[Artigo] A bem-aventurança da mansidão e a política

[Artigo] A bem-aventurança da mansidão e a política

por Dom Amilton Manoel da Silva, CP
Bispo da Diocese de Guarapuava – PR e
membro da Comissão para a Juventude CNBB

 

A mansidão, nem sempre é compreendida, mas é de suma importância para a vida em sociedade; uma virtude necessária no caminho da santidade.

Foi proclamada por Jesus como bem-aventurança: “Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra” (Mt 5,5), oferecida como conteúdo na sua escola: “Vinde… e aprendei de mim, que sou manso e humilde de Coração” (Mt 11,29) e comparada à habilidade das pombas: “Sede mansos como as pombas… (Mt 10,16). O apóstolo Paulo a mencionou entre os frutos do Espírito (Gl 5,23), e a recomendou aos Efésios para salvar a fraternidade: “Com humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros no amor” (Ef 4,2).

A mansidão não é a renúncia das próprias convicções, porém não se confunde com as posturas de obstinação, teimosia orgulhosa e autossuficiência. A mansidão vai além da calma natural e espontânea do temperamento de certas pessoas. Mansidão é uma nova visão da vida, marcada pela não violência, o não desrespeito às pessoas, a não agressividade, a não satisfação em vencer às custas da derrota e do aniquilamento do outro. Os mansos propõem, corajosamente, mas não impõem. Eles não agridem, nem desprezam os que pensam de forma diferente. Sabem divergir com respeito fraterno.

A mansidão é sinônimo de equilíbrio e maturidade, é uma ponte entre o caos e a paz. São Francisco de Sales, bispo de Genebra – França, que viveu no séc. 17, foi um homem extremamente violento, até que tomou consciência de que precisava mudar radicalmente e mudou! Na “Introdução à vida devota” (Filoteia), São Francisco escreveu 3 páginas sobre a mansidão, afirmando ele: “Nada pode aplacar tão facilmente um elefante irritado com a vista de um cordeirinho…” E cita Santo Agostinho que “é preciso fechar inteiramente a entrada do coração à cólera, por mais justa que seja, porque ela lança raízes tão profundas que é muito difícil arrancá-las”. São Francisco de Sales é chamado o santo da mansidão e da afabilidade.

O cenário político que estamos vivendo, segundo os especialistas, nunca foi tão agressivo e violento: famílias danificadas, amigos desencontrados, religião dividida, sociedade quebrada… Mansidão e a boa política, na cabeça de muitos, passa longe…

Não me proponho a analisar aqui candidatos ou partidos, mas as atitudes de muitos brasileiros, e na maioria “cristãos”, que estão se digladiando com argumentos ideológicos, idolatrando pessoas, à semelhança dos judeus no deserto, quando construíram um “bezerro de ouro” e o adoraram (Ex 32, 2-6), perdendo a consciência e a própria dignidade. Em nome do “melhor para o Brasil”, estamos num retrocesso do que entendemos por democracia, respeito e amor ao próximo.

Se os mansos possuem a terra, como garantiu Jesus, nestes tempos, estamos diante de ações contrárias e diabólicas, pois trazem no bojo o ódio e a violência, contradizendo radicalmente o que o Mestre ensinou e testemunhou. Fico a pensar se muitos cacos conseguirão ser juntados depois do dia 30/10/2022.

Que a bem-aventurança da mansidão, que traz consigo a esperança, prevaleça sobre os interesses escusos. Jesus manso e humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.

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