Conheça a história da Menina Benigna: primeira Beata do Ceará e símbolo castidade

Conheça a história da Menina Benigna: primeira Beata do Ceará e símbolo castidade

A adolescente de 13 anos; mártir, heroína da castidade, mártir da pureza, foi beatificada em cerimônia presidida pelo representante do Papa Francisco, o cardeal brasileiro Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, nesta segunda-feira, 24 de outubro, dia do seu martírio em 1941.

Benigna Cardoso da Silva, apesar do pouco tempo de vida, foi uma jovem católica dedicada na cidade de Santana do Cariri. Aos 13 anos, perdeu a vida com golpes de faca ao resistir a uma tentativa de estupro – fato que a colocou como “Heroína da Castidade”.

Benigna é a primeira cearense beata. E a beatificação faz parte do processo de canonização, quando é dado o atributo de santidade. Essa etapa começou quando a Diocese do Crato solicitou a análise em 2011. Dois anos depois, foi dado o ‘Nihil obstat’ (nada obsta), que é o documento emitido pelo Vaticano permitindo a abertura da causa de beatificação.

A história da cearense comove fiéis desde então e católicos pedem a intercessão de Benigna para alcançar graças como a recuperação da saúde. Histórias de milagres e homenagens em romarias mobilizam fé no Estado.

Quem foi

Benigna Cardoso da Silva, nascida em Santana do Cariri-CE, no dia 15 de outubro de 1928, filha de José Cardoso da Silva e Thereza Maria da Silva, ficou órfã de pai e mãe muito cedo, sendo adotada juntamente com seus irmãos mais velhos pela família “Sisnando Leite”, proprietária do Oiti dos Cirineus, no povoado de Inhumas.

Sua infância foi cercada pela alegria das inocentes brincadeiras com cantigas de roda, bonecas, casinha, piqueniques, passeios etc., ao lado de suas irmãs de criação Tetê e Irani, que ainda vivem. Benigna gostava muito de uma cantiga de roda que dizia mais ou menos assim: “Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, olhai pro céu, olhai pro céu, pro céu, pro céu, para ver Nosso Senhor, Senhor, Senhor, e todos se ajoelharem…”

Era uma jovem muito simples e cheia de humildade. De estatura média, Benigna era magra, de cabelos e olhos castanhos meio ondulados, morena clara, rosto arredondado e queixo afinado. Tinha um leve estrabismo em um dos olhos.

Modesta por natureza, tímida, reservada e meditativa, não usava vestidos sem mangas, curtos nem com decotes. Sua generosidade, carisma e simpatia a fazia querida e cativada por familiares, amigos e conhecidos, tornando-se um modelo de juventude para época.

Em casa, desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de ajudar sua família adotiva. Era boa filha, sempre obediente e prestativa.

Extremamente religiosa e temente a Deus, nutria um grande desejo de fazer a Primeira Eucaristia, e depois desse sonho realizado, seguia à risca os mandamentos divinos. Não perdia as missas e fazia penitência nas primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus, sempre na companhia de sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha.” Era assídua na participação eucarística.

Aos 12 anos de idade, já lendo e escrevendo, Benigna começou a ser assediada por um rapaz chamado Raul Alves com propostas de namoro, rejeitadas de forma categórica por ela, que nada queria com ele a esse respeito. Ela procurou imediatamente o Pe. Cristiano Coêlho, vigário da época, para pedir conselhos sobre o assunto da perseguição de Raul, e este lhe aconselhou a vir estudar em Santana do Cariri – CE, e a presenteou com uma Bíblia, que se tornou seu livro de cabeceira, guardado com esmero e carinho. Encantava-se com as gravuras e as histórias do Antigo e do Novo Testamento. Neste Livro Sagrado ela encontrou apoio para resistir às tentações de Raul e fortalecer cada vez mais sua fé.

A caminho da escola, se mostravasempre uma defensora da natureza, não deixando que seus colegas maltratassem as plantinhas nem tirassem suas flores ou galhos. Na sala de aula, era uma aluna exemplar; por demais estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Sempre gostava de ajudar seus colegas para não vê-los punidos com a palmatória, ou de joelhos nos caroços de milho, fato que a deixava demasiadamente triste, e às vezes até chorava com os castigos aplicados aos outros. Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde fatídica de sexta-feira, dia 24 de outubro de 1941, sabendo que Benigna ia pegar água numa cacimba próxima à sua casa, ficou Raul à espreita atrás do mato, observando-a com o pote na cabeça, com seus recém completados 13 anos. Ao aproximar-se, abordou-a sexualmente. Ela recusou, ele insistiu tentando violentá-la. Ela disse “não” com veemência e lutou heroicamente para se defender do ato pecaminoso, que no seu entender cristão ofenderia seu corpo.

Raul, ao perceber que Benigna nada aceitaria com o mesmo, foi tomado por um ódio feroz; sacou de um facão atroz e a golpeou cortando-lhe os dedos da mão. Ela relutou de forma sobre-humana contra seu algoz, preferindo morrer a pecar contra a castidade. Depois disso, foi atingida na testa, nas costas e por fim no pescoço, cujo golpe deixou-lhe a cabeça quase decepada.

Ao vê-la morta, com o corpo estendido sobre as pedras e o sangue inocente se esvaindo pelo chão, Raul foge, sendo o corpo da vítima encontrado logo em seguida já sem vida.

Seu corpo foi sepultado na manhã do sábado, no Cemitério Público São Miguel, em Santana do Cariri-CE, acompanhado de comoção geral. Os requintes de crueldade do bárbaro crime abalaram todo o município. Desde essa data, começaram as visitas ao túmulo e ao local do martírio até o tempo presente. As rogativas feitas à Mártir Benigna Cardoso, assim como as promessas são geradoras de graças alcançadas por intercessão dessa memorável menina, que é tida por todos como “santa” e “Heroína da Castidade”.

O assassino foi preso, pagou pelo seu crime e, arrependido, voltou ao local 50 anos depois para chorar, elevar preces e pedir perdão a Benigna. Neste retorno, relatou sua mudança de vida, sua conversão ao cristianismo. Fez penitências para salvar sua alma, e pedindo a intercessão de Benigna, alcançou graças sempre recorrendo à sua inocente vítima, a quem sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, seu ato foi de loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não pecar e não apenas para ver se escaparia.”

Sobre Benigna o Padre Cristiano deixou escrito, na época, ao lado do seu batistério: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no Sítio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha.”

A devoção

Espontaneamente – e por muitas décadas – as pessoas iam até o local onde ela foi assassinada para rezar e pedir a sua intercessão, acender velas e colocar flores. O local do martírio foi marcado na época com uma cruz fincada no chão, que depois se tornou um monumento. Em 2004, um grupo de leigos provenientes de Natal-RN decidiram, então, celebrar uma missa na data e no local do martírio em Santana do Cariri. Mas, como o local é de difícil acesso e de propriedade privada, o povo construiu próximo dali uma capela, construída de pedra cariri, em 2005.

A partir daí as romarias começaram a ser promovidas, cresceram e ganharam mais importância quando a Igreja assumiu a causa em 2013, tendo início o processo diocesano para a beatificação. Já em 2019, o público estimado na romaria chegou a 30 mil pessoas. Para 2022, então, a cidade espera receber – sobretudo pela cerimônia de beatificação – cerca de 60 mil pessoas.

Os jovens

A juventude de Crato/CE também se alegra com a beatificação, confira os testemunhos:

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