Por entre as subidas e descidas do interior paulista, escondem-se trilhas de fé, desbravadas por quem deseja ter um encontro pessoal com Deus ao longo de quilômetros de terra batida e estradas de chão. Quem vê de longe, imagina que aquelas pessoas são pastores, que trazem consigo um cajado para arrebanhar animais no meio dos campos. Sedentos pelo encontro pessoal com Cristo, 12 pessoas se dedicam a percorrer, neste mês de julho, a “Compostela brasileira”. O caminho recebe, em média, 30 mil romeiros por ano. Eles andam por estradas vicinais, trilhas, bosques e asfalto da Serra da Mantiqueira, o que os proporciona momentos de reflexão e fé, de saúde física e psicológica e de integração com a natureza.

De 1º até dia 11 de julho, os jovens se aventuram no interior paulista e vivem uma grande experiência missionária e de espiritualidade, percorrendo, em peregrinação, o trajeto entre o município de Águas da Prata (SP) e Aparecida (SP). São 323 km percorridos a pé, cerca de 30 km por dia. O percurso tem inúmeros obstáculos: pedras, morros altos e íngremes, descidas intensas. Ao lado do grupo, seguem carros de apoio, para fornecer o suporte necessário em caso de enfermidade ou outra necessidade. Mas, nem mesmo para os veículos motorizados o trecho é fácil – é comum que atolem no meio do caminho e sejam puxados por outros veículos, tracionados. O combustível dos jovens, no entanto, é a fé, que os move caminho acima do trecho montanhoso.

Rotina árdua

A rotina de peregrinação é intensa: acordar às 5h30, oração e café da manhã às 6h, saída às 6h30, pausa para almoço às 12h, caminhada até a cidade mais próxima. À noite, os jovens são acolhidos nas paróquias locais e participam de um momento de mística, durante o qual partilham também suas vidas com os jovens das cidades presentes nas paróquias.

À frente do grupo que peregrina, está padre Toninho, assessor da Comissão para a Juventude, da CNBB. O sacerdote conduz os momentos de partilha e espiritualidade. Para o padre, que nasceu no interior de São Paulo e gosta de caminhar, a experiência é única. Ele é o responsável por atualizar as notícias que vêm do Caminho da Fé. “Ontem à noite (segunda-feira, 04)  junto com os jovens da Basílica Nossa Sra. do Carmo, passamos na porta santa após uma celebração penitencial, na cidade Borda da Mata. Tudo que estamos vivendo é inesquecível”, conta.

A cada parada, uma nova surpresa

É justamente nessas pausas, que acontecem em cada uma das 11 cidades do trajeto, que os jovens recebem um novo ânimo para continuar. As paradas são para refrescar os pés, alimentar-se, intensificar o preparo físico e espiritual. Nas cidades, os peregrinos encontram acolhimento, descanso, esperando pelo próximo destino. As paróquias são o refúgio para as almas, que encontram Deus em cada detalhe, em cada gesto.

O que os jovens estão vivendo nesses dias é a mesma emoção: sentem mudar o rumo da vida, o sentido de viver, vivenciam a solidariedade, amadurecem o contato íntimo com o Pai. Para Tiago Brito, de Campinas, a grande expectativa é a do encontro: tanto o pessoal, quanto aquele com o próprio Cristo e com a Virgem Maria, para agradecer as dificuldades superadas e renovar a fé. O caminho,  na opinião de Tiago, está sendo superar limites. Sentiu dores fortes no joelho nos primeiros quilômetros de caminhada, pensou que algumas subidas fossem impossíveis, mas se apegou à oração. “A cada dificuldade  para subir e andar, eu recorria a uma renovação da minha fé, a buscar uma força que, de fato, vinha de Deus para continuar caminhando”.

– “O Caminho nos leva a querer um momento de oração e de espiritualidade. Lembra o caminho dos discípulos de Emaús: muitas vezes nos sentimos solitários, sem esperança, mas quando entramos numa oração contemplativa, a partir do terço, do Creio, da oração para a caminhada, até mesmo no silêncio contemplando a natureza, percebemos que Deus caminha conosco, como Cristo caminhou com os discípulos, e vivemos a alegria de um coração que se aquece”, diz Tiago.

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