[Artigo] Os Jovens e o Natal: Em meio a escuridão foi possível enxergar a luz

[Artigo] Os Jovens e o Natal: Em meio a escuridão foi possível enxergar a luz

OS JOVENS E O NATAL

Estamos nos aproximando do nascimento do Salvador e este já é o terceiro Natal celebrado em meio a pandemia do novo corona vírus, porém nada se compara aos anos anteriores. O perigo ainda não passou, novas variantes do vírus têm surgido de tempos em tempos, no entanto temos aprendido a conviver com esse incômodo, ressignificando a vida.

Em meio a essa escuridão da pandemia, muitos jovens tem manifestado que foi possível enxergar a luz natalina, como: não nascemos para viver isolados; o abraço é um remédio que cura muitas doenças; saímos mais fortes para enfrentar os desafios do cotidiano; as vacinas foram estrelas de Belém que nos conduziram a um novo tempo; os profissionais da saúde foram anjos cantando noite feliz, em meio a noite da dor e da morte; o cuidado com os vulneráveis e as ações solidárias com os que passavam fome, revitalizaram o amor fraterno, etc.

Em todos os tempos as pandemias têm surgido, ora com vírus que afetam a saúde física das pessoas, levando muitos à morte, outras vezes adoecendo as mentes e a alma humana, dividindo e marginalizando os filhos de Deus. Há tempos que o Papa Francisco tem citado alguns vírus da modernidade que precisam ser vencidos, como: o egoísmo, o individualismo, o preconceito, a fofoca, as injustiças… Para todos os vírus, há um remédio eficaz que o advento nos apresenta: a conversão! Ela é possível, se mantermos “os olhos fixos em Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12,2a).

Jesus chega novamente para nos curar de todas as pandemias e nos ajudar a vencer todos os vírus. Ele vem em forma de luz, abrindo caminhos, apontando horizontes, fortalecendo a esperança e afirmando que as oportunidades são para todos os filhos e filhas de Deus, mesmo que em muitos momentos encontremos portas fechadas; até porque, portas fechadas, nos livram de muitos perigos e se não temos chaves para abri-las é porque não é a nossa casa. Não desanimemos! Olhemos para frente, pois não estamos sozinhos.

O tema da luz é vasto nas Sagradas Escrituras. No livro do Gênesis, a Palavra criadora de Deus torna presente a luz. Os profetas anunciaram a chegada do Messias como luz, o sol da justiça que viria iluminar a todos, a começar por Jerusalém. No prólogo de São João, a Palavra é a luz que irrompe na escuridão do mundo, instaurando o Reino de Deus. No Templo, o velho Simeão, reconhece Jesus como luz das nações, extasiando-se de alegria. E o próprio Jesus Cristo afirmou: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). Eis a luz que brilha em meio às trevas e as pandemias já não tem a última palavra.

A juventude é uma etapa de luz, porque os sonhos permeiam esta fase de uma forma esplêndida, como lanternas que dão firmeza aos passos. Nesse sentido fala o Papa Francisco: “Um jovem que não sabe sonhar é um jovem anestesiado, não poderá entender a vida. Os sonhos te despertam, te levam além, são as estrelas luminosas, aquelas que indicam um caminho diferente para a humanidade. Os grandes sonhos são aqueles que dão fecundidade, capazes de semear paz, fraternidade e alegria. Estes são sonhos grandes porque pensam em todos nós. Tu podes sonhar coisas grandes, mas sozinho é perigoso, porque poderás cair no delírio da onipotência. Mas com Deus não tenhas medo, sonhe grande”.

Fico a imaginar essa Luz-Jesus chegando, ajudando os jovens a vencerem toda opacidade da vida e aumentando o clarão da sua estrada… Tomemos para isso o significado do Natal:

O Encontro

“O homem caiu, porém Deus desceu. Caiu o homem miseravelmente, desceu Deus misericordiosamente; caiu o homem pela soberba, desceu Deus com sua graça” (Santo Agostinho).

Muitas vezes, nossa vida é marcada por desencontros, os verdadeiros encontros são raros. Como faz falta para o jovem a proximidade, o abraço, o incentivo, a amizade… No mundo virtual, os amigos são distantes e frios, nos encontros presenciais, os amigos são calorosos e motivadores. Deus decidiu estar próximo de nós, e Jesus é nosso melhor amigo. Como no caminho de Emaús, seus passos andam na mesma velocidade que os nossos; ele arranca as tristezas e angústias do nosso coração e ainda oferece seus ombros para nos apoiar e coletar as nossas lágrimas, como a dizer: “Vale a pena viver com sentido! Meu encontro com a sua humanidade é para te elevar à minha divindade”. Jovem, “não conhecerás a verdadeira plenitude de ser jovem, se não viveres na amizade de Jesus. A amizade com Jesus é indissolúvel, não prives a tua juventude desta amizade, pois viverás a experiência estupenda de saber que estás sempre acompanhado” (Christus Vivit).

A Novidade

“Se alguém está em Cristo, é nova criatura é. As coisas antigas passaram; eis que uma realidade nova apareceu” (2 Cor 5,17).

