A compaixão na preparação para o Círio de Nazaré

A compaixão na preparação para o Círio de Nazaré

Procissão do Círio de Nazaré

Procissão do Círio de Nazaré

Nessa semana eu estava no ônibus quando uma mulher, jovem, entrou no ônibus pela porta de trás. Nas mãos, tinha uns papéis que distribuiu para os passageiros. Nada disse. No papel, ela explicava a situação em que passava: mãe, pobre, sem emprego ou fonte de renda e queria uma ajuda em dinheiro para comprar algo para comer. Olhei nos olhos daquela jovem e senti uma tristeza profunda e algo desesperado quando ela recolhia os papéis e esperava alguma quantia.

Dei um valor a ela e mais duas pessoas repetiram o ato. Desliguei a música que estava ouvindo, tirei meus fones de ouvido e em silêncio comecei a rezar. Pedi a nossa Mãe que intercedesse por ela, pelas crianças e guardasse os seus caminhos. Era o mínimo que eu poderia fazer. Curiosamente, ela desceu no mesmo ponto de ônibus que desci. Andamos juntos por alguns metros sem dizer nada. Quando passamos por uma loja de caramelos, ela me surpreendeu: disse com os olhos brilhando em lágrimas e com um tom de choro: “agora eu vou comprar bombons para vender” e entrou na loja.

Não sei onde aquela jovem mora, não sei se conseguiu vender os bombons e levar dinheiro para casa, mas aquela mulher me fez refletir muito sobre o significado da festa que o povo paraense irá viver no próximo mês: o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. A maior festa católica do Brasil é um momento muito especial para o povo do Pará e é acompanhada por milhares de jovens de várias partes do país. A casa recebe parentes que estão distantes, a cidade se enche com o colorido das fitas e cartazes, os bairros recebem as imagens de Nossa Senhora para fazerem rezas em cada casa… Mas será que nesse período, nós, cristãos católicos, estamos de coração aberto?

Aquela mulher no ônibus representa o rosto de centenas de nossos irmãos que vivem em situação de risco, desde aqueles que vivem nas ruas até mesmo os pobres de espírito. Nosso Santo Padre Francisco nos faz um lembrete: “para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica, filosófica ou política, pois Deus manifesta a sua misericórdia antes de mais a eles. Esta preferência divina, todavia, tem consequências na nossa vida, na vida de fé de todos os cristãos”.

Cada irmão e irmã que sofre, é um convite para cada cristão ver Deus na face de outra pessoa. Esse é sentido do Círio. O tema deste ano “Maria, Mulher Eucarística” nos lembra que Nossa Senhora foi o Sacrário Vivo, a primeira que recebeu o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor e experimentou a verdadeira compaixão de Deus. Da mesma forma, quando recebemos a Eucaristia, participamos de uma comunhão de amor com Deus. Porém, esse amor deve ser compartilhado e praticado em nossa comunidade, no nosso trabalho, com a família e, sobretudo com aqueles que mais precisam. Um abraço, uma escuta e um aperto de mão, são coisas grandiosas para aquele que nada tem.

Nesse tempo de preparação para o Círio de Nazaré, peçamos a Deus e a Virgem Maria que nos deem sabedoria e compaixão para acalentar o próximo, mesmo aquelas pessoas que estão ao nosso lado e que as vezes estão necessitadas de atenção. Façamos tudo isso em atenção ao Santo Evangelho, lembrando-se do exemplo de humildade que Cristo nos deixou, assim faremos o verdadeiro Círio de Nazaré.

Por Igor Pereira – Centro Magis de Juventude / Setor Juventude da Arquidiocese de Belém

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