O sofrimento e a morte de um jovem

O sofrimento e a morte de um jovem

A dor e o sofrimento são realidades que fazem parte da natureza humana. O sofrimento é sempre um mistério diante do qual nós não encontramos respostas para os nossos questionamentos e, se não cuidamos, esquecemos que somos limitados. Quando nos deparamos com o sofrimento e a morte de um jovem, naturalmente surgem em nossas mentes algumas perguntas: Senhor, por que você está nos provando? Senhor, qual será a finalidade deste sofrimento?

Quando um jovem é apresentado à realidade do sofrimento, o chão dos pais e dos familiares é retirado, as possibilidades de futuro são ofuscadas e a vida que parecia ser permanente passa a ser efêmera. Para nós, seres humanos com muitas imperfeições, é difícil entender que o sofrimento de um jovem é sempre mais redentor, é sempre mais transformador. Em termos humanos, o sofrimento e a morte de um jovem é algo fora do normal, uma inversão da ordem, que nos causa espanto. Mas, em termos espirituais, o sofrimento e a morte de um jovem são um claro anúncio da fragilidade da vida e, por isso, mesmo em meio à dor e às limitações físicas, o jovem enfermo, alicerçado na fé e na santidade, é chamado a vislumbrar o amor de Cristo que acolhe em Seus braços todo jovem sofredor.

Um jovem sofredor é um discípulo missionário de Jesus Cristo que sacode a nossa acomodação espiritual. Um jovem sofredor é uma testemunha da Graça habitual que nos faz entender que estamos aqui de passagem, visando o eterno encontro com Deus. Por conseguinte, belo é poder enxergar, em muitos jovens enfermos, o sentimento de generosidade que brota de seus corações juvenis. Belo é também poder perceber que os jovens enfermos, apesar da pouca idade, se tornam adultos e tenros na fé por meio da santificação do sofrimento. A cada novo dia, a cada nova oportunidade de abraçar o sofrimento redentor, os jovens enfermos escancaram diante de nossos olhos a percepção de que a dor, as limitações e o sofrimento são apenas o início de um ciclo de renovação humana e espiritual, a abertura de uma porta da fé que evidencia o reconhecimento de que o Amor autêntico é um tesouro precioso que precisamos cultivar.

O silêncio do jovem enfermo que aprendeu a corresponder ao divino Amor, mesmo em meio à dor, nos faz ver que o Senhor ressuscitado é o Deus próximo de cada doente, com o Qual se pode dialogar, experimentando a alegria da amizade, a esperança nas provações e a certeza de um futuro melhor. Quando um jovem enfermo dá um passo a mais na obtenção da justiça, ele aprende que, ao pronunciar uma oração, ao rezar o terço, ao receber a Comunhão e ao confessar os seus pecados, ele está sendo outro Cristo que está passando pelo mundo e no meio de nós para nos ensinar que a santidade é possível, a santidade é necessária. Deste modo, o jovem enfermo se transforma em um fecundo sinal de unidade, de fraternidade e de caridade.

Quando o jovem enfermo alcança o pleno cumprimento de sua missão de santificar a dor e o sofrimento, ele é convocado pelo Cristo para receber o prêmio eterno no céu, na dimensão invisível da Igreja. Ele se torna um santo, um santo jovem que soube oferecer ao nosso Redentor os cinco pães e os dois peixes que eram precisos para a realização de novos milagres: o milagre do amor que ultrapassa a dor, o milagre da vida que vence a morte, o milagre da luz que supera as trevas, o milagre da páscoa que ultrapassa a sexta-feira da paixão.

De vez em quando, a vida, mesmo que não queiramos, nos faz deparar com a morte de um jovem, nos faz parar para rezarmos uma Missa de corpo presente de um jovem. Claro é que, nesses momentos, tudo o que fazemos parece ser secundário, pois a única coisa que é necessária nessa ocasião é expressar que somos membros da Igreja e a Igreja é Mãe que acolhe, consola, reconforta e abriga. Graças a Deus, vivemos nesse momento o ideal da unidade cristã. Não será esse sinal de unidade já um primeiro sinal, um primeiro milagre operado pelo mais jovem santo da Igreja?

Eu creio e professo que os jovens que são chamados à presença de Cristo são mártires que derramaram lágrimas e sufocaram gritos de dor graças à correspondência ao eterno Amor e, por isso, eu creio que o Senhor Jesus confia a eles as chaves que abrem as portas da vida, pois, de uma maneira singular, os jovens enfermos nos apresentam as questões fundamentais da existência à Luz de Jesus, daquele que assumiu a morte transformando o seu significado.

Jovens enfermos que venceram a morte e hoje estão no céu, nós contamos com a intercessão de vocês no ousado apostolado da juventude! Jovens enfermos que brilham no céu da Comunhão dos santos, nós suplicamos a vocês a graça da nossa perseverança na fé! Jovens enfermos, nós agradecemos por nos ensinar a cantar: “Vê! Quem te elegeu, te ungiu e consagrou, não temas! Nos lábios santos teu nome ressoou. Não te chamou como um servo qualquer, mas com carinho, um filho seu. Te capacitou, toda força te deu, amparou e acolheu. Ergue-te, pois, Deus te fez um vencedor. Celebra a vitória! O Senhor Jesus regressando está! Vitória! Canta com unção tua vida!”

Jovens que alcançaram a tão esperada vitória no bom combate da fé, nós cremos que, graças à intercessão de cada um de vocês, um dia nós iremos nos encontrar no Céu para celebrar as núpcias do Cordeiro. Santos jovens, hoje e sempre, roguem por nós e ensinem-nos a professar a certeza de que “para os que creem em Deus a vida não é tirada, mas transformada!”

Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús de Brasília)

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