Um Grito Pela Vida promove ação em Goiânia para denunciar o Tráfico de Pessoas

Um Grito Pela Vida promove ação em Goiânia para denunciar o Tráfico de Pessoas

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“É para a liberdade que Cristo nos libertou”. O refrão do hino da Campanha da Fraternidade 2014 voltou a ser cantado, não mais nas catedrais, mas nas ruas da capital de Goiás. Há muito tempo que a Rede Um Grito pela Vida, da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), vem denunciando o crime do Tráfico de Pessoas em todo o país.

Na manhã deste sábado, 07 de junho, o grito foi ouvido em Goiânia, quando mais uma Caminhada promovida pela Rede partiu da Praça Botafogo e percorreu a Avenida Anhanguera ganhando as ruas da região central da cidade.

A identidade dos participantes era bem definida: rosto sereno, cabeça erguida, olhar sincero, passos firmes na certeza da causa abraçada. Eram mulheres e homens, consagradas e consagrados, jovens e crianças, todos caminhando com cartazes e faixas para denunciar o Tráfico de Pessoas e jogar a favor da vida.

“Pegue a bandeira de luta, deixe a bandeira passar, essa é a nossa conduta, jogue a favor de vida”, dizia uma das músicas entoadas enquanto eram distribuídos panfletos informativos aos transeuntes e aos frequentadores dos estabelecimentos comerciais que estavam lotados.

A ação, que ocorreu de forma pacífica e contou com a parceria de órgãos do governo, pastorais e obras sociais, terminou em frente ao Teatro Goiânia onde, entre uma e outra execução da banda do Colégio Marista, os participantes ouviram relatos sobre o enfrentamento do Tráfico e testemunhos de algumas de suas vítimas.

Comovente foi o depoimento do Sr. João José Felipe, residente em Goiânia, que relatou o drama do desaparecimento de sua filha, Simone Borges Felipe (25), traficada e morta há 19 anos. “Minha filha foi levada para a Espanha e obrigada a se prostituir e veio a falecer envenenada, por ter denunciado para a família a situação na qual se encontrava”, afirmou. “Peço a Deus por todos os que abraçaram esse causa para que isso nunca mais aconteça”. Ele encerrou o seu relato tocando na trombeta o tema “Mais perto de meu Deus”.

Integrantes do Movimento de Adolescentes e Crianças (MAC), que este ano vem refletindo sobre o tema do Tráfico de Pessoas e a Copa do Mundo, também fizeram uma apresentação.

Em Goiás, Estado que lidera o ranking nacional do Tráfico de Pessoas, com 26% dos casos registrados, a Rede Um Grito pela Vida faz parceria com o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, o Projeto Resgate, a Pastoral do Migrante e a Secretaria de Estado de Políticas para Mulheres e Promoção de Igualdade Racial (Semira).

Naquele Estado, o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, trabalha na capacitação de agentes de enfrentamento do crime nas cidades do interior. “Estamos aproveitando a CF 2014 para fazer esse trabalho em todas as igrejas, através de rodas de conversa e palestras”, explicou Valdir Monteiro, membro da Comissão Executiva do Núcleo. “A partir do próximo mês será feito um trabalho de verificação das condições de trabalho dos imigrantes haitianos, senegaleses e bolivianos, nos frigoríficos de Goiânia, lugar propenso à escravidão e tráfico”, completou.

A coordenadora Regional da CRB de Goiânia, Irmã Maria Inês Alves Sampaio, manifestou sua satisfação com o ato. “Foi um momento de unidade, de participação da juventude, das escolas, das obras sociais, e agradecemos a todos os que vieram”, avaliou.

Fabrício Rosa, membro da Comissão dos Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal explicou que nas rodovias encontra muitas meninas, várias delas menores, que são exploradas sexualmente e que procura fazer um trabalho de conscientização. “Essas meninas são vítimas do sistema capitalista deste mundo que é tão injusto, de um país que é completamente excludente, de famílias que não as compreendem. Elas não estão ali por que querem. Nas rodovias nós tentamos resgatar essas pessoas e levá-las para instituições onde recebem apoio. Para isso, precisamos do trabalho das religiosas”, contou. Falou ainda das pessoas traficadas nas fazendas em Goiás e em vários lugares do Brasil. “Muitos trabalhadores são trazidos de outros estados e aqui são submetidas à Trabalho Escravo, onde não recebem o salário a que têm direito, são acorrentados, ficam fechados vigiados por capangas”, enfatizou.

Irmã Carolina de França, da Pastoral do Migrante, recordou que a Copa do Mundo de futebol trará ao país muitas pessoas. “O crescimento do turismo faz aumentar também a vulnerabilidade de muitas mulheres. Fazer a denúncia dessa realidade nos ajuda a alertar a sociedade sobre a situação do Tráfico de Pessoas”, destacou.

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) também são parceiras da causa. Dilmo Luís Vieira, articulador das CEBs, lembrou que a escravidão de hoje está relacionada com a do passado. “Estamos nos posicionando diante duma história que foi construída com o sofrimento do povo. Nessa história, se tem um povo que sofreu o tráfico é o povo africano”, disse. “Na sociedade moderna vemos a reprodução dessa situação, em especial nas periferias das cidades onde as pessoas são mais vulneráveis pela falta de políticas públicas”. Ele defende que a fé cristã deve motivar ações. “A gente tem que articular a fé com a vida e assimilar o projeto de Deus na pessoa de Jesus Cristo onde nenhuma pessoa tem o direito de escravizar outra. Por isso precisamos dar um basta ao Tráfico de Pessoas”.

Irmã Celina Loh, que atua na Rede Um grito pela Vida explica que em Goiânia, a Rede faz palestras nas paróquias e escolas, centros culturais para falar sobre o crime do Tráfico. “Hoje realizamos esta manifestação pública. Na semana passada fizemos outra caminhada na comunidade do Alto da Poeira e o próximo passo é atender os convites das entidades e paróquias para palestras e formação”. Em Goiânia a Rede reúne ao menos 15 religiosas além de várias leigas e leigos comprometidos.

Caminhada em Brasília (DF)

Nesta quarta, dia 11, acontece na Explanada dos Ministérios em Brasília, a Caminhada “Jogue a favor da vida – denuncie o Tráfico de Pessoas” em memória das vítimas. O evento, com início às 19h00 é promovido pela CRB Nacional, através da Rede Um Grito Pela Vida.

Disque 100 ou 180: Tráfico de Pessoas é crime.

Por: Jaime Patias

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