José de Anchieta será o terceiro santo do Brasil

José de Anchieta será o terceiro santo do Brasil

JoseAnchieta1“Anchieta é considerado um ícone da evangelização. Canonizar Anchieta significa declarar que a ação dos primeiros missionários estava correta, mesmo com alguns enganos”, afirma o padre jesuíta Cesar Augusto dos Santos, vice-postulador (espécie de advogado da causa) da canonização de José de Anchieta e responsável pelo Programa Brasileiro na Rádio Vaticano, emissora radiofônica da Santa Sé, na Cidade do Vaticano. O padre José de Anchieta (1534/1597), um dos fundadores da cidade de São Paulo e conhecido como “apóstolo do Brasil”, será canonizado em Roma, conforme anunciado por alguns setores da Igreja no Brasil, após pedido da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

O papa Francisco dispensou a comprovação de um milagre para a canonização do padre Anchieta. “Na história da Igreja, houve muitos casos semelhantes. Mesmo porque a exigência de comprovação de milagres é relativamente recente”, explica o padre Cesar Augusto. Segundo ele, “a questão é provar os milagres por causa da falta de documentação.

No caso de Anchieta, as principais dificuldades para conhecer a fundo sua vida e distinguir fatos reais de fantasiosos, foram a perda de documentação e o contato pessoal com os grandes conhecedores, pois já haviam morrido.

Para levantar informações que comprovassem a santidade de Anchieta, o vice-postulador Cesar Augusto foi buscar apoio científico fazendo mestrado em História do Brasil Colonial, além de viajar algumas vezes às Ilhas Canárias, Coimbra, Roma e cidade de Anchieta (ES), além de uma série de visitas à biblioteca do Pateo do Collegio (centro de SP). “Pesquisei em muitos livros e até músicas ajudaram, como ‘Sinfonia 10 – Ameríndia, de Villa Lobos.”

O resultado desse trabalho de padre Cesar Augusto e demais postuladores jesuítas, entregue ao Vaticano, é uma ampla documentação sobre a vida de Anchieta, com 488 páginas, onde há o registro de 5350 pessoas que alcançaram graças rezando ao beato. “Podemos assegurar, com nomes e endereços, que Anchieta tem mais de 50 devotos e multiplicadores de sua causa em cada Estado”, diz o padre. Segundo Cesar Augusto, há registros de 35 paróquias dedicadas à Anchieta, e 1154 divulgadores (que rezam e propagam a sua fé em Anchieta, por meio de grupos de oração).

No entanto, conforme explica o vice-postulador, milagres atribuídos a Anchieta são muitos: “Temos as curas de doenças e as ações sobre a natureza”. À Anchieta também foram atribuídos os poderes de levitação, a bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo) e de falar com animais. “Um dos mais sensacionais relatos do poder sobrenatural do padre é o ocorrido em uma de suas viagens de catequese (1575). Para proteger seus irmãos do sol, o jesuíta teria pedido ajuda aos pássaros guarás-vermelho, que se juntaram em uma nuvem sobre a canoa dos missionários”.

Para o vice-postulador da Causa, o que fez José de Anchieta ser merecedor da canonização foi a sua humildade, seu testemunho de fé inabalável em Deus, a esperança e a caridade. “Para a Companhia de Jesus, tornar Anchieta santo significa que os primeiros passos da Ordem Religiosa foram acertados e produziram testemunhas fortíssimas do amor de Deus, conforme queria Inácio de Loyola, fundador da Ordem”. Ao longo da história da Igreja Católica, 150 jesuítas já foram beatificados e cerca de 50 canonizados.

Anchieta será o terceiro santo considerado brasileiro, depois de Madre Paulina (em 2002) e Frei Galvão (em 2007). “Na verdade, ele é reconhecido como o santo de três pátrias, Espanha, onde nasceu; Portugal, onde viveu e entrou para a Companhia de Jesus, e Brasil, onde viveu, evangelizou e fez o seu apostolado”, afirma Cesar Augusto.Anchieta é ainda o primeiro a ser canonizado em 2014 e o segundo jesuíta a ser canonizado pelo Papa Francisco (antes dele, foi o francês Pedro Fabro).

O Papa Francisco assinará o decreto de canonização de Anchieta em seu escritório no Palácio Apostólico e no dia 24 de Abril celebrará missa em ação de graças na Igreja de Santo Inácio, em Roma. Na mesma data, o papa também vai declarar santos dois missionários franceses que viveram no Canadá, o bispo François Monseigneur de Laval (1623-1708) e a freira Marie de L’Incarnation (1599-1672). “O papa quer canonizar, em uma só ação, os evangelizadores da América. Laval e L’Incarnation são os da América do Norte e Anchieta, da América do Sul”, explica o padre Cesar Augusto.

Após a celebração em Roma, haverá comemorações na Espanha, Portugal e no Brasil, nas cidades de Vitória/ES (onde Anchieta foi sepultado) e Anchieta/ES (Reritiba, nome na época, onde faleceu), Aparecida/SP, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA e outras cidades.. Em São Paulo, capital, está previsto o badalar dos sinos das 300 igrejas da arquidiocese, no momento de sua canonização em Roma. Os templos que levam o nome de Anchieta, como Igreja José de Anchieta (SP/SP) e o Santuário de José de Anchieta (Anchieta/ES), deverão mudar para São José de Anchieta ou Santo Anchieta, informa o padre Cesar Augusto.

                                   

Vida e obra de Anchieta ─

Apesar de ter nascido na Ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, na Espanha, padre José de Anchieta ficou conhecido como o “apóstolo do Brasil” por sua atuação no País. Chegou ao Brasil em julho de 1553, com outros seis jesuítas e, em menos de um ano, dominava o tupi com perfeição. Ao longo dos 43 anos em que viveu no Brasil, participou da fundação de escolas, cidades e igrejas. Foi um dos fundadores do Colégio de São Paulo de Piratininga (hoje Pateo do Collegio), que deu origem à cidade de São Paulo..

