Respeito à Ordem

Respeito à Ordem

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Respeito à Ordem

Em várias ocasiões abordei a questão da poluição sonora como acinte à saúde, à tranquilidade e à ordem pública, segundo o ordenamento das leis que protegem a vida dos cidadãos de bem. Por que instalar parafernálias sonoras em carros? Porque causa uma sensação de “status”. A zoada é uma forma esguelha de se exibir e mostrar poder. Assemelha-se à fase fálica não resolvida, em busca de identidade e autoafirmação. Não é justo nem é legal eu obrigar os outros, indistintamente, a aguentarem a zoada que eu produzo por diletantismo. Ora, é vedado o uso do fumo para evitar que fumantes passivos absorvam veneno produzido por fumantes inveterados. Semelhante raciocínio cabe à poluição sonora. Lixo cultural irrita. Provoca reações negativas a todos os que vivem em paz. O bem não faz barulho. Barulho não faz bem. Poluição sonora é moda.

A imposição da moda torna-se condicionamento. Inferno é a gente ter que conviver com baderna insuportável. No entanto, convivemos com carros equipados com superpotência sonora, paredes de som, trambolhos de propaganda comercial entupindo o trânsito, lojas com caixas de som, bares, points, casas de show, vizinhos sem noção de direitos e deveres. Até nas igrejas há muita zoada inútil. Órgãos públicos e cidadãos devem articular a ação pedagógica e fiscalizadora. Leis existem, porém não funcionam. No Brasil há leis que não pegam porque são logo desmoralizadas. Há pessoas que se julgam acima da lei. Há apaniguados e autoridades que desqualificam leis em próprio favor. Há quem suborne para não ser imputado. Empresários do ramo salvaguardam seus negócios rentáveis. É difícil autuar casas noturnas, bares, points, boates. O pessoal usa um refrão: “se a lei seca limitar horários e uso de som, ‘milhares’ de empregos serão perdidos”. Corporativismo puro. Peça socorro à Semam que, entanto, não possui uma infraestrutura suficiente para que as leis do silêncio sejam cumpridas.

Poucos de nós ousamos solicitar respeito aos “donos do pedaço”. Tememos represálias e nos inibimos. Nosso drama é precisar do sono merecido após uma jornada extenuante de trabalho. Um médico, psicólogo ou pessoa de bom senso aponta os malefícios trazidos por dias e noites mal vividas, causados pela poluição sonora intermitente. Como organizar uma ação pedagógica permanente, voltada à reeducação civil, evitando que os abusos arbitrários azucrinem a vida dos cidadãos que têm direito inalienável à paz, à tranquilidade na ordem? Para determinadas mentalidades somente a multa salgada fala mais alto do que o bom senso e respeito ao próximo. Duvido que os turistas que venham para a Paraíba gostem de zoada. Antes, fogem dela.

Dom Aldo Pagotto, Arcebispo da Paraíba

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