Este é o 12º artigo da série Teologia do Corpo
Já estamos no segundo ciclo de catequeses do Papa São João Paulo II que se concentram no coração humano. Nessas catequeses o papa apresenta a nossa humanidade como a conhecemos e vivemos hoje: corrompida pelo pecado original, mas, ao mesmo tempo, também redimida pelo Cristo. Este é o ciclo mais longo de catequeses.
O texto bíblico principal desta etapa é Mt 5, 27-28. É o diálogo de Jesus com os fariseus sobre a Lei. Nele Jesus afirma: “Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo, todo aquele que olhar para uma mulher com desejo de possuí-la, já cometeu adultério no seu coração”.
A Teologia do Corpo explica que o “coração” engloba toda a dimensão da nossa humanidade. Não o “coração” como símbolo de romantismo ou coisa assim, mas como a fonte e a força motriz das nossas intenções e ações. Cristo alerta que, mesmo que não haja ato efetivo, o desejo libidinoso, o desejo de luxúria que quer usar o outro como um objeto já é altamente pernicioso.
Isso significa que devemos ignorar ou reprimir os desejos como se fossem maus? Não. Isso significa que podemos (e devemos) educá-los. O ser humano, dotado de inteligência, é capaz de atingir toda sua potencialidade humana por um processo educacional que dura a vida toda, que bebe de diversas fontes de sabedoria e que leva à maturidade pessoal e relacional.
O desejo a que Jesus se refere na passagem acima do evangelista Mateus é o desejo desvirtuado, que reduz a pessoa a um mero objeto de prazer. Nas palavras de São João Paulo II:
“O ‘coração’ humano experimenta o grau desta limitação ou deformação, sobretudo no âmbito das relações recíprocas homem-mulher. Precisamente na experiência do ‘coração’, a feminilidade e a masculinidade parecem já não ser a expressão do espírito que tende para a comunhão pessoal, e se tornam só objeto de atração…” (Teologia do Corpo, 32, 1)
Um primeiro passo prático é reconhecermos que os desejos que sentimos são dons de Deus. Deus colocou os desejos em nós. Eles são assim tão fortes e intensos, porque são uma verdadeira chama divina. Eles existem para nos impulsionar para Deus, afinal, a comunhão com Ele é nosso destino último. O desejo que está plantado no coração, na nossa alma, se reflete também no nosso corpo, já que somos uma unidade de corpo e alma.
Diante dos desejos nossa atitude deve ser a de reconhecer que as experiências que vivemos aqui na terra não são um fim em si mesmas. Se pensamos nos relacionamentos humanos, especialmente nos relacionamentos amorosos de homem e mulher, não podemos idolatrar nem nosso corpo, nem o corpo do outro. O corpo é o sinal, a placa que indica a direção do céu, não é o ponto de chegada. No nosso relacionamento deveríamos nos perguntar: “Estou mais próximo de Deus na forma como me comporto? Meu amor é um reflexo da Trindade Santa?”. Se o mal brota do coração, o bem também! Vale a reflexão.
Por Tatiana e Ronaldo de Melo – assessores do Núcleo de Formação e Espiritualidade da Pastoral Familiar/Arquidiocese do Rio de Janeiro
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