Frei Patrício: Como interpretar os sinais de Deus?

Frei Patrício: Como interpretar os sinais de Deus?

Deus não se desgasta no seu amor, Ele permanece sempre jovem, e por isso os nossos olhos estão fixos no futuro, onde teremos novo céu e nova terra.

Deus nos convida a decifrar com atenção o que Ele nos quer dizer ao longo da nossa vida. Nem sempre é fácil fazer esse discernimento a essa leitura, mas com paciência, amor e muita oração conseguimos chegar a uma probabilidade quase certa e moral do que Deus que de nós. Temos, antes de mais nada, a Sua palavra que todos os dias nos é dirigida, a palavra da Bíblia, não é uma palavra qualquer, mas sim uma palavra forte, corajosa, terna, cheia de amor que vem do mesmo Deus, especialmente através dos profetas, e ainda mais de Jesus do que o mesmo pai tem dito: “este é o meu filho bem amado, em quem tenho colocado a minha complacência, escutai-o.” (Mt 17,5). Temos a palavra da Igreja, que com voz firme tenta nos conduzir nos caminhos do bem e nos chama a não nos afastar dos princípios sadios da verdade e da fé, a voz dos santos, que dentro da mesma Igreja assumem uma voz profética, e temos os sinais dos tempos, que nos advertem com clareza qual o momento que estamos vivendo e como o estamos vivendo. São todas as estrelas que aparecem e desaparecem para que nós mesmos com a nossa inteligência e fé possamos escolher o caminho a seguir. Sabemos, porém, que o ser humano muitas vezes se recusa determinantemente a aceitar as luzes que vêm na nossa vida, radicalizamos no pecado e no orgulho, e aí fica difícil.

Convido a cada um a parar um pouco e refletir que sinais temos ao nosso redor e como podemos interpretá-los. As guerras, que todos os dias se tornam mais sofisticadas e matam mais gente; as falsas notícias que correm soltas nos meios de comunicação social; a fome, que mata milhões de pessoas, num mundo cada vez menor que fica mais rico às custas de um mundo cada vez maior, que é sempre mais pobre, sofrido e sem esperanças; um ateísmo que aumenta, não tanto teórico, mas prático, uma religiosidade superficial, um aproveitar-se de Deus para ter uma vida cômoda e dupla… O que tudo isso que dizer para mim e para você? Para mim quer dizer só uma coisa: que devo me converter e ser santo. E para você?

O sinal do arcanjo Miguel

O arcanjo Miguel está presente desde o início da história humana. Deus o coloca como guardião forte na porta do Céu para que defenda a intimidade do Reino rompida pelo pecado. Não quer dizer que São Miguel é aquele que defende Deus, os direitos de Deus. O caminho do homem é sempre uma ruptura da graça e um retorno a Deus, e sempre Deus abre a porta para os que se convertem e mudam de vida. Há momentos históricos em que há soluções que chegam ao ponto de cegueira total, onde é necessário que surja um Miguel divino humano para retomar o caminho da verdade e do amor. Mas nunca existirá um tempo sem santos, sem luz, sem os justos, que serão como estrelas luminosas que voam para indicar o caminho que devemos seguir. Os justos são os profetas, os santos, que com a palavra e a vida se fazem defensores da verdade e da honestidade. O fim do mundo não ontem nem hoje e nem amanhã cedo, nem a meio-dia. O mundo, o pequeno mundo de cada um de nós termina com a nossa morte, é a nossa paresia, o nosso encontro com o Senhor que sempre julga no amor e com amor.

O pecado não dominará o mundo

Na história da salvação há espaço e lugar para a justiça, a liberdade, a conversão, o amor, mas nunca há espaço para o pessimismo e para o mal. O mal faz de conta que domina, parece dominar, mas se olharmos bem toda a história da humanidade podemos ver como os bons são sempre um número muito maior que as pessoas más. Mas o mal age imediatamente, com sua força destruidora. É mais rápido destruir uma casa que construí-la. O autor da Carta aos Hebreus nos apresenta o vencedor de todo o pecado e mal, o sumo sacerdote Jesus, que oferecendo a si mesmo canta o hino da vitória final da verdade do amor. É o caminho que cada um deve seguir, oferecer a si mesmo como uma eucaristia permanente no altar da vida. Onde se tem o perdão pelo pecado não se necessita do sacrifício do pecado. É a nossa esperança de vida no amor misericordioso. Deus enviou o seu filho Jesus para redimir, salvar, não para condenar. Não é otimismo sem juízo, é fé no amor de Deus, mas então quem é condenado? Só os que conscientemente rejeitam a salvação. No mar da vida, tem uma mão estendida, quem se afoga? Só quem recusa tomar a mão que salva.

Ler os sinais da natureza

Jesus gosta às vezes de dizer e não dizer, e deixa para nós a responsabilidade de interpretar. A natureza é um livro aberto. Quando o figo coloca as primeiras folhas verdes todos sabemos que o inverno está terminando e a primavera e o verão vão chegar. Jesus nos recorda que o fim do mundo, pessoal, e de uma nação, de um povo, de uma civilização está próximo, se pode compreender através de sinais. Vou tentar explicar. Quando uma pessoa, como eu, chega a 73 anos não pode esperar que vai ter na sua frente mais 50 anos, ou quem tem uma doença grave e está desenganado pelos médicos pode só esperar um milagre. Como quando um povo está há anos e anos com natalidade debaixo de zero não pode esperar uma juventude nacional… Assim, há sinais que devemos saber compreender, como por exemplo, que o mundo está se desgastando, mas Deus não se desgasta no seu amor, Ele permanece sempre jovem, e por isso os nossos olhos estão fixos no futuro, onde teremos novo céu e nova terra.

Jesus veio e lutou muito para nos dar um mundo melhor, agora cabe a nós continuar a lutar para que este caminho do mundo melhor, mais justo, mais humano possa se realizar não pelas leis, mas sim pela cooperação de todos.

Senhor, estamos caminhando para o encontro contigo, mas enquanto estivermos aqui na terra, devemos lutar para que para quem vem depois de nós possa ter uma sociedade mais justa e mais humana, fecundada pela Evangelho. Ajuda-nos, Senhor. Amém.

Por Frei Patrício Sciadini, OCD

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