Deus, às vezes, tira de onde não tem, diz padre Everson sobre sua história vocacional

Deus, às vezes, tira de onde não tem, diz padre Everson sobre sua história vocacional

Ainda nesta semana após o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado no último dia 17 de abril,  o Domingo do Pastor, continuamos a a série especial “Vocacionado! eu?!”.

Confira hoje o testemunho vocacional do padre Everson Vianna, da arquidiocese de Belém (PA). Ele “encurtou a história” e narrou como Deus o atraiu para o ministério sacerdotal.

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“Vocação é o olhar amoroso de Deus a cada um de nós” (Dom Alberto Taveira, arcebispo de Belém). 

Falar da história de minha vocação é me remeter à intervenção direta de Deus em minha vida, de um jeito único, como acontece em toda e qualquer vocação.

Bom, não posso começar sem falar de minhas raízes. Sou o filho mais velho de quatro irmãos e o único homem. Filho de pai militar e mãe dona de casa. Minha família sempre foi muito religiosa e educaram a mim e minhas irmãs com base nos valores que acreditavam. Meu pai um homem firme e de caráter, me ensinou a honestidade e retidão nas escolhas e a sempre levar a sério aquilo que assumisse. Minha mãe, uma mulher de muita fé, sempre foi um testemunho de oração. Perdi as contas de quantas vezes a vi levantar cedo para rezar e sei que muito de minha vocação devo a ela.

Senti-me chamado desde os sete anos de idade. Lembro-me, que sempre quando vinha das missas neste período, trazia o folheto, reunia minhas irmãs e brincávamos de celebrar missa. Este desejo foi crescendo dentro de mim, a ponto de querer ser coroinha, mas aqui tive a primeira frustação: a paróquia que eu frequentava no Rio de Janeiro não tinha coroinha e o padre não estava interessado em formar um grupo.

O tempo passou e eu cresci e, naquele período de 13 aos 17 anos, comecei a transformar frustração em revolta. Acabei encontrando no rock a forma de expressão desta revolta. Não que o rock em si seja ruim, mas a forma como utilizei dele para me expressar é que foi. Acabei criando um ódio pela igreja que íamis quando meu pai me obrigava. Certa vez, apanhei para poder ir à igreja. Quanto mais o tempo passava, mais revoltado e com oposição à Igreja eu ia ficando. Isso preocupava meus pais e, por varias vezes, fez minha mãe chorar, pois junto a tudo isso veio os vícios e as desobediências que me fizeram aprontar umas e outras, até ser resgatado de um “porre” pelos meus pais na casa de um colega e ir trançando pernas no meio da rua os envergonhando. Devido a minha situação, meus pais foram se dando conta de que precisavam fazer algo, acreditando que talvez se nos mudássemos de estado fosse melhor. Achavam que tudo aquilo fosse má influência, o que não era, pois, o problema era comigo mesmo. Muitas vezes,  meus colegas até me advertiam e não deixavam eu fazer besteiras maiores, mas meus pais achavam que a solução fosse essa, então meu pai começou a pedir insistentemente para irmos embora.

Neste intermédio, minha mãe ganhou a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças e começou a fazer a novena. Lá pelo meio da novena, ela diz ao meu pai para pedir transferência para Belém, no Pará, pois todos que pediam conseguiam vir para cá. Então meu pai o fez, deixando de pedir para ir para o Mato Grosso do Sul, nossa terra natal. A resposta mais uma vez negativa, o que fez meu pai desistir de pedir para ir embora por acreditar que fosse a vontade de Deus permanecer no Rio de Janeiro.

Certa vez, meu pai estava de folga em casa quando o telefone toca. Era um amigo seu parabenizando-o pela movimentação para Belém. Meu pai achando que se tratava de brincadeira não levou muito a sério, mas minha mãe insistiu para que ele ligasse para o seu chefe para questionar a veracidade do fato. Meu pai, atendendo ao pedido o fez e, para sua surpresa, era verdade. Meus pais comemoraram aquele fato como se fosse final de copa do mundo.

