Discípulos de Jesucristo: a história de devoção e luta da Igreja de Espanha

Discípulos de Jesucristo: a história de devoção e luta da Igreja de Espanha

A história da fé em Espanha é uma história de luta e fervor, de devoção apaixonada e missionariedade intensa. É uma história com episódios heroicos e algumas tristes máculas.

O campo da estrela

  A Igreja da Espanha Hoje:

 36 milhões de fiéis 

 9 cardeais

 230 bispos e arcebispos

 14 Arquidioceses

 55 Dioceses

 1 Patriarcado Oriental

 1 Ordinariado Militar

 22.686 Paróquias

 18.633 sacerdotes

 49.640 religiosas

 11.466 religiosos

 1.227 seminaristas maiores

 14.000 missionários

Acredita-se que o Evangelho tenha chegado às pradarias da Hispania levado pelo apóstolo São Tiago Maior, o irmão de São João Evangelista. Segundo antigas tradições, São Tiago dirigiu-se à Espanha para evangelizá-la logo após o Pentecostes. No período em que viveu ali, teve visões da Virgem Maria, que lhe apareceu enquanto vivia na Terra, em Éfeso (um fenômeno conhecido como ubiquidade) para confortá-lo nos momentos de desânimo. A aparição mais famosa aconteceu em Saragoça, sobre um pilar, o que origem a uma das mais importantes devoções espanholas: a Virgen del Pilar, padroeira da Espanha.

Mais tarde, outro apóstolo teria visitado a Península Ibérica: São Paulo. O Apóstolo dos Gentios menciona, em sua Epístola aos Romanos (cap. 15), que pretendia viajar para lá. Não sabemos se pôde realizar seu desejo, mas muitos acreditam que sim.

Depois de iniciar a evangelização do país, São Tiago voltou para Jerusalém, onde, no ano 44, foi martirizado (At, 12). Seus discípulos levaram então seu corpo de volta à Espanha e o enterraram num campo da Galícia. Com o tempo, o conhecimento de onde estava a sepultura se perdeu, mas, no século IX, um eremita viu uma luz marcando o lugar exato do sepulcro. Ali o corpo de São Tiago foi encontrado e o local ficou conhecido como Campo da Estrela. Logo começou um culto popular que deu origem à cidade de Santiago de Compostela (que sediou a JMJ de 1989).

A cidade de Santiago tornou-se, ao longo da Idade Média, um dos maiores centros de peregrinação do mundo cristão, com o qual rivalizavam apenas Roma e Jerusalém – fala-se em 250 mil peregrinos por ano por volta do século XII. Várias rotas se organizaram, algumas saindo da França e outras do Norte da Espanha e de Portugal. Surgiu uma tradição que se mantém até hoje, que é de peregrinar a pé até Santiago de Compostela, por percursos que podem chegar a 800 quilômetros, a fim de pedir ou de agradecer por uma graça do santo que, junto da Virgem do Pilar, se tornou o padroeira da Espanha.

Nasce a Espanha católica

Mas antes de surgir a grande devoção a Santiago, a Espanha passou por um momento dramático. No sombrio período das invasões bárbaras, quando o poderio romano desabava e os inúmeros povos germânicos chegavam e se tornavam senhores de tudo pela violência, aconteceu de a Península Ibérica cair sob domínio dos Visigodos, bárbaros que haviam se convertido ao arianismo, a heresia que negava a divindade de Jesus Cristo. Isso aconteceu por volta do século V. A partir daí, começou um período de perseguições e conflitos entre os arianos e os fiéis à verdadeira fé católica, que culminou no drama de Santo Hermegildo, príncipe herdeiro dos visigodos, martirizado pelo próprio pai.

Era filho do rei Leovigildo e nasceu ariano. Converteu-se já adulto ao catolicismo e passou a ser perseguido. Hermenegildo fugiu, mas apresentou-se diante do pai quando foi convidado para a reconciliação. Nesse mesmo dia, porém, foi preso e mantido longamente nas masmorras. Por se recusar a retornar ao arianismo, foi decapitado no Domingo de Páscoa do ano de 585, aos 21 anos de idade. Mil anos depois, foi canonizado e é reconhecido como Padroeiro dos Convertidos.

Houve, no entanto, um último capítulo: no ano seguinte morreu o rei Leovigildo. Subiu ao trono o irmão mais novo de Santo Hermenegildo, Recaredo. Em 589, o novo rei se afastou do arianismo e se converteu ao catolicismo. Nascia ali a Espanha católica.

