[Artigo] Juventudes, a economia que mata e o chamado do Papa Francisco

[Artigo] Juventudes, a economia que mata e o chamado do Papa Francisco

Juventudes, a economia que mata e o chamado do Papa Francisco (1ª parte)

Por Eduardo Brasileiro,
membro da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara.

 

O Brasil hoje conta com a maior população de jovens de sua história, são 47,2 milhões. A pesquisa “Síntese de Indicadores Sociais 2019 – Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira”, do IBGE mostrou que 23%, ou seja 10,9 milhões de jovens não estavam nem trabalhando e nem estudando. Um aumento considerável em relação ao ano anterior que era de 21%.

Em nuestra América Latina os dados são também reveladores, e mais do que um país, estamos falando de um sintoma mundial. No mundo pós-pandemia, sem aulas, sem renda e tendo que lidar com a ansiedade em relação ao futuro, o retrato de uma pesquisa recente que ouviu mais de 33 mil jovens de todas as regiões do Brasil, destacou que 30% dos escutados dizendo que abandonariam os estudos no próximo período.

O Papa Francisco, em maio do ano passado, enviou uma carta a jovens de todo o mundo dizendo:

Escrevo-vos a fim de vos convidar para uma iniciativa que desejei muito: um evento que me permita encontrar-me com quantos estão a formar-se e começam a estudar e a pôr em prática uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta. Um acontecimento que nos ajude a estar unidos, a conhecer-nos uns aos outros, e que nos leve a estabelecer um “pacto” para mudar a economia atual e atribuir uma alma à economia de amanhã.

Atento aos sinais do tempo e crendo na Alegria do Evangelho como fonte infindável de esperança a um mundo adoecido pela desigualdade e pela violência, o Papa Francisco nos convoca a Realmar a economia.

É importante notarmos a cadeia agressiva de violência que o capitalismo gerou até os dias dessa nossa juventude. O racismo e o patriarcado, anteriores ao capitalismo, foram estruturas absorvidas pelo capitalismo e maximizada pela sua lógica de acumulação e competição. Além do índice de violência e morte contra jovens negros serem os mais altos do mundo (entre 2017 e 2018, o fórum Brasileiro de Segurança Pública, levantou que dos 6.220 registros de mortes no Brasil por intervenção policial, 75,5% foram pessoas negras), ainda somos o que mais prende no mundo, o que menos investe em políticas públicas para superação dessa lógica, e apesar disso insistentemente nos jornais anunciam: governo anuncia plano para salvar a economia.

Salvar a Economia? E os meninos da Chacina da providência? E o Marcos Vinicius, de 12 anos e o Matheus Alves dos Santos, de 14 anos, ambos assassinados? São tantos nomes, que deixam a vista turva, o corpo arrepiado e o futuro enquanto sociedade frágil.

Há mais de 30 anos, no mundo se implanta a doutrina de uma ideologia econômica, o neoliberalismo, como uma metamorfose do capitalismo liberal num diferencial: não se trata mais de termos liberdade somente para consumir, produzir e concorrer, agora a vida será gerida para esse fim. O neoliberalismo, segundo os pesquisadores, Cristian Laval e Pierre Dardot, no livro “A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal”, afirmam que o homem e a mulher sofreram sobre sua subjetividade (pensamento, objetivos e liberdade) a impressão de uma só lógica: competir, acumula e consumir.

São milhares de jovens no Brasil, como levantado pelas pesquisas, fadados ao fracasso de uma sociedade que não gera oportunidades, mas que nos leva a uma maquina de moer gente. Como podemos dizer que esse sistema é bom? O Papa Francisco, atento a isso, já na Encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da Casa Comum, nos alertava: “Há um modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de a arruinar. Não poderemos deter-nos a pensar nisto mesmo? Proponho, pois, que nos concentremos no paradigma tecnocrático dominante e no lugar que ocupa nele o ser humano e a sua ação no mundo.” (LS. 101)

Saiba mais: https://ecofranbr.org

O convite ao Papa Francisco para todos os jovens do mundo é que superemos a sociedade onde as finanças (mercado financeiro), os privilégios (racismo, patriarcado) e um estilo de vida centrado no prazer individual ou bem estar, seja a ordem social e entre em cena uma nova sociedade onde a vida está no centro, uma sociedade biocêntrica.

Ao nascermos numa sociedade neoliberal fomos logo impregnados por um olhar competitivo que nos têm gerado desânimo e desalento. Mas, muito pelo contrário, somos portadores da alegria e da esperança (CV 107). O chamado para novas economias nasce da Laudato Si’ e se torna gesto concreto da Exortação Apostólica Cristo Vive. Por isso, jovens de todo o mundo tem se reunido, discutido e construído caminhos.

No Brasil, criamos a Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC), para convocados pelo Papa Francisco e inspirados por Francisco e Clara de Assis, construirmos um movimento social capaz de dialogar com diversos setores da sociedade. No Brasil, inúmeras iniciativas, inclusive puxada por jovens, refletem já novas economias. Vocês já ouviram falar de Economia Solidária? Economia Ecológica? Já pararam para ouvir o que os movimentos populares como o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ou as cooperativas solidárias dizem sobre como construir uma sociedade mais justa?

O Espírito de Deus, impregnado naqueles/as que promovem a vida na luta pela justiça, neste encontro com o Papa Francisco se veem unidos, – num período recente de muitas desmobilização e divisão – e agora são chamados conosco a construir uma força mobilizadora.

O evento em Assis, com o Papa e os jovens, provavelmente será adiado para 2021, porém, até lá, é tempo de escutar, refletir coletivamente e começar a semear a esperança. A lógica da arquitetura econômica atual é violenta porque se mantém num sistema de acumulação de fortunas dos mesmos enquanto a miséria é repartida entre milhares.

Vamos juntos continuar a pensar a mudança que o mundo precisa ter?

 

Eduardo Brasileiro, educador social e sociólogo vive na Zona Leste de São Paulo. Selecionado para o evento em Assis ‘The Economy Of Francesco’, é membro da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara.
Bibliografia

PAPA FRANCISCO. A Economia de Francisco. Roma. 2019. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2019/documents/papa-francesco_20190501_giovani-imprenditori.html
PAPA FRANCISCO. Laudato Si’ Sobre o cuidado da Casa Comum. 2015. https://w2.vatican.va/content/dam/francesco/pdf/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si_po.pdf
PAPA FRANCISCO. Cristo Vive: aos jovens e a todo povo de Deus. 2018. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20190325_christus-vivit.html

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