Gaudete et Exultate: a santidade é para todos

Gaudete et Exultate: a santidade é para todos

Na sua mais recente exortação apostólica, Gaudete et Exultate, o Papa Francisco faz um convite muito especial: a de que busquemos a santidade. E essa santidade é válida para todos.

“Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais. ”

Vigiai e orai

E para bem viver essa santidade, é preciso ter atenção ao que o mundo de hoje nos mostra como uma verdade absoluta dos fatos. O pontífice usa dois aspectos importantes que podem levar à interpretações erradas de uma vida em santidade. O primeiro é o gnosticismo, que leva a crer que para alcançar uma vida santa, basta que se tenha muito conhecimento intelectual. Com frequência, verifica-se uma perigosa confusão: julgar que, por sabermos algo ou podermos explicá-lo com uma certa lógica, já somos santos, perfeitos, melhores do que a ‘massa ignorante’. São João Paulo II advertia, a quantos na Igreja têm a possibilidade de uma formação mais elevada, contra a tentação de cultivarem ‘um certo sentimento de superioridade relativamente aos outros fiéis’. Na realidade, porém, aquilo que julgamos saber sempre deveria ser uma motivação para responder melhor ao amor de Deus, porque ‘se aprende para viver: teologia e santidade são um binômio inseparável’”

O segundo aspecto é o pelagianismo, onde se leva em consideração a força de vontade humana em contrapartida à vontade de Deus. “Quando alguns deles se dirigem aos frágeis, dizendo-lhes que se pode tudo com a graça de Deus, basicamente costumam transmitir a ideia de que tudo se pode com a vontade humana, como se esta fosse algo puro, perfeito, onipotente, a que se acrescenta a graça. Pretende-se ignorar que ‘nem todos podem tudo’, e que, nesta vida, as fragilidades humanas não são curadas, completamente e duma vez por todas, pela graça. Em todo o caso, como ensinava Santo Agostinho, Deus convida-te a fazer o que podes e ‘a pedir o que não podes’; ou então a dizer humildemente ao Senhor: ‘dai-me o que me ordenais e ordenai-me o que quiserdes’”.

Os ensinamentos de Jesus

Portanto, para que possamos nos guiar no caminho da santidade, o Papa nos lembra que o próprio Jesus nos deixou um legado a seguir, que são as bem-aventuranças. Elas servem de norte para quando estivermos em dúvida sobre como seguir:

“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”, pois aquele que é pobre de coração, será capaz de partilhar da dor do irmão, de entender a vulnerabilidade do enfermo e de ajudar o necessitado.

“Felizes os mansos, porque possuirão a terra”. Citando Santa Teresa de LIsieux, o Papa resume: “a caridade perfeita consiste em suportar os defeitos dos outros, em não se escandalizar com as suas fraquezas”.

“Felizes os que choram, porque serão consolados”, pois aquele que vive apenas para ser feliz por si próprio, não será capaz de enxergar a dor do próximo. Mas se ele se compadece da fraqueza do seu irmão e chora com ele, então ele é capaz de encontrar a felicidade na satisfação do necessitado.

“Felizes os que têm fome de justiça, porque serão saciados”. Por que quem busca a verdadeira justiça, aquela ensinada por Deus, em favor dos oprimidos e dos fracos, então este é capaz de compreender as necessidades mais frágeis que nos atinge.

 “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Neste aspecto, falamos de um caminho de mão dupla, onde deve-se ajudar o próximo e também saber perdoá-lo. “Dar e perdoar é tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus, que dá e perdoa superabundantemente”.

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”, pois as aparências nem sempre mostram aquilo que Deus vê. O amor deve ser puro, deve ser verdadeiro, porque Deus enxerga as intenções daquele que pratica a caridade, que é humilde e tem misericórdia.

“Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”, pois aquele que semeia a paz, é capaz de construir pontes de amizades, que levam ao caminho do amor. E construir essa paz nos ensinamentos de Cristo sem que haja exclusão é algo ainda mais desafiador, mas ao mesmo tempo, recompensador.

“Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu”, porque aquele que não mede esforços e não teme perseguições pela busca incessante da justiça pelo seu irmão que precisa, então este será digno de alcançar o Céu.

O que o Papa sugere é que haja discernimento e fé, pois, o mundo de hoje nos revela tentações avassaladoras, onde fica cada vez mais fácil desviar do caminho que nos leva ao Céu. Ser bom é muito mais que sorrir para todos, é praticar essa alegria com humildade, caridade, misericórdia e mansidão, lutando sempre pela justiça que favoreça maiorias e não interesses próprios.

Por: Camila Ribeiro

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