Eu não sei ficar parado!

Eu não sei ficar parado!

jovens-usando-ipadTem gente que não para nunca e quando para, sente-se culpado, parece até que está fazendo algo errado, ou deixando de fazer alguma coisa importante. Sente um faniquito, que empurra sempre para o movimento, para o trabalho, para a tarefa. Já viu pessoas viciadas em trabalho? E dona de casa que sempre está limpando, muitas vezes aquilo que já está limpo?

Pois é! Isto é muito mais comum do que se imagina. O problema é que pessoas assim raramente sentem-se satisfeitas. Por mais que façam, quase nunca se sentem realizadas.

Na sociedade atual, na qual as pessoas valem pelo que fazem, consomem e armazenam, incentiva-se muito esta postura: “Você tem que ser o melhor!”; “Você tem que falar várias línguas!”; “Você tem que entender um pouco de tudo!”; Você tem que conseguir dinheiro para comprar isso, aquilo e aquilo!”; “Você tem que ser magro!”; “Você tem que ter os dentes brancos e perfeitamente alinhados!”; “Você tem que ter um corpo sarado!”; “Você tem que ficar famoso!”; “Você tem que comer tal coisa!”; “Você não pode ficar pra trás!”; “Você tem que ser assim, para ser uma boa mãe, bom pai, bom profissional nesta ou naquela área!”; “Você tem que ser de tal forma, para ser aceito!”; “Você tem que ter tal coisa para estar atualizado!” e tantas outras ordens que vão sendo impostas a nós, como se fôssemos um grande fracasso, quando não as cumprimos.

O resultado disto são pessoas cada vez mais estressadas e frustradas, pois as exigências para ser perfeito são tantas, que fica praticamente impossível alcançá-las. E quem disse que devemos ser perfeitos? Estão vendo? Mais uma!

Ficamos perdidos, lutando para obedecer a uma multidão de vozes que nos mandam seguir inúmeras regras. Neste turbilhão de cobranças, nem sequer sabemos o que nos satisfaz, o que queremos ou gostamos realmente. Podemos passar todo o tempo cumprindo obrigações, sobre as quais, se parássemos e refletíssemos um pouquinho, perceberíamos que não fazem sentido algum em nossas vidas.

Vale dizer que a frase do começo do texto contém um erro comum: “Sabe quando você sente que tem alguma coisa para fazer, mas não sabe o que é?” Nós não sentimos que temos algo a fazer; nós acreditamos que temos algo a fazer!

Nós sentimos ansiedade, culpa, medo, tristeza, diante da crença de que temos que fazer alguma coisa para ficarmos bem: de bem conosco, com os outros, com a vida, com Deus, com alguma coisa que nem sabemos o que seja! Na verdade, tudo começa no pensamento, na cabeça. As ordens vêm dela! Por isso, se quisermos melhorar, precisamos identificar o que acreditamos que deva ser feito e desconfiar das ordens impostas a nós. Calma! Não estou incentivando ninguém à subversão. Mas, precisamos ser críticos em relação a tantas imposições.

Quem é você, de verdade? Do que você gosta? O que é importante, realmente para você, para sua vida? Não somos todos iguais, portanto nossas necessidades reais também não podem ser idênticas.

Devemos desconfiar de todo pensamento que começa com uma ordem, que deva ser seguida de forma rígida, impositiva, absoluta. Sempre que começamos uma frase dizendo: “Eu tenho que”, “Você tem que”, “De modo algum” dentre outras, podemos estar caindo numa armadilha. Também é necessário pensar sobre o que acreditamos que aconteceria, se não seguíssemos tais imposições: “Seria terrível!”; “Eu não suportaria!”; “Eu iria passar a maior vergonha da minha vida!”; “Eu seria o maior fracasso!”; “Ninguém iria gostar de mim!”; “Todos iriam me abandonar!” e tantas outras previsões catastróficas que, em grande parte, só acontecem em nossas cabeças!

É claro que seria muito bom que as pessoas sempre quisessem melhorar, evoluir, aprender, oferecer seu melhor e alcançar metas altas e nobres. Mas, não é disso que estamos falando aqui. Essa tirania das obrigações impostas por educadores – diga-se, bem-intencionados, na maioria das vezes – , pela mídia e internalizadas por nós mesmos, pode ser enfraquecida e substituídas por escolhas mais livres e positivas.

Primeiramente precisamos mudar nosso modo de pensar. Ao invés de “Tenho que…” escolhamos “Seria muito bom que …”. “Eu gostaria muito de …”, dentre outras formas mais funcionais de pensar; depois, compreendamos que, se não alcançarmos certos objetivos, o mundo não vai acabar e provavelmente, nada de muito ruim vai acontecer. E se acontecer, somos capazes de suportar, superar e evoluir!

Se você sente uma ansiedade sem explicação, se você fica se cobrando demais o tempo todo, se não se permite descansar e sempre está procurando alguma coisa para fazer, pode ser que você tenha caído nas garras da tirania dos “tenho que”.

Na verdade, só deveríamos dar satisfações e procurar agradar a Deus. Assim, o resto das vitórias e do sucesso, viriam por consequência. Jesus nunca impôs nada a ninguém. Todas as suas propostas são um convite. E, mesmo quando a meta é alta, Ele tem paciência conosco, respeitando nosso tempo de aprendizagem – que por vezes é longo – e não desiste de nós, devido a nossas falhas. Pelo contrário! Ele não exige a perfeição, apenas um coração empenhado, perseverante e acima de tudo, confiante n’Ele. Também não impõe o ativismo; disse a Maria que ela havia escolhido a melhor parte e esta não lhe seria tirada:

“Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: ‘Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim, sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude’. O Senhor, porém, respondeu: ‘Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada’.” (Lc 10, 38-42)

E seu coração, anda inquieto e agitado por muitas coisas?

É falsa a interpretação que diz que Maria era preguiçosa e desejava deixar todo serviço para sua irmã. Isto seria impossível, pois aqueles que se dispõem a acolher a Palavra não ficam parados, sem fazer nada. Pelo contrário, assumem a missão que Deus lhes confia, de forma consciente e responsável. O importante é compreender que na vida há tempo para tudo, inclusive para trabalhar e descansar, fazer muitas coisas e em alguns momentos, não fazer nada.

O Céu é uma escolha, não uma obrigação! Quem nos tiraniza é o inimigo. Deus nos liberta!

Por Pe. Rodrigo Simões

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