Historiador, gramáticopoeta e teatrólogo, redigia seus textos, tanto em prosa quanto em verso, em quatro línguas, portuguêscastelhanolatim e tupi. Foi autor da primeira gramática brasileira, “A Arte da Gramática da Lingua Mais Usada na Costa do Brasil”, que sistematizou a língua tupi. O movimento de catequese influenciou seu teatro e sua poesia, deixando contribuições em poesias em verso alexandrino, como “Poema à Virgem” (com 4172 versos) e em outras obras   Sua vasta obra foi integralmente publicada no Brasil na segunda metade do século XX.

A pé ou de barco, Anchieta viajou pelo País inaugurando missões, com aulas de catequese, gramática e conhecimentos gerais. Os alunos eram os índios, os colonos e, por vezes, até os padres. Essas viagens foram essenciais para a consolidação do cristianismo e do sistema do ensino no País. Além de São Paulo, o padre também esteve no Rio de Janeiro, Espirito Santo e em cidades do Nordeste .

Ensinar preceitos cristãos utilizando características locais, como celebrações musicadas ao ritmo de tambores, em aulas ao ar livre, era uma das peculariedades de Anchieta. Outra dádiva de sua personalidade: além de educar e catequizar, o jesuíta também defendia os indígenas dos abusos dos colonizadores portugueses, que queriam escravizá-los e tomar suas mulheres e filhos. Mais tarde, com a chegada dos chamados negros da Guiné, Anchieta também tomou sobre si o cuidado deles se preocupando com o modo deles viverem e com sua cura pastoral.

Os inacianos, a começar pelo padre Manuel da Nobrega, chefe da primeira missão jesuíta no Brasil (fundada em março de 1549), se opunham ferrenhamente à escravização dos índios pelos portugueses.

Em maio de 1563, com o apoio dos franceses, a tribo dos Tamoios se rebelou contra a colonização portuguesa. Anchieta se ofereceu como refém na aldeia de Iperoig (onde moravam os chefes da aldeia dos índios Tamoios), enquanto Nobrega partiu para São Vicente, negociar a paz. Durante o cativeiro na praia, Anchieta sofreu a tentação da quebra da castidade. Era comum aos índios oferecerem mulheres aos prisioneiros, antes de sua morte. Nesse momento, o jesuíta fez uma promessa a Nossa Senhora: escreveria o mais belo poema já feito em sua homenagem, se conseguisse sair casto do cativeiro. Como prova da fé, começou a escrever os versos na areia da praia e assim surgiu o “Poema à Virgem”. Após cinco meses de confinamento, Anchieta foi libertado. Sem ter cedido à tentação.

Anchieta nasceu em 19 de março de 1534. Era parente de Santo Inácio de Loyola (fundador da Companhia de Jesus). Ingressou para a Companhia em 1551. Sua vida agitada e a entrega total aos compromissos religiosos comprometeram a sua saúde. Reclamava constantemente de dores na coluna e nas articulações. Padre Anchieta veio ao Brasil, obedecendo ao conselho dos médicos da época. Em 1566, aos 32 anos de idade, foi ordenado sacerdote. Em 1569, fundou a povoação de Reritiba (atual Anchieta), no Espirito Santo. De 1570 a 1573, dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro. Em 1577, foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, função que exerceu por dez anos, sendo substituído em 1587, a seu pedido. Antes, porém, teve de dirigir o Colégio dos Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo. Em 1595, obteve dispensa dessa função e retirou-se para Reritiba, onde faleceu em 9 de junho 1597. Logo depois de sua morte, foi cercado por uma multidão de índios, que levou o corpo em procissão silenciosa até a cidade de Vitoria, onde foi sepultado.

Entre as imagens existentes de Anchieta, está uma imponente estátua de bronze, que retrata o padre caminhando para Portugal, do artista brasileiro Bruno Giorgi. na cidade de San Cristóbal de Laguna (Espanha) ─ um presente do Governo do Brasil para a cidade natal do Santo. Há ainda uma pintura de Anchieta fundando a cidade de São Paulo, na Basílica de Nossa Senhora da Candelária, santuário da padroeira das Ilhas Canárias, na Espanha.

Processo de canonização de padre Anchieta

1597 – José de Anchieta morre, aos 63 anos, em Reritiba, Espírito Santo.

1617 – Os jesuítas brasileiros oficializam junto à Companhia de Jesus, em Roma, o pedido de canonização do padre.

1634 – As regras de canonização são mudadas pelo papa Urbano VIII (1623-1644). Passa a ser necessário esperar 50 anos da morte do candidato a santo para o Vaticano começar a examinar os processos.

1649 – O episcopado brasileiro retoma os pedidos de canonização – 52 anos após a morte de Anchieta.

1652 – Anchieta é declarado servo de Deus pelo papa Inocêncio X (1644-1655).

1668 – A causa é interrompida pela Companhia de Jesus, por falta de recursos.

1736 – Anchieta teve declaradas as Virtudes Heroicas pelo papa Clemente XII (1730-1740).

1773 – Processo de canonização é interrompido, após o papa Clemente XIV (1769-1774) decretar a supressão da Companhia de Jesus.

1980 – Anchieta é beatificado pelo papa João Paulo II (1978-2005) – a última etapa que antecede a canonização.

2013 – A CNBB pede ao papa Francisco a canonização de Anchieta.

2014 – O Vaticano confirma que Anchieta será declarado santo, mesmo sem a comprovação de um milagre.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa/Companhia de Jesus

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