Solenidade da Anunciação do Senhor

Solenidade da Anunciação do Senhor

anunciação

Meus irmãos, hoje é a Solenidade da Anunciação do Senhor. Celebramos hoje o anúncio que o Arcanjo São Gabriel fez à Virgem Maria que seria a Mãe do Filho de Deus. Consideramos a resposta plena de fé de Maria, que acabamos de ouvir – “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” – o momento que ela concebeu o Verbo Divino no seu seio virginal. Estamos, portanto, há exatamente nove meses do Natal de Jesus Cristo, isto porque cremos que a concepção do Filho de Deus se deu em função da fé de Maria na palavra do Arcanjo Gabriel que era portador da mensagem divina. Assim, Maria, ao acolher a Palavra de Deus anunciada pelo Arcanjo, passou a ter o Filho de Deus – o Verbo divino – no seu ventre. Por isso, celebramos hoje a concepção do Filho de Deus no seio da Virgem Maria nove meses antes da celebração de Seu nascimento e, assim, o momento que o Filho de Deus Se fez homem para ser o nosso Salvador.

Geralmente esta Solenidade da Anunciação do Senhor ocorre na Quaresma, com a qual nós nos preparemas para a Páscoa de Jesus Cristo, da qual nos veio a nossa salvação. Podemos chamar esta Solenidade de o “Natal na Quaresma” e, longe de interromper o espirito da Quaresma, esta Solenidade nos recorda que a Páscoa, que estamos nos prepareando para celebrar, se inicia no Natal, quando o Filho de Deus Se fez homem, e entrou na nossa história para ser o nosso Salvador. De fato, a Páscoa começa no Natal, e a Solenidade da Anunciação do Senhor é mais uma ocasião de voltarmso os olhos da fé para Jesus Cristo, nosso Senhor, no dia que Ele entrou na nossa história para ser o nosso Salvador.

Com a celebração da Anunciação do Senhor, celebramos também o momento no qual o Filho de Deus se fez Filho do Homem, porque assumiu a natureza humana, e também o momento que Ele penetrou a nossa história para nos salvar. Assim, confessamos a plena divindade e a plena humanidade do Filho de Deus, que sem deixar de ser Deus, Se abaixou e Se fez homem no seio da Virgem Maria, para ser o nosso Salvador.

Por fim, celebramos que a iniciativa de nos salvar é de Deus, sim, mas Ele conta com a nossa cooperação. E hoje, de forma muito especial, vemos a participação de Maria na salvação da humanidade que, como o seu ‘sim’, com a sua fé, abriu as portas da humanidade, decaída pelo pecado, à salvação que Deus nos oferece.

A primeira leitura da missa de hoje é uma das tantas promessas contidas no Antigo Testamento a respeito da vinda do Messias. Ouvimos que “a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será ‘Emanuel’ porque Deus está conosco” (v. 10) Assim, Deus prometeu ao Povo de Israel o nascimento de um menino, do Messias, que se chamaria Emanuel. A palavra ‘Emanuel’, como ouvimos, significa “Deus está conosco”, um sinal da presença de Deus no meio de Seu Povo. Hoje celebramos o cumprimento desta profecia, quando a Filha de Sião, a Virgem Maria – a virgem prometida, como disse o profeta Isaias – disse o seu ‘sim’, e concebeu virginalmente o Filho de Deus, o Emanuel, o “Deus conosco”.

A segunda leitura é da Carta aos Hebreus. O trecho que ouvimos retoma o Salmo 39[40], que recitamos como Salmo responsorial, aplicado a Jesus. Mais que aplicados, alguns versículos do Salmo 39 são colocados na boca de Jesus Cristo, como expressão do cumprimento das promessas do Antigo Testamento. Ouvimos: “Por isso, ao entrar no mundo, Cristo diz: Tu não quiseste sacrifício nem oferenda, mas preparaste-me um corpo. Não te agradaram holocaustos nem sacrifícios pelos pecados. Então, Eu disse: Eis que venho – como está escrito no livro a meu respeito – para fazer, ó Deus, a tua vontade” (vv. 5-7; cf. Sl 39[40], 7-9). Os sacrifícios do Templo de Jerusalém foram transitórios, ou seja, haveriam de passar. O Filho de Deus Se fez homem e ofereceu a Sua vida pela salvação da humanidade. Por isso, o Autor da Carta aos Hebreus afirma que Cristo, ao entrar no mundo disse: “Tu não quiseste sacrifício (…) mas preparaste-me um corpo”. A palavra “corpo” significa a natureza humana que Jesus assumiu ao Se encarnar no seio da Virgem Maria. Assim, Jesus veio cumprir as promessas do Antigo Testamento, e o Seu sacrifício, realizado no altar da cruz, superou e completou os sacrifícios do Antigo Testamento, que eram celebrados no Templo de Jerusalém. E, assim, Jesus assumiu a natureza humana, tomou um “corpo” e Se encarnou, no seio da Virgem Maria, como hoje celebramos.

