“$aúde Pública+”

“$aúde Pública+”

O hospital para onde ele foi levado, está super lotado, seres humanos espalhados pelos corredores, faltam macas, boa parte dos aparelhos estão quebrados, escassez de médicos especialistas, e outros profissionais, tudo muito precário, ambulâncias com pacientes, dos mais distantes lugares, no popular método da “ambulânciaterapia” se acumulam no estacionamento do hospital.

Ainda deitado na maca, que pertence à ambulância, o homem de cabelo longo, agoniza, ao lado de mulheres que estão na parte interna do hospital, acompanhando pacientes. “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim! Chorai por vós mesmas e por vossos filhos. (Lc 23,26-27).

No Brasil temos um modelo de sistema público de saúde, que na (teoria) é um dos mais solidários, e humanizados do mundo.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado, em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, para ser o sistema de saúde dos mais de 180 milhões de brasileiros”. (portalsaude.saude.gov.br)

A constituição do Brasil garante que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF)

Cotidianamente de norte, a sul, do país a imprensa denúncia o sofrimento de quem depende da saúde publica, e as situação enfrentadas pelos profissionais da rede pública de saúde, que trabalham sem condições necessárias para desempenhar suas funções.

Veja o que disse o médico, e apresentador, Dr. Drauzio Varella, em entrevista a Revista “Diversa” da UFMG. “Quando o assunto é saúde pública no Brasil, a tendência é falar mal do sistema, do qual também sou um crítico. Com o dinheiro disponível – que não é muito –, a saúde pública poderia ser muito melhor. Falta dinheiro, mas a gestão é fundamental. Se sua casa é desorganizada, se suas finanças não estão em ordem, não há dinheiro que resolva.”

O dinheiro destinado a saúde pública realmente é (insuficiente), para a grandiosa, e nobre, missão do SUS, se comparando, por exemplo, com os recentes investimentos realizados pelo Governo Federal, em infra-estrutura, para promover eventos esportivos, e publicidades, na justificativa de que o Brasil será visto como uma nação moderna de primeiro mundo.

Não sou opositor a construção de grandes arenas esportivas, nem da realização da Copa de 2014, ou das Olimpíadas 2016, penso que quem deve investir mais recursos nestes negócios, é a iniciativa privada, o governo contribuiria com uma parte bem menor. Dinheiro público em abundância deve ser investido em ações que preservem a vida, e o bem estar do ser humano. Sintetizando o nosso pensamento na frase do Dr. Drauzio.

“No mundo atual está se investindo cinco vezes mais em remédios para virilidade masculina e silicone para mulheres do que na cura do Mal de Alzheimer. Daqui a alguns anos teremos velhas de seios grandes e velhos de pinto duro, mas que não se lembrarão para que servem”.

O desvio de dinheiro destinado a saúde, má gestão, corrupção, (apesar dos mecanismos de fiscalização) são fatos que contribuem para que o SUS, não funcione em sua plenitude, o dinheiro já é pouco, imaginemos o que acontece quando desviado. (permita-me uma observação de protesto! Toda forma de corrupção, especialmente no serviço público, é um câncer, e causa muitos males). “Judas entregou Jesus por 30 moedas de prata” (Mt 26, 14-15)

Como cidadãos (igreja) é nosso dever participar, fortalecer, o Conselho de Saúde local, importante ferramenta na fiscalização, e orientação (políticas públicas), junto à gestão pública.  (conselho.saude.gov.br).

É preciso que os trabalhadores (médicos) da saúde pública tenham dignas, (humanas) condições de trabalho, e recebam salários justos. Mas é preciso também compromisso (sensibilidade) dos profissionais da saúde com seus juramentos, e vocações, respeito com a vida do próximo, em tempo de enfermidade o ser humano está mais sensível, necessitando de cuidados plenos.

Precisamos formar (de verdade) mais médicos, popularizar o acesso as escolas de medicina (mais bolsas de estudos) aos jovens estudantes da rede pública, que tenham vocação pela carreira da medicina (formar mais médicos, não pode ser encarado como um “bicho de sete cabeças”) chega de negligência! Corporativismo!  O exemplo cubano de formação (currículo) de médicos é inspirador, podemos adaptar a realidade brasileira.

Então me dirijo aos jovens, que pensam em seguir carreiras ligadas a área da saúde, ou estão estudando, além daqueles, que estão no exercício da profissão. Pode até soar como romantismo (no atual mundo da concorrência, e materialismo), mas é preciso, necessário, colocar na frente dos cifrões o respeito pela dignidade humana.  “amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (Jo 15,12)

A Igreja Católica do Brasil, em 2012, refletirá através da Campanha da Fraternidade, sobre a (saúde), com o tema (“Fraternidade e saúde pública”). Tema apresentado pela Pastoral da Saúde, respaldado por um abaixo-assinado com 142 mil assinaturas, entregue ao Conselho Episcopal Pastoral da CNBB – Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil.

Deixo uma singela sugestão (provocação), três filmes, que servirão para reflexão na (comunidade), um, dentre eles provavelmente você já assistiu, ou ouviu falar, “O Amor é Contagioso” com Patch Adams, “O Jardineiro fiel” do cineasta brasileiro Fernando Meirelles, e o documentário “Sicho”, (em português, “SOS Saúde”), do norte-americano Michael Moore.  Filmes que trazidos para o “olhar” da realidade brasileira, vão nos ajudar a refletir em nossa “oraAÇÃO”.

A saúde virou um grande negócio, extremamente lucrativo, e globalizado, as indústrias dos planos de saúde, farmacêutica, e atendimento hospitalar, devem ser monitoradas atentamente, a vida humana deve estar (sempre) acima dos cifrões, não na teoria, mas na (prática).

Na unidade, pedimos a Deus em “oraAÇÃO”, inspirados no lema da Campanha da Fraternidade 2012, “que a saúde se difunda sobre a terra! (Eclo 38,8).

 

Por Dado Galvão (documentarista)

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Email