Conquista e Reconquista

Dois séculos depois, os cristãos espanhóis foram novamente postos a prova: a maior da parte península foi conquistada pelos muçulmanos, vindos do norte da África. Pela graça de Deus, na maior parte do tempo os novos senhores foram tolerantes e não perseguiram os católicos.

A luta contra a dominação, no entanto, não demorou a começar. Muitos cristãos se refugiaram nas montanhas, e houve regiões que os invasores nunca conseguiram conquistar. Tais regiões se transformaram num foco de resistência que, pouco a pouco, foi se fortalecendo.

No século XI o movimento ganhou impulso quando o rei Afonso VI de Castela conquistou o povoado de al-Mudaina, perto do rio Manzanares, que os mouros chamavam de al-Majrit. No local, o rei encontrou uma antiga imagem da Virgem Maria, que passou a ser chamada de Nossa Senhora de Almudena.  Ela se tornou a padroeira dessa cidade, a qual começou a ser chamada pelo nome do rio, que, em espanhol, virou Madrid. Em 1561, tornou-se a capital do país.

No século XII, Portugal conquistou sua independência do mundo islâmico. Na Espanha, a chamada Reconquista progrediu devagar mas sem retrocessos, e mais terras foram sendo retomadas para os cristãos. Até que em 1492 o último reino muçulmano, Granada, foi conquistado e a Espanha se reunificou sob os reis cristãos Isabel de Castela e Fernando de Aragão.

Missionários no Novo Mundo

Mal concluíram o trabalho de Reconquista, que custou nada menos do que sete séculos, os espanhóis lançaram-se a uma nova aventura: a evangelização dos povos. O mesmo ano de 1492 em que a Espanha se unificou foi aquele em que as caravelas de Colombo, a serviço dos reis espanhóis, chegaram à América. Pouco tempo levaria para que as esquadras dos dois países Ibéricos estivessem espalhadas por todos os mares, competindo entre si.

É um episódio complexo, repleto de heroísmo e de vilanias. Portugal e Espanha conquistaram quase todo o continente americano, sem contar várias possessões na África e na Ásia. A todos esses lugares, levaram seu domínio, implantaram regimes de escravidão ou de trabalhos forçados similares, exploraram riquezas e promoveram os massacres que são comuns aos impérios. Mas, por outro lado, Espanha e Portugal deram ao mundo muitas novas nações cristãs.

Nem todos os espanhóis eram Pizarro ou Cortés. Esse é o tempo de Frei Bartolomeo de Las Casas, que defendeu veementemente os índios. É o tempo de Santo Inácio, de São Francisco Xavier e de tantos outros santos, canonizados ou não, que dedicaram suas vidas a levar o Evangelho a todos os povos. Santo Inácio fundou a Companha de Jesus, responsável por tantas conversões no Brasil e em outros países. Outro jesuíta, São Francisco Xavier, levou a Boa Nova à Índia e ao Japão. Muitos deles foram martirizados –  tanto pelos povos pagãos quanto pelos compatriotas espanhóis que não gostavam de sua atuação caridosa junto a esses povos. Juntos,

Santos de Espanha

E quantos não são os santos que a Espanha deu ao mundo? Já falamos de Hermenegildo, Inácio e Francisco. Não nos esqueçamos de São Domingos de Gusmão, fundador de grande ordem dos dominicanos e grande combatente das heresias.

Nem deixemos de falar desses dois santos que tão bem representam a profunda e mística espiritualidade espanhola: os carmelitas São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila. Amigos, foram ambos declarados Doutores da Igreja e deixaram belíssimos textos sobre sua intensa vida de oração.

E houve Santo Isidoro de Sevilha e Santo Ildefonso de Toledo, dois arcebispos do tempo dos visigodos, famosos por sua sabedoria e retidão. E Santo Isidro e Santa Maria de la Cabeza, um casal de santos unidos pelo matrimônio. E ainda, São João de Ávila, São Rafael Arnaiz, São Josemaría Escrivá, e vários outros.

Os cristãos espanhóis deixaram sua marca no mundo. Muito foram os que deram autêntico testemunho de amor a Cristo, que dedicaram a vida à oração, à defesa da Verdade, à difusão e à prática do Evangelho.

Que a Virgem do Pilar e de Almudena, Santiago e São Paulo, e todos os santos espanhóis intercedam pela Jornada Mundial da Juventude e por todos os jovens do mundo, para que eles possam mirar-se em seus exemplos e, eles também, ser firmes na fé, como verdadeiros discípulos missionários de Jesucristo.

Por Moisés Nazário

Foto: Catedral de Nossa Senhora de Almudena, em Madri. Por R. Duran, licenciada Creative Commons

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