[Artigo] As virtudes de São José interpelam a nossa juventude

[Artigo] As virtudes de São José interpelam a nossa juventude

São José era um homem comum. Não foi poupado do pecado original. Na Bíblia, aparece pouco e não há sequer uma frase falada por ele. Em certo momento, Cristo se apresentou para ele, mas de maneira tão inusitada e em meio a tantas dificuldades que talvez ele tenha pensado em desistir,  mas teve imensa simplicidade e fidelidade para trilhar os caminhos de Deus e acolher a Cristo em sua vida, mesmo tendo que superar muitos obstáculos, incluindo a si mesmo.

Notou alguma semelhança com a sua própria história? Talvez seja interessante olhar para ele como o seu representante na Sagrada Família. Afinal, Nossa Senhora teve a graça de nascer sem o pecado original, Cristo é Deus, mas São José era igualzinho a você.

Papa Francisco tem chamado muita atenção para São José. Tem citado o santo em diversas ocasiões e o inseriu na oração eucarística, no dia 22/12/2013, quando fez uma belíssima catequese sobre o momento crucial da sua vida: a gravidez de Maria.

Vamos fazer um exercício imaginativo: você tem uma noiva, mas precisa sair em viagem.  Combina que, ao regressar, vocês se casarão.  Você vai e quando volta… surpresa!  Sua noiva está grávida!  Pode isso, Arnaldo?  O que você faria?  Tenho certeza de que não iria ficar muito feliz.  Mas vamos acrescentar um pouco de ação a essa história: imagine que na sua sociedade, esse crime fosse punido com apedrejamento público!

Imaginou? Qual foi a sua decisão? Era capaz de mandar apedrejar e gritar que “a fila anda”! Pois, José não mandou. Resolveu abandonar Maria. Mas o fez em segredo. Sem alarde. Ele não queria que nada de mal acontecesse àquela menina.  O Evangelho diz: ‘Porque era um homem justo e não queria acusá-la publicamente, resolveu deixá-la em segredo’ ( 1, 19).

Esta pequena frase resume um verdadeiro drama interior, se pensarmos no amor que José tinha por Maria! Mas, mesmo em tal circunstância, José pretende fazer a vontade de Deus e decide, sem dúvida com grande dor, abandonar Maria em segredo. Devemos meditar nessas palavras, para entender a prova que José teve que enfrentar nos dias que precederam o nascimento de Jesus. Uma prova parecida com aquela do sacrifício de Abraão, quando Deus lhe pediu seu filho Isaque (cf. Gn 22): renunciar à pessoa mais preciosa, à pessoa mais amada.” Mas o Senhor não abandonaria José e nem Maria (que a essa altura não poderia ficar sozinha – seria muito perigoso) e faz com que um anjo explique tudo a ele em sonho.  E José, neste momento é obrigado a renunciar completamente a todas as expectativas que tinha criado, para seguir o caminho que Deus estava mostrando. Claro que José imaginava ter uma esposa, filhos e uma vida normal em que trabalharia durante o dia e chegaria em casa ao final da tarde para ficar com sua família.  Não imaginava desposar uma mulher grávida, não imaginava fugir para proteger a sua família, uma vida de martírio… e com certeza, não imaginava ter que abraçar a imensa responsabilidade de criar o Filho de Deus, o Messias tão esperado por todos.

 

De novo, vamos olhar para as palavras irretocáveis do Papa Francisco:

“Este Evangelho nos mostra toda a grandeza de alma de São José. Ele estava seguindo um bom projeto de vida, mas Deus reservou para ele um outro projeto, uma missão maior. José era um homem que sempre dava ouvidos à voz de Deus, profundamente sensível à sua vontade secreta, um homem atento às mensagens que lhe vinham do profundo do coração e do alto. Não ficou obstinado em perseguir aquele seu projeto de vida, não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma, mas estava preparado para colocar-se à disposição da novidade que, de forma desconcertante, era-lhe apresentada. Era assim, era um homem bom. Não odiava, e não permitiu que o rancor lhe envenenasse a alma. Mas quantas vezes em nós o ódio, a antipatia também, o rancor, a polarização nos envenenam a alma! E isso faz mal. Não permiti-lo nunca: ele é um exemplo disso. E assim, José se tornou ainda mais livre e grande. Aceitando-se de acordo com o projeto do Senhor, José encontra plenamente a si mesmo, além de si. Esta sua liberdade de renunciar ao que é seu, e esta sua plena disponibilidade interior à vontade de Deus, nos interpelam e nos mostram o caminho.”

