, diálogo e reconciliação;
  • O samaritano não apenas teve compaixão, como também providenciou o cuidado. Vemos muito isso em comunidades que promovem crowdfunding a favor de alguém em necessidades materiais ou de saúde;
  • Um sonho ousado: “encorajar as empresas de comunicação a reconsiderar suas funções, permitindo que a Internet se torne um espaço verdadeiramente público. Espaços públicos bem estruturados são capazes de promover melhores comportamentos sociais”;
  • Não se pode compartilhar uma refeição através de uma tela. Usufruamos sim de todo o positivo e facilidades que os dispositivos móveis podem nos oferecer. Entretanto, nunca se irá comungar, por exemplo, o Corpo de Cristo através de uma tela e, de igual modo, a refeição em família. Na mesa do Pão do Céu ou na do pão da terra, está ali a pessoa toda, com todos os seus sentidos, fome, alma, espírito e carne.

Somos a religião do “corpo”: o Cristo que encarnou-se; viveu todas as realidades humanas exceto o pecado; deixou seu Corpo como alimento; sofreu na carne os flagelos e a morte; ressuscitou e apareceu com seu Corpo Glorioso. Se percorrermos toda a trajetória de Jesus e formos seus fiéis seguidores, Ele será a grande “tela” para vermos o Pai.

Quer assistir a uma “produção” que ultrapassa qualquer outra hollywoodiana? Olhar para Cristo é adentrar nas realidades divinas. Ele é o rosto do Pai. Esta deve ser a nossa maior medida para estarmos inteiros nas redes e nas relações. Se o Senhor for a nossa meta, teremos a sabedoria para gerar comunhão.

| Leia aqui o documento na íntegra.

 

da redação, por Gracielle Reis

Jornalista Esp. em Marca Pessoal e Logoterapia.

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