Papa Francisco na Colômbia: Reconciliação e Criação

Papa Francisco na Colômbia: Reconciliação e Criação

Foto: ACI Digital

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística, nesta sexta-feira (09/09), na esplanada de Catama, em Villavicencio, Colômbia, missa em que beatificou os Servos de Deus Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, Bispo de Arauca, e Pedro María Ramírez Ramos, sacerdote diocesano. A visita papal a essa cidade teve como tema “Reconciliação com Deus, com os colombianos e com a criação”.

O Pontífice deixou Bogotá e se dirigiu de avião a essa cidade. Após 40 minutos, o avião papal aterrissou na Base Aérea Luis Gómez NiñoApiay, em Villavicencio.

Ao chegar à esplanada de Catama, o Papa fez um giro de papamóvel entre os fiéis e a seguir se dirigiu para a sacristia. Participaram da missa cerca de um milhão de fiéis provenientes também das vastas regiões dos Llanos e povoados indígenas, além de vítimas da violência.

Antes da homilia, teve lugar o rito de beatificação dos dois mártires colombianos.
“Com Nossa Autoridade Apostólica declaramos que os Veneráveis Servos de Deus Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, do Instituto de Missões Estrangeiras de Yarumal, Bispo de Arauca, Pedro María Ramírez Ramos, sacerdote diocesano, Pároco de Armero, mártires, que, como pastores segundo o coração de Cristo e coerentes testemunhas do Evangelho, derramaram o sangue por amor ao rebanho que lhes foi confiado, de agora em diante, sejam chamados Beatos, e se poderá celebrar sua festa cada ano, nos lugares e no modo estabelecido pelo Direito, em 3 e 24 de outubro, respectivamente.

Natividade de Maria
A Igreja celebra, nesta sexta-feira (09/09), a festa da Natividade de Nossa Senhora e o Papa se deteve, na homilia, sobre esse tema.

“O seu nascimento, Virgem Mãe de Deus, é a nova aurora que anunciou a alegria ao mundo inteiro, porque de você nasceu o Sol de Justiça, Cristo, nosso Deus.”

“A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, como se irradia a luz suave do amanhecer sobre a vasta planície colombiana, esta paisagem lindíssima da qual Villavicencio é a porta, bem como na rica diversidade dos seus povos indígenas. Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento nos faz intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper.”
Segundo Francisco, “Maria soube ser transparência da luz de Deus e refletiu o brilho desta luz na sua casa, que partilhou com José e Jesus, e também no seu povo, na sua nação e na casa comum de toda a humanidade que é a Criação”.

“No Evangelho, ouvimos a genealogia de Jesus, que não é uma mera lista de nomes, mas história viva, história dum povo com o qual Deus caminhou e, ao fazer-Se um de nós, quis anunciar que, no seu sangue, corre a história de justos e pecadores, que a nossa salvação não é uma salvação asséptica, de laboratório, mas concreta, de vida que caminha. Esta longa lista nos diz que somos uma pequena parte duma longa história e nos ajuda a não pretender protagonismos excessivos, nos ajuda a fugir da tentação de espiritualismos evasivos, a não abstrair das coordenadas históricas concretas em que nos cabe viver. E também integra, na nossa história de salvação, aquelas páginas mais obscuras ou tristes, os momentos de desolação e abandono comparáveis ao exílio.”

O “sim” de Maria
“A menção às mulheres – nenhuma das referidas na genealogia pertence à hierarquia das grandes mulheres do Antigo Testamento – permite-nos uma abordagem especial: na genealogia, são elas que anunciam que, pelas veias de Jesus, corre sangue pagão, que recordam histórias de marginalização e sujeição. Em comunidades onde ainda se arrastam estilos patriarcais e machistas, é bom anunciar que o Evangelho começa por salientar as mulheres que criaram tendência e fizeram história.”