Caríssimos jovens, representantes de várias expressões juvenis, leiam esse parágrafo MIL VEZES até entender tudo o que São José representa para a vida de cada um de nós e para as nossas expressões juvenis.

São José tinha um plano para sua vida e, em algum momento, teve que encarar a o fato de que o plano de Deus não combinava com seus planos.  Isso parece familiar?  Com toda a certeza isso já aconteceu com cada um de nós e para as nossas expressões juvenis! Mas quando isso aconteceu, o que fizemos?  Aderimos ao plano de Deus ou ficamos rancorosos e envenenados, lamentando por não conseguirmos impor nossos próprios planos?

Papa Francisco fala que José se tornou mais livre e grande ao aderir ao plano de Deus. Percebam que José não faz o que quer, mas se torna mais livre! O pecado original sempre nos dá a tentação de acharmos que ser livre é não pertencer a nada nem ninguém. Mas isso é uma ilusão… sempre seguimos alguém, sempre pertencemos a algo. Então, porque não seguir a Deus e pertencer a Ele?  Há outra maneira de ser realmente livre?

Quantas vezes nos agarramos aos nossos planos, tentando fazer com que prevaleçam? Quantas vezes viramos as costas para os planos de Deus porque achamos tudo muito difícil? Quantas vezes ficamos confusos com a realidade e não enxergamos o que Deus quer de nós?

Então, Comissão nacional da juventude, vamos olhar para São José, que não foi poupado do pecado original, nem das dificuldades. Aderiu fielmente aos planos de Deus, cresceu, foi mais livre e serviu como peça fundamental da salvação de todos nós.

Destacamos a importância da devoção a São José em meio à crise de escândalos, secularização acelerada e confusão doutrinal que envolve os fiéis cristãos, necessitados de “especial cuidado paterno”. 

Hoje, Deus olha para nossas expressões juvenis e nos apresenta a figura de São José, que possamos melhorar a nossa expressão eclesial, fugindo das polarizações que magoam e matam e, através do diálogo, da escuta com Deus, nesse tempo de campanha da fraternidade ecumênica, melhorar o nosso diálogo com os que pensam diferentes, a fim de somar e abraçar, a exemplo de José, a liberdade de servir a Deus e não aos nossos caprichos.  Nessa direção, supliquemos as graças de São José para verdadeiras conversões…

E pensar com profundidade em que São José pode inspirar a nossa Pastoral Juvenil? Quais as grandes virtudes e valores de São José que, nesse momento de intransigência, irresponsabilidade, polarizações, podem interpelar a nossa juventude a não olhar para si, mas para os desígnios de Deus? 

Quero concluir, destacando a importância da devoção a São José por parte da juventude, em meio à crise de escândalos, secularização acelerada e confusão doutrinal que envolve a juventude, necessitados de “especial cuidado paterno”. Precisamos confiar-nos ao seu cuidado espiritual neste momento tão difícil no mundo e na Igreja. A Igreja está lidando com crises antropológicas no mundo. Muitos países tentam redefinir o matrimônio, os jovens vão se distanciando do conceito de família, matrimônio cristão,  as mulheres não entendem o que significa ser mulher, os índices de divórcio estão no auge e as famílias estão desmoronando em toda parte. A dimensão sagrada de nossa sexualidade, cada vez mais banalizada…

Exorto a reforçarmos a esperança em Deus, mediante a devoção a São José, o homem a quem Ele escolheu para ser o pai adotivo de Seu Filho encarnado. 

O homem a quem o próprio Deus chamou de “pai”; um santo venerado pelos santos e há de ser pela nossa juventude.

Por Dom Nelson Francelino, Bispo de Valença – RJ – Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude

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