Mês Missionário: A Pastoral Juvenil é profundamente interpelada a pensar e buscar políticas públicas

Mês Missionário: A Pastoral Juvenil é profundamente interpelada a pensar e buscar políticas públicas

A violência é, seguramente, o problema que mais aflige e preocupa os brasileiros nos dias atuais. Ela “medievaliza” as relações humanas, deixa a sociedade aterrorizada e gera uma sensação de impotência diante do crime. Essa situação nos interpela profundamente, enquanto juventude missionária.

Nos últimos tempos, sobretudo, inspirado pelos temas dos três últimos DNJs (2017: Juventudes em defesa da vida dos Povos e da Mãe-terra; 2018: Juventude Construindo uma Cultura de Paz e 2019: Juventude e Políticas Públicas: uma história nos chama à civilização amor), tornou-se premente a missão juvenil, ao longo do mês Missionário, de se debruçar sobre tal assunto, em busca de  medidas capazes de enfrentar esse angustiante fenômeno.

Infelizmente, nesse cenário de medo e insegurança, sempre surgem propostas de teses arriscadas e precipitadas, como a que joga toda a culpa da escalada da violência em cima do adolescente e do jovem. É necessário agirmos com cautela nesse debate, nesse contexto onde a juventude é sempre a vítima e nunca sujeito dessa violência assustadora. Lamentavelmente, temos constatado que uma pena duríssima já é aplicada, na prática, a milhares de jovens e adolescentes todos os dias. As estatísticas mostram que a violência se transformou em uma das principais causas de morte de jovens. De acordo com as estatísticas da Unicef, 16 crianças e adolescentes brasileiros, em média, morrem por dia, vítimas de homicídios. E as pessoas com idades entre 15 e 18 anos representam 86,35% dessas vítimas. Enquanto a taxa de mortalidade por homicídios de adolescentes está em torno de 35 por 100 mil habitantes, a da população em geral encontra-se em 27 por 100 mil segundo dados do Datasus.

É fundamental lembrar que, ao contrário do que se apregoa, o sistema previsto pelo Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), prevê o tratamento dos jovens infratores como sujeitos de direitos e de responsabilidades. No caso de infração, estabelece medidas sócio-educativas, cuja finalidade é punir, sim, mas ao mesmo tempo prepará-los para o convívio social. O problema, portanto, não está no Estatuto, mas na falta de Políticas Públicas que garantam a aplicação de seus preceitos por parte de muitos governantes espalhados pelo Brasil afora, nas suas várias instâncias: municipais, estaduais e federais. Os fatos demonstram que, quando essas medidas são corretamente implementadas, é baixo o grau de reincidência dos jovens no mundo do crime. Em vez de oferecerem oportunidades para eles se desenvolverem e reconstruírem suas vidas, são recolhidos em espécies de unidades prisionais que funcionam como verdadeiras escolas para a criminalidade.

É diante desse panorama que devemos agir, interpelando o poder público em prol de políticas voltadas para os jovens e adolescentes infratores, de tal modo que eles sejam recuperamos e não sejam ofertados ao crime organizado, como temos visto na dinâmica dos tempos atuais. Não podemos perder nossos jovens para esses seguimentos do mal.

Os preparativos para o DNJ, nesse mês de outubro, que trás como tema: Politicas Públicas, estimula-nos, enquanto Pastoral Juvenil, ao estudo do subsídio, aos debates, nos grupos, nas escolas, faculdades, etc,  e às conversas nos vários conselhos paritários afins, casas legislativas, judiciárias e executivas, bem como à outras  iniciativas,  que servem como pontos de partida para a transformação dessa triste realidade que insere nossos jovens na presente história, que nos chama à civilização amor.

Esse tema do DNJ deve envolver toda a comunidade:  família, escola, rede de saúde e assistência social e melhorar os mecanismos de acompanhamento desses jovens, favorecendo políticas públicas, tais como: alternativas para a construção de um novo projeto de vida, baseado em valores como a fé, a cidadania, a ética, o respeito, a honestidade e a solidariedade. Se queremos inverter essa cruel lógica da violência e viver em uma sociedade justa e fraterna, não podemos descuidar, um minuto sequer, desse contexto de violência que atinge adolescentes e jovens. Queira Deus que, possamos chamar a atenção de nossas autoridades para implantar um conselho, uma superintendência em cada cidade que olhe, converse e entenda e atenda os gritos e necessidade de nossos jovens.

Dom Nelson Francelino,
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude.

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Email