Amazônia e os jovens: Caminhos para o protagonismo juvenil em meio à floresta

Amazônia e os jovens: Caminhos para o protagonismo juvenil em meio à floresta

São jovens de onde o rio é mar, onde o verde está na alma, onde Cristo resplandece no povo mas também na fauna e flora da principal floresta tropical do mundo. Com o Sínodo Pan-Amazônico, a Igreja volta seus olhos e coração para esta porção do povo de Deus. O encontro terá início amanhã, dia 6 de outubro, em Roma, com o tema “Amazônia: Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”.

A região amazônica tem a população com a maior proporção de jovens no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE) a média de idade da população do estado do Amazonas, por exemplo, é de 25,6 anos. A população da região norte cresceu 3,1% de 2009 até 2011 e quase 60% da população da região tem menos de 34 anos.

Em uma região muitas vezes estereotipada pelo restante do país – até mesmo de forma pejorativa -, a juventude mostra sua diversidade. São jovens que vivem em realidades que passam de aldeias indígenas à metrópoles com milhões de habitantes, como as capitais. “Por incrível que pareça, um percentual grande do Brasil ainda acredita que 100% da população da Amazônia vive como indígena, sem conhecimento nenhum e sem acesso a qualquer tipo de tecnologia”, conta Valéria Cerdeira Gomes, que atualmente pertence à Juventude Oblata de Maria Imaculada e mora em Manaus (AM).

“É uma maravilha poder ser jovem da Amazônia, pela riqueza cultural e pela diversidade regional, pelo contato com a natureza. Ser jovem na Amazônia é sonhar por uma vida melhor, em poder ajudar a família. Muitos colegas atualmente estudam e trabalham e têm melhores condições de vida, a perspectiva é melhor para quem busca e tem oportunidade; porém ser jovem da Amazônia é também lutar quando não é possível ter acesso à universidade, é ser pescador, trabalhar na roça, ganhar o sustento. Muitos se engajam nas lutas sociais e busca de direitos”, testemunha Adriano Cordeiro, de 23 anos. Ele é indígena Baré e seminarista na Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM).

Para ele, com tantas singularidades, obviamente o viver a fé transpassa a relação com a natureza e os povos originários. A experiência com o sagrado é sempre uma mística com a floresta, um completar Deus Criador na floresta e nos rios. “A floresta para nós é um grande livro que nos ensina a ver a vida e a simplicidade da existência”, conta o jovem seminarista.

Adriano Cordeiro, seminarista da Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM)

“Nós, jovens, estamos perdendo nossa identidade cultural e em especial nossa língua. Esquecemos que temos nossas raízes, que pertencemos a um povo originário, e nos deixamos levar pela tecnologia. Não é mau caminhar com os dois pés, conhecer o moderno e também cuidar do tradicional. Onde você estiver, tenha sempre em conta estas duas coisas, tenha em consideração suas raízes, de onde quer que você venha, e não se esqueça disto”, relatou a jovem equatoriana Slendy Grefa durante o processo de consulta aos povos.

O Documento de Trabalho do Sínodo, chamado de Instrumentum Laboris, foi elaborado a partir de um caminho sinodal, que teve início logo após o anúncio do Papa Francisco em 15 de outubro de 2017, ouvindo milhares de fieis, muitos deles jovens. As dores e cicatrizes da Igreja na região, obviamente, vieram à tona, o que causou até mesmo estranhamento e repúdio. O que é inquestionável é a necessidade de um olhar novo e caminhos para a ação missionária na região, tão carente, por exemplo, no número de presbíteros. Campo fértil para semear a Boa Nova de Cristo, a região clama e fechar os olhos para tal realidade seria contrariar a própria unidade da Igreja. Onde há fieis, ali também está Jesus e sua Igreja.

“A maior necessidade é a de padres, certamente, mas também uma presença leiga com formação que os ajudem na conscientização de como são importantes para a vida da Igreja. Nisto, é fundamental que os jovens assumam o protagonismo desta mudança necessária, para que possam ser cristãos nos tantos setores sociais, sendo elementos de transformação, e isso não apenas no campo religioso. A importância dos jovens está no desenvolvimento de sua gente sem que se perca o que é próprio da cultura”, reflete Pe. André Ricardo Panassolo, sacerdote da Diocese de Amparo (SP) e que esteve em missão na região entre os anos de 2017 e 2018.

Pe. André Ricardo Panassolo, que esteve em missão na Amazônia entre 2017 e 2018

E os jovens querem este espaço. Gracivan Gonçalves Fonseca, de 21 anos, começou a participar da comunidade de fé ainda criança, acompanhando os pais nas missas no domingo. Porém, seu envolvimento aconteceu com o incentivo de um padre em especial que passou pela paróquia. “Foi neste tempo e com a abertura e acolhimento deste padre que me aproximei, entrei na equipe de canto, na de liturgia, e fui discernindo a vontade de Deus para minha vida. Hoje, quando estou na Igreja, sinto que é o meu lugar, é onde quero sempre estar, onde escuto Deus me falar. Como aconteceu comigo, vejo a necessidade dos padres incentivem mais, em especial os jovens, ocupando-os com as atividades da comunidade”, conta o jovem que atualmente é militar do Exército Brasileiro e participa de missões evangelizadoras pelo Rio Negro.

Gracivan Gonçalves Fonseca, jovem que é militar do Exército Brasileiro, em missão no distrito de Pari-Cachoeira (AM)

O sínodo mostra que será apenas o início de um longo e importante caminho para toda a Igreja. O respeito e amor à criação, às florestas e aos animais são formas de também amar o Criador. Os jovens já estão a caminho.

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