O Autor da Carta aos Hebreus estava preocupado com o abandono de alguns cristãos, que voltaram para o judaísmo. Por isso, esta Carta tem como finalidade mostrar que Jesus Cristo cumpriu de forma definitiva as promessas do Antigo Testamento. Por este motivo já não é mais necessário oferecer sacrifícios no Templo de Jerusalém, pois Jesus Cristo, o Filho de Deus, na cruz, operou o sacrifício definitivo para a salvação da humanidade. Por isso, o Autor da Carta aos Hebreus aplicou a Jesus as palavras do Salmo 39: “Não quiseste nem te agradaram sacrifícios, oferendas e holocaustos pelos pecados” (v. 7), e, depois, prossegue: “Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo” (v. 9). E prossegue: “E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre” (v. 10). No altar da cruz, Jesus operou o Seu sacrifício para a salvação da humanidade. Os sacrifícios do Templo de Jerusalém foram abolidos, e o sacrifício de Jesus é atualizado em cada Santa Missa rezada na terra. A oblação do corpo de Jesus Cristo foi feita uma vez para sempre e, em cada missa, esta oblação é atualizada, ocasião que temos de nos alimentar com o Corpo e o Sangue do Senhor, até que Ele venha (cf. 1Cor 11, 26).

No Evangelho, ouvimos o relato da Anunciação do Senhor [que hoje celebramos]. Maria hesita diante da mensagem do anjo, pois, embora noiva de José, ambos ainda não coabitavam. O anjo, então respondeu-lhe fazendo, inclusive, uma confissão na Santíssima Trindade: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo – o Pai dos Céus – te cobrirá com a Sua sombra. Por isso, o Santo – o Filho – que nascer de ti será chamado Filho de Deus” (v. 35). Maria, então, cheia de fé, dá o seu “sim” a Deus: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (v. 38). Maria deu o seu “sim” a Deus e concebeu virginalmente o Filho de Deus, nosso Salvador. Graças à fé de Maria, as portas da humanidade se abriram para que o Emanuel, o “Deus conosco”, Se fizesse homem e nosso irmão, para a nossa salvação. No seio da Virgem Maria, o Filho de Deus assumiu a natureza humana, o “corpo”, do qual falava a Carta aos Hebreus.

Deus nos oferece a salvação, mas conta com a nossa correspondência. Ouvimos na segunda leitura que o Autor da Carta aos Hebreus, por duas vezes, se serviu de um versículo do Salmo 39 para professar que o Pai dos Céus enviou o Seu Filho e que o Filho acolheu o projeto do Pai. Ouvimos: “Eis que venho fazer a tua vontade” (Sl 39 [40], 8; Hb 10, 7.8), que foi o refrão do Salmo responsorial desta Santa Missa. Maria, ao acolher a missão de ser a Mãe de Deus, de forma similar, disse: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. Deus conta com a nossa correspondência, e neste sentido, Maria agiu de forma exemplar, pois deu o seu “sim” a Deus no dia da Anunciação, e neste “sim” perseverou toda a vida. Da mesma forma, Deus espera o nosso “sim”, e espera, também, a nossa perseverança.

Maria teve um papel singular na História da Salvação e na História do Povo de Deus. Ela é a ponte e assinala a transição entre os Antigo e Novo Testamento. Ela é a Filha de Sião que, coroando a longa espera do Povo de Israel, acolheu com o seu “sim” o Salvador prometido, e O concebeu por obra do Espírito Santo. Em Maria, virgem e mãe, o Povo de Israel, o Povo da promessa, se tornou o novo Povo de Deus, o novo Israel, o “Israel de Deus”, a Igreja de Cristo. O “sim” de Maria é reflexo do “sim” de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o nosso Salvador. E nós, membros da Igreja, congregados na fé em Cristo, que é a cabeça da Igreja, nos associamos à obediência de Cristo, vivendo na fé o sentido pascal da Anunciação [que hoje celebramos].

Meus irmãos, celebramos hoje a Solenidade da Anunciação do Senhor. Celebramos o “Natal” do Salvador em plena Quaresma, a nos preparar para mais uma vez celebrar a Páscoa de Jesus Cristo, da qual nos veio a nossa salvação. Hoje voltamos os olhos quando o Filho de Deus penetrou a nossa história, obediente à vontade do Pai, na força do Espírito Santo, para ser o nosso Salvador – “Eis que venho fazer a tua vontade”!   Esta celebração é mais uma das ocasiões que temos para, no itinerário quaresmal, para nos preparar para celebrar o dom da nossa salvação, fruto da Páscoa de Jesus Cristo – que sendo Deus Se fez homem, no seio da Virgem Maria, para ser o nosso Salvador!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

 

Por padre Ari Ribeiro – Doutor em Teologia, pároco da paróquia São Galvão, coordenador da catequese da Diocese de Santo Amaro (SP), membro da Equipe Regional do Ensino Religioso – Regional Sul 1 da CNBB.

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