No meio de tudo isto, Jesus, Maria e José.
“Maria, com o seu «sim» generoso, permitiu que Deus cuidasse desta história. José, homem justo, não deixou que o orgulho, as paixões e os ciúmes o lançassem fora desta luz. Pela forma como aparece narrado, nós sabemos antes de José aquilo que aconteceu com Maria, e ele toma decisões em que se manifestam as suas qualidades humanas antes de ser ajudado pelo anjo e chegar a entender tudo o que estava acontecendo ao seu redor. A nobreza do seu coração fez subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; e hoje, neste mundo onde é patente a violência psicológica, verbal e física contra a mulher, José se apresenta como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria. E, na sua dúvida sobre o melhor a fazer, Deus o ajudou a escolher iluminando o seu discernimento.”

“Este povo da Colômbia é povo de Deus; também aqui podemos fazer genealogias cheias de histórias: muitas, cheias de amor e de luz; outras, de conflitos, ofensas, inclusive de morte. Quantos de vocês poderiam narrar experiências de exílio e desolação! Quantas mulheres, em silêncio, perseveraram sozinhas, e quantos homens de bem procuraram pôr de lado amarguras e rancores, querendo combinar justiça e bondade!”

“Que havemos de fazer para deixar entrar a luz? Quais são os caminhos de reconciliação? Como Maria, dizer «sim» à história completa, e não apenas a uma parte; como José, pôr de lado paixões e orgulho; como Jesus Cristo, cuidar, assumir, abraçar esta história, porque nela vos encontrais, todos os colombianos, nela está aquilo que somos e o que Deus pode fazer conosco se dissermos «sim» à verdade, bondade e reconciliação. E isto só é possível, se enchermos com a luz do Evangelho as nossas histórias de pecado, violência e conflito.”

Reconciliação
“A reconciliação não é uma palavra abstrata; se assim fosse, traria apenas esterilidade; antes, distância. Reconciliar-se é abrir uma porta a todas e cada uma das pessoas que viveram a realidade dramática do conflito. Quando as vítimas vencem a tentação compreensível da vingança, tornam-se protagonistas mais críveis dos processos de construção da paz. É preciso que alguns tenham a coragem de dar o primeiro passo nesta direção, sem esperar que os outros o façam. Basta uma pessoa boa, para que haja esperança. E cada um de nós pode ser esta pessoa! Isto não significa ignorar ou dissimular as diferenças e os conflitos. Não é legitimar as injustiças pessoais ou estruturais. O recurso à reconciliação não pode servir para se acomodar em situações de injustiça. Pelo contrário, como ensinou São João Paulo II, «é um encontro entre irmãos dispostos a vencer a tentação do egoísmo e a renunciar aos intentos duma pseudo-justiça; é fruto de sentimentos fortes, nobres e generosos, que levam a estabelecer uma convivência fundada sobre o respeito de cada indivíduo e dos valores próprios de cada sociedade civil».” “Por isso, a reconciliação concretiza-se e consolida-se com a contribuição de todos. Permite construir o futuro e faz crescer a esperança. Todo esforço de paz sem um compromisso sincero de reconciliação será um fracasso.”

Beatificação
O texto do Evangelho, que ouvimos, culmina chamando a Jesus de Emanuel, o Deus conosco. E como começa, assim termina Mateus o seu Evangelho: «Eu estarei sempre com vocês até ao fim dos tempos» (28, 20). Esta promessa se realiza também na Colômbia: Dom Jesús Emilio Jaramillo Monsalve, Bispo de Arauca, e o sacerdote Pedro Maria Ramírez Ramos, mártir de Armero, são sinal disso, expressão dum povo que quer sair do pântano da violência e do rancor.
Segundo o Papa, “neste ambiente maravilhoso, cabe a nós dizer «sim» à reconciliação; e, neste «sim», incluamos também a natureza. Não é por acaso que, inclusive sobre ela, se tenham desencadeado as nossas paixões possessivas, a nossa ânsia de domínio.”

O Pontífice recordou as palavras de um cantor colombiano: “As árvores estão chorando, são testemunhas de tantos anos de violência. O mar aparece acastanhado, mistura de sangue com a terra”.

Segundo o Papa, “a violência que existe no coração humano, ferido pelo pecado, se manifesta também nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Cabe-nos dizer «sim» como Maria e cantar com Ela as «maravilhas do Senhor», porque, como prometeu aos nossos pais, ajuda a todos os povos e a cada povo, ajuda a Colômbia que hoje quer se reconciliar e à sua descendência para sempre”.

Por Rádio Vaticano, Programa brasileiro

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