Medo de que? Medo de quem? Homens de pouca fé.

Medo de que? Medo de quem? Homens de pouca fé.

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Viver no medo é uma experiência terrível. E viver sem medo pode ser uma inconsciência imperdoável. Este é o dilema que, faz tempo, se agita no meu coração errante: que não há nada de sério para temer a não ser de ser uma pessoa como os 7 bilhões que habitam o planeta.

São pessoas insignificantes como os milhões que se veem todos os dias a ir e vir sem nenhuma coisa importante para fazer a não ser ganhar o pão de cada dia. Mas o medo não está fora de mim, está dentro de mim e me agride com violência, me obriga a virar continuamente a cabeça e abrir os olhos para tentar penetrar na mente de quem está sentado no metrô ao meu lado ou em pé, ou a pensar o que pensa esta pessoa que faz o mesmo caminho.

Perguntas tolas e estúpidas que são fruto do medo que corre solto depois de ter visto a morte de centenas de pessoas na França, Bélgica, na África, na Síria, na Turquia, no Iraque, ou de ter ouvido que um avião caiu na montanha do Sinai onde um dia Deus chamou Moisés para lhe dar os mandamentos, e o quinto deles diz: “Não matarás”. O medo corre solto no meu sangue e me perturba o sono e a digestão. Mas o que é o medo? Deixemos as definições e descrições para os psicólogos e psicanalistas, e como gente sem inteligência e sem cultura digo que o medo é simplesmente o medo. Não sei explicar o que é, mas sei o que é. E o vivo.

Eu me consolo lendo a Bíblia, onde me dizem os estudiosos que Deus repete ao homem frágil, covarde e velhaco: “Não tenhas medo, Eu te amo. Não tenhas medo, Eu estou contigo. Não tenhas medo, pequenino verme. Tu és precioso aos meus olhos.” Estas palavras me consolam um pouco. E leio o Evangelho onde o próprio Jesus se viu obrigado a dizer aos seus discípulos: “Não tenhais medo, sou eu! Por que tendes medo, homens de pouca fé?”. E então compreendi que o meu medo é consequência da minha falta de fé. E devo ter mais fé para vencer o medo.

O medo me bloqueia em tudo, mas fecho os olhos e caminho rezando o salmo do Bom Pastor: “Mesmo que eu atravesse noites escuras, vales tenebrosos, não terei medo. O Senhor é meu pastor!”. Nele me apoio e com ele vou avançando na longa estrada que me separa da última barreira do medo, que é a morte.

Diante de tudo isso, tomei uma decisão que pode parecer boba e sem sentido, mas que me ajuda: eu me proíbo de ter medo. Não posso ter medo de nada, nem de mim mesmo porque sou filho de Deus e Ele me protege. Não posso ter medo dos outros porque são meus irmãos que caminham comigo, amando a vida e procurando viver. Não posso pensar que ao meu lado há alguém que quer se matar e me matar. E, noite e dia, não posso viver com medo.

É necessário abrir as portas do coração para que a luz possa entrar e Deus venha me habitar. Onde Deus estiver, o amor habita, a morte é vencida para sempre, o medo desaparece.

Medo de que? Medo de quem? O medo é estar sem Deus e sem você. O medo do deserto e do nada. Mas quem tem Deus não pode ter medo. Decidi proibir-me de ter medo, olhei o medo nos olhos e vi que o medo não é outra coisa senão o pálido reflexo da prepotência humana.

frei-patricio-240pxlFrei Patrício Sciadini, OCD. 

Sacerdote carmelita, italiano, feliz e apaixonado pelo Brasil. Profundo conhecedor da espiritualidade carmelitana e um apaixonado por Santa Teresa d’Ávila.

(Reprodução comshalom.org)

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