[ARTIGO] Angústia, tristeza, medo que insiste em ficar: um alerta à saúde mental

[ARTIGO] Angústia, tristeza, medo que insiste em ficar: um alerta à saúde mental

“O sofrimento humano só é intolerável quando ninguém cuida” (Cicely Saunders)

Certa vez, estava eu deslocando-me para o trabalho. Atravesso uma passarela que me leva até o ponto de ônibus em uma rodovia importante e movimentada do estado de São Paulo. Logo que pus os pés na passarela, surpresa e instigada, dei-me conta da presença de um colega, ali, parado, debruçado no parapeito da passarela, olhando para baixo. Aproximei-me e o cumprimentei com um abraço, ele permaneceu ali, estático, falando comigo.

Estar ali parada, enquanto todo o mundo estava em movimento, sentir-me até ameaçada pelas passadas apressadas das pessoas que seguiam seu rumo enquanto, eu, estava ali parada, paralisada, foi angustiante. O colega, enfim, aceitou meu convite e seguimos caminhando até o ponto de ônibus. Uma sensação libertadora de alívio me envolveu quando começamos a caminhar, parecia que havíamos voltado para dentro do mundo, estávamos em meio a outras pessoas, tínhamos um objetivo para alcançar, tínhamos a companhia um do outro.

Fico pensando que a vida se parece muito com esta cena. Caminhamos em direção a algo, isto que nos move, uma meta, um plano, o projeto de vida. O trajeto envolve riscos, incertezas, medos, desafios, não é uma passarela na qual desfilamos, é uma passarela que permite sair de onde estamos e chegar onde almejamos, é um caminho árduo, por vezes, cansativo. E o que poderia favorecer essa caminhada chamada vida? Não há um mapa ou manual com todas as orientações. Porém, é possível caminhar, permitindo-se pausar quando necessário; identificando o que já nos ajudou a superar as quedas em outros momentos; revisando a rota; ressignificando o trajeto e buscando sentidos para realizá-lo; acolhendo as companhias que se fizerem presentes e que tantas vezes podem ser um ombro amigo; falar sobre o que sente e o que se pensa pode ajudar a se organizar internamente.

Durante a caminhada a angústia, a tristeza, a incerteza, a ansiedade e o medo podem surgir. Às vezes, pode parecer que esse caminho não tem saída, ou que não me pertence. Contudo, que tal dar mais um passo? Pode ser um passo devagarinho… que tal contemplar o meu redor? Posso expressar meus sentimentos como conseguir, não preciso caminhar sozinho, posso contar com amigos, com a comunidade ou com profissionais. Posso pedir ajuda.

O mês de setembro, que adota a cor amarela em campanha, nos faz um alerta para a valorização da vida. Fique atento, se existe um sentimento de tristeza, desesperança, angústia e desespero que insiste em ficar, se já não se cuida como antes, se o seu apetite ou sono mudou, se não sente mais prazer em fazer as coisas que gostava… Peça auxílio, atravessar essa passarela pode ser diferente. Mesmo em sofrimento, se fizermos essa travessia acompanhados, se nos reconhecermos cuidados poderá haver novas razões para caminhar, poderá se recuperar o fôlego para mais um passo. Aquele que nos criou também padece nossas dores, é presença nessa passarela da vida.

Confira os demais artigos da série:

[Artigo] “Um caminho de escuta ao lado dos jovens” (Confira aqui)
[Artigo] “Adolescência e Prevenção ao Suicídio” (Confira aqui)

Por Daniele Batista de Sousa,
Psicóloga, psico-oncologista e colaboradora na Rede Inaciana de Juventude – MAGIS Brasil.

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