A vida é uma rotina, desde o levantar-se até o momento do repouso noturno, hábitos e posturas se repetem, como: tomar café, trabalhar, almoçar, tomar banho… E muitos ficam aguardando o final de semana para fazer algo diferente, e tudo se repete… A rotina nos ajuda a viver organizados e a aproveitar o tempo de forma inteligente. No entanto, essa repetição, não é sinônimo de monotonia, o que seria a execução de tarefas sem motivação; uma mesmice insossa, uma automatização. Natal é a novidade de Deus que se dá, porque o Espírito Santo faz nova todas as coisas. Jovem! Você já percebeu como tem amigos apáticos às realidades da vida, até mesmo com relação ao Natal? Deixe Cristo chegar para você como novidade, novo nascimento, para isso crie boas exceptivas e prepara-se, pelo sacramento da confissão, pela oração, pela reconciliação com as pessoas e com gestos de compaixão para com o próximo. Que seu coração esteja aberto para acolher as boas novidades do céu, porque “o amor de Deus e a nossa relação com Cristo vivo não restringem os nossos horizontes. Pelo contrário, instiga-nos, estimula-nos, lança-nos para uma vida melhor e mais bela” (Christus Vivit).

Renovação da esperança

“Esperando contra a esperança, Abraão acreditou e tornou-se o pai de muitas nações, conforme foi dito a ele: Assim será a sua descendência” (Rm 4,18).

Abraão não foi apenas o pai da fé, mas também o pai da esperança, pois uma virtude segue a outra. Tenho visto muitos jovens desesperançados, desacreditados do ser humano e com uma visão fatalista da vida. Decepções e perdas tem sido alimentadas sem critérios, com uma adesão rápida à cultura individualista. Essa postura tem adoecido muitos jovens, tornando-os indiferentes às belezas da vida, bem como às propostas que a Igreja tem apresentado, desde o Concílio Vaticano II, através de documentos e exortações, apontando pistas para que assumam seu protagonismo batismal de forma plena. O substantivo esperança vem do verbo “esperançar” e não do verbo “esperar”. Esperançar é ir atrás e jamais desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa deixar a zona de conforto para se lançar em novas perspectivas e provocar as mudanças que se fazem necessárias. O nascimento de Jesus é, sobretudo, a renovação da esperança, pois sendo Ele, a luz verdadeira que veio ao mundo, é capaz de reacender a chama interna que parecia apagada. Não nos esqueçamos que “os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, não se deixando bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros” (Christus Vivit).

A paz

“Porque nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. Sobre o seu ombro está o manto real, e seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is 9,5).

A paz tem sido um dos maiores anseios da humanidade e no coração dos jovens, tem brilhado o estandarte: “paz e amor”. Há muitos aliciadores que circundam, sobretudo as juventudes, apresentando um mundo fácil e cômodo, pela via da violência, do poderio e do ódio; um mundo ilusório que, infelizmente, muitos tem optado e perdido a vida precocemente. A paz começa a ser construída quando buscamos vencer pontos permanentes de irritação dentro de nós; quando mantemos o tom de voz sereno frente a agressividade de outros; quando optamos por escutar, dialogar e respeitar; quando preferimos construir pontes a levantar muros de separação… Francisco de Assis, foi um jovem entusiasmado na busca da paz, sua oração: “Senhor, fazei de mim instrumento da tua paz”, continua a inspirar os cristãos no seguimento do “Príncipe e Senhor da paz”. Francisco, montou o primeiro presépio da história, na noite de Natal do ano de 1223, com personagens vivos, para absorver o máximo daquela paz que vinha da cena do nascimento do Salvador. “Para a construção da paz precisamos de audácia, verdade, justiça e misericórdia. O percurso para a paz não implica homogeneizar a sociedade, contudo permite-nos trabalhar juntos. A construção da paz social num país nunca está terminada, exige o compromisso de todos” (Fratelli Tutti).

Sinodalidade

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,12).

O termo grego “sínodo” significa “caminhar juntos”. Deus desceu do céu para caminhar com seu povo. Ele é Deus-conosco e se mistura às nossas dores e alegrias; vem para curar os cegos, os paralíticos, os leprosos e os surdos, para ressuscitar os mortos e proclamar a boa nova aos pobres (cf. Lc 7,22). O caminho sinodal proposto pela Igreja é o mesmo feito por Jesus quando esteve em nosso meio, expressado pela comunhão, participação e missão. Caminhar juntos não significa apenas estar um ao lado do outro, mas todos centrados num mesmo objetivo, comungando o mesmo ideal. Sinodalidade tem a ver com as juventudes? Sim! Dificilmente um jovem não está inserido num grupo social, não se relaciona com amigos da escola ou faculdade… E quantos fazem parte de um grupo na sua comunidade eclesial, esta é uma grande vantagem. Basta, apenas, centrar no evangelho e, juntos, investirem em valores que Jesus implantou e defendeu… Todo jovem é chamado e deve ser incluído no processo sinodal, porque este é o jeito de ser Igreja, de ser cristão no séc. XXI. Sinodalidade se expressa ainda na autoridade serviço, na proximidade e na escuta. O Espírito Santo é o protagonista desse processo. “Os jovens têm algo a nos ensinar sobre sinodalidade… Eles nos pediram de mil modos que caminhemos ao lado deles: nem atrás deles, nem à frente deles, mas ao lado deles! Nem acima deles, nem abaixo deles, mas no mesmo nível deles” (Papa Francisco).

Cada jovem, na sua experiência de fé, poderá descobrir, neste Natal de 2022, muitas outras lições que a luz, na forma de uma criança, vem nos trazer. Importa nos abrirmos à sua claridade, e deixarmos que o convite do menino nos provoque profundamente: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; pois ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”. (Mt 5, 14-16). Com Jesus-Luz, somos protagonistas do “novo céu e da nova terra” (Is 65,17; Ap 21,21).

Não adiemos a recepção da luz que novamente nos vem, este tem se tornado o grande mal da humanidade e de muitos jovens. Tem sido mais cômodo reclamar da escuridão do que acender uma vela.

Feliz e santo Natal! Abençoado Ano Novo!

Dom Amilton Manoel da Silva, CP
Bispo diocesano de Guarapuava – PR
Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB

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