Fraternidade e tráfico humano

Fraternidade e tráfico humano

por padre Róger Araújo

288385A Igreja do Brasil realiza há 40 anos a Campanha da Fraternidade (CF) durante o período da Quaresma. A proposta procura unir a espiritualidade de conversão e a penitência deste tempo litúrgico em preparação para a Páscoa às realidades sociais e carências humanitárias que exigem um maior comprometimento da nossa fé cristã.

Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe como tema “Fraternidade e tráfico humano” e como lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”. A sugestão nasceu de entidades ligadas à Pastoral da Mobilidade Humana e de grupos que trabalham para combater o trabalho escravo. Após um longo aprofundamento sobre o assunto, chegou-se à conclusão de que se trata de uma grave chaga social que afeta o mundo e representa um dos mais sérios problemas humanitários do nosso país.

De acordo com Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), são consideradas vítimas do tráfico humano pessoas aprisionadas pelo trabalho escravo e a exploração sexual. Em 2012, pelo menos 20,9 milhões foram vítimas deste crime em todo o mundo. No Brasil, pelo menos 2,5 milhões de pessoas são vítimas deste aliciamento envolvendo crianças, jovens e adultos. Geralmente, as vítimas são pessoas frágeis e inocentes que sonham com uma vida melhor, com a chance de sobrevivência ou com uma vida mais digna. São envolvidas em falsas promessas ou simplesmente levadas à força sem qualquer oportunidade de uma outra escolha. Tortura psicológica, constantes ameaças, falta de perspectivas ou qualquer proteção dos órgãos de segurança, fazem destas pessoas presas fáceis dos aliciadores.

A campanha da Fraternidade de 2014 chega numa boa hora em nosso país. O Brasil é palco de importantes eventos internacionais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016. A realização destes eventos aumenta a oferta e a procura pelo turismo sexual. Denúncias de trabalho escravo e exploração sexual, sobretudo de menores, fazem parte das manchetes dos nossos jornais quase de forma cotidiana. No Congresso Nacional, uma Comissão Parlamentar procura denunciar quem promove esta prática criminosa.

A Igreja procura denunciar estruturas e situações causadoras do tráfico humano e reivindicar dos poderes públicos, políticas e meios para reinserção das pessoas atingidas pelo tráfico humano e na vida familiar e social.

Cada um de nós é chamado a se envolver nesta causa social e combater esta perversidade humana. Não se iniba em denunciar qualquer suspeita deste crime perto de você. Ao mesmo tempo, não deixe de ajudar entidades que trabalham por esta nobre causa. O trabalho escravo e a exploração sexual acontecem muitas vezes ao nosso lado e não damos conta disto. Cristo nos libertou para que sejamos livres. Trabalhemos pela liberdade das vítimas desta opressão!

* Padre Róger Araújo é jornalista e membro da Comunidade Canção Nova. É autor do livro “João Paulo II – Uma vida de Santidade” (Editora Canção Nova). Twitter: @padreroger

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