Saímos do Rio de Janeiro no dia 25 de janeiro de 2004. Chegando a Belém, fomos morar em Icoaraci e nada em mim mudava, o sentimento de revolta só crescia pois não queria ter vindo para Belém, não queria ter deixado o Rio. E o interessante – e que não posso deixar de falar, pois esse é para mim um grande sinal de que Deus conduziu toda essa história, o que me fez perceber que Deus chama não abrindo o céu, mas se utilizando das situações e das pessoas que nos cercam para formar os lábios pelos quais ele nos chama – é que a paróquia que meus pais passaram a frequentar em Icoaraci tem como padroeira Nossa Senhora das Graças, a mesma da medalha que minha mãe tinha recebido.

Para encurtar a história, Belém foi para mim uma escola de fé. Aqui pude ter uma experiência de fé nunca tida antes. Por meio de um amigo de escola, meus conceitos sobre Deus e a Igreja, foram sendo esclarecidos. Até que um dia um vizinho me fez a proposta de ser coroinha. No início, recusei, mas acabei aceitando. Isso tudo me ajudou a me reencontrar e me veio a vontade de fazer o sacramento da crisma, que eu havia abandonado no Rio. Neste interim, meu pai recebe a casa na vila naval, o que nos fez mudar de Icoaraci. No início, para mim foi um choque, pois tive que tomar a difícil decisão de permanecer no grupo de coroinhas ou fazer o crisma na capela perto de casa. Optei em fazer o crisma.

Certa vez, decidi visitar a paróquia que ficava perto da vila naval e aproveitei para me confessar. Quando terminada a confissão, o padre me fez uma pergunta que mexeu comigo. Ele disse: “Meu filho, você já pensou no que você vai fazer depois de terminar o ensino médio? ”, sem hesitar, falei que já havia pensado em ser padre, mas que tinha mudado de ideia. Esta foi a brecha que Deus precisava. O padre imediatamente me apresentou ao seminarista que trabalhava na paróquia. Resultado: em menos de um mês eu já estava fazendo os encontros vocacionais, sem que meus pais soubessem no início, pois não queria trazer falsas esperanças, até porque eu acreditava que não iria para frente está história de vocação.

Por fim, encurtando mais a história, pois não temos tempo para conta-lá com detalhes, Jesus me conquistou e como um ladrão roubou para si meu coração e, no dia 10 de fevereiro de 2006, eu me via entrando no seminário, e fui levado por meus pais e irmãs. Uma cena que ficou gravada no meu coração, além da alegria deles, foi a da minha mãe com os olhos marejados de felicidade, o que me levou a fazer um voo sobre minha história e recordar as vezes que minha mãe derramou lágrimas de decepção e vê-la chorar de alegria; fez-me perceber que estava no caminho certo e isso acabou sendo uma fortaleza diante das dificuldades nos 8 anos que passei no seminário. Hoje, com 2 anos, quatro meses e 12 dias de padre, posso dizer que sou muito feliz e não me arrependo da escolha. Alguns, lendo este testemunho, podem pensar que me tornei padre por remorso, mas não foi! Tive que ir ao essencial o que me impediu de contar alguns detalhes, mas digo: Deus não deixou faltar nada na minha história, resolveu tudo!

Hoje, tenho a graça de, como padre jovem e reitor do seminário menor, trabalhar com a juventude da minha arquidiocese. Dois trabalhos que dão muita felicidade e que exigem muito de mim. Neles, tenho a oportunidade de doar minha vida e aprender muito. Espero que este testemunho ajude algum jovem a descobrir que Deus, às vezes tira, de onde não tem, assim foi comigo.

Por padre Everson Vianna, responsável pelo setor diocesano de juventude e reitor do seminário menor da Arquidiocese de Belém (PA).

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 1º Testemunho da série “Vocacionado!Eu?!: “Testemunho vocacional: jovem e feliz por viver a loucura